Politica

Com Dilma, relação do Brasil com EUA dá sinais de reaproximação

postado em 18/03/2011 13:12
Nos dois anos que marcaram o fim da era Lula e o início do governo Obama, os dois países viveram um distanciamento pontuado por desentendimentos nas esferas bilateral, regional e global. Nesse período, Brasil e Estados Unidos discordaram publicamente sobre a saída do presidente Manuel Zelaya, em Honduras, a utilização de bases militares pelos americanos na Colômbia e a solução para o problema nuclear do Irã. A ameaça de retaliação brasileira no contencioso do algodão e o reconhecimento unilateral do Estado palestino pelo governo Lula também foram temas que expuseram a crescente desconfiança e as dificuldades de diálogo entre a grande potência e o ;gigante adormecido; ; que despertou para o mundo.

Na visão do governo brasileiro, era inevitável que um maior protagonismo no cenário internacional acarretasse diferenças e embates com os Estados Unidos. A relação é direta: quanto mais o país estiver presente em questões regionais e globais, mais terá de lidar com as divergências de postura entre os dois países. Este, no entanto, é visto como um outro momento. A chegada da presidente Dilma Rousseff ao poder, com declarações mais favoráveis aos Estados Unidos, e a escolha de um chanceler tão próximo a Washington, por si só, parecem ter colocado a relação entre os dois países em outro patamar. A resposta americana veio primeiro com a secretária de Estado, Hillary Clinton, que interrompeu a folga de revéillon para apenas cumprimentar a nova chefe de Estado em Brasília, e se consolidou no mais importante discurso de Obama para seu público interno ; o anúncio da visita a Brasil, Chile e El Salvador, feito no discurso anual sobre o Estado da União.

A expectativa é grande de ambos os lados. Não tanto pelo fechamento de acordos ou memorandos de entendimento, mas pelo desejo de reaproximação, que é manifestado de parte a parte. Em entrevista ao jornal The Washington Post, a primeira que concedeu a um meio estrangeiro depois de eleita, Dilma já disse que tentaria ;estreitar os laços; com os americanos. ;Acredito que os Estados Unidos têm uma grande contribuição para dar ao mundo. E, acima de tudo, acredito que Brasil e Estados Unidos têm um trabalho a ser realizado em conjunto no mundo;, afirmou, ainda em dezembro. Durante a visita do chanceler Antonio Patriota a Washington, no mês passado, Hillary também destacou a importância das parcerias com o Brasil, na América Latina e no mundo. ;O Brasil contribui tanto quando o assunto é o desenvolvimento global, e eu frequentemente cito o Brasil como um modelo. Vamos explorar novos meios de buscar nossos interesses e valores comuns;, afirmou.

Zona de conforto
O trabalho conjunto, aliás, é o ponto seguro da relação, onde o diálogo continuou estável mesmo em tempos de acirramento político e econômico. A cooperação em terceiros países será, inclusive, o tópico que permeará toda a visita de Obama, com acordos em áreas como biocombustíveis, combate à pobreza, saúde e educação. Para a especialista Cristina Pecequilo, da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp), os dois governos estão certos em optar por temas menos espinhosos num momento de reaproximação. ;Eles têm que investir nas áreas confortáveis. Se, em um primeiro encontro, os dois já colocarem na mesa questões como o programa nuclear do Irã, as divergências vão surgir novamente, porque o novo governo também não vai mudar a posição sobre o direito de Teerã ao uso pacífico (da energia atômica);, afirma.

Em conversa com jornalistas, ontem, Patriota não descartou que o tema faça parte das discussões entre os dois mandatários. ;Na medida em que o impasse persiste, a conversa pode prosseguir sobre novas bases;, observou. Na opinião de Peter Hakim, presidente do Inter-American Dialogue, se Obama e Dilma não discutirem os ;problemas e questões cruciais no relacionamento;, a viagem será ;uma perda de tempo;. ;Se eles não conseguirem falar sobre Irã, Honduras, não proliferação nuclear, etanol, tarifas agrícolas em geral e a aspiração do Brasil a um assento permanente no Conselho de Segurança, então a viagem será contraproducente;, avalia.

O momento é de reconquistar a confiança ; dos dois lados. ;É tempo de uma política de ;no surprises; ; ou seja, compartilhar, especialmente nas áreas mais sensíveis, não somente nossos pontos de vista, mas as coisas que vamos fazer dentro de nossa diplomacia;, disse o embaixador americano no Brasil, Thomas Shannon, em entrevista ao Correio, 10 dias após a posse de Dilma. Mas é momento também de o Brasil encontrar o equilíbrio saudável entre uma postura firme e a flexibilidade necessária para não travar o diálogo. ;Talvez tenha faltado um pouco de paciência do Brasil, de esperar os EUA aceitarem o novo papel do país. Eles não vão achar natural o nosso processo de crescimento, então é preciso haver adaptação dos dois lados;, afirma Pecequilo. Para ela, o governo Dilma deverá, porém, manter a política de Estado, mesmo que haja temas divergentes. ;É difícil para os dois lados, mas essa é a hora de trabalhar de forma mais madura.;

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