Politica

Excesso de segurança na visita de Obama a Brasília provoca desconforto

Cerca de 3 mil homens foram mobilizados para proteger o presidente dos EUA e sua comitiva. O rigor da equipe norte-americana chegou a constranger autoridades brasileiras

postado em 20/03/2011 08:12
Para receber o presidente da maior potência econômica do planeta, o Brasil precisou montar uma verdadeira operação de guerra. Tanta preocupação para garantir a segurança de Barack Obama em visita ao Brasil deve-se ao clima de tensão que vivem os Estados Unidos desde o ataque às Torres Gêmeas, em 11 de setembro de 2001. O clima se agravou com o fato de o país fazer linha de frente em duas guerras e, desde ontem, as atenções foram redobradas por conta da onda de ataques militares contra as forças do ditador líbio, Muamar Kadhafi. Os protestos de manifestantes contra Obama no Rio de Janeiro na última sexta-feira também chamaram a atenção dos agentes americanos.

Na região central de Brasília, com as pistas interditadas desde o início do dia, apenas veículos oficiais e o comboio presidencial, que contava com algumas dezenas de automóveis, transitava pela Esplanada dos Ministérios. Para garantir a restrição de parte do céu de Brasília, baterias antiaéreas foram posicionadas em pontos estratégicos e helicópteros militares e das forças de segurança passaram o dia sobrevoando a cidade.

Nem mesmo as autoridades escaparam do forte esquema de segurança montado para receber o presidente norte-americano. Dois dos homens fortes da presidente Dilma Rousseff na Esplanada dos Ministérios demonstraram surpresa com a presença ostensiva de homens armados no Palácio do Planalto. Os ministros Antônio Palocci, da Casa Civil, e Guido Mantega, da Fazenda, se mostraram visivelmente desconfortáveis com a quantidade excessiva de seguranças em meio às autoridades brasileiras. A queixa pôde ser percebida enquanto cochichavam antes do presidente Obama subir a rampa do Palácio do Planalto.

Antes mesmo de aterrissar em solo brasileiro, a operação pente-fino restringia o acesso ao Air Force One. Apenas jornalistas e integrantes da Embaixada dos EUA, além de seguranças, tiveram acesso a área de desembarque de Obama. O grupo foi submentido a uma revista com cães da Polícia Federal e outra por agentes do serviço secreto que usaram detectores de metais. Um segurança americano gritou com os jornalistas que estavam na fila da vistoria, mas foi repreendido imediatamente por uma diplomata do cerimonial do Itamaraty.

Rampa molhada
A preocupação com a segurança de Obama causou momentos de tensão. Por conta da forte chuva que caiu momentos antes da visita, a rampa que dá acesso ao palácio ficou molhada e escorregadia. Depois que a passagem foi completamente limpa e enxugada, assessores de Obama fizeram testes para se certificar das condições de segurança.

Os agentes americanos estavam espalhados por todos os cantos em que Obama circulou, até mesmo entre os jornalistas que faziam a cobertura da visita. No Palácio do Planalto não houve espaço para brincadeira. Os seguranças de Obama agiram rápio ao recolher uma bola de futebol americano que uma equipe de emissora de televisão brasileira tentou dar de presente ao presidente.

Além de transitar em dois carros idênticos, os homens de Obama caminhavam ao lado do presidente americano com olhos fixados no público ao redor e com as mãos próximas as armas cobertas pelo paletó. A expressão em seus rostos era de tensão.

Entre as inúmeras exigências feitas pelo governo americano estava a ordem para que todas as janelas do prédio do Ministério da Saúde, que fica em frente ao Palácio do Itamaraty, estivesse com as cortinas abertas. Em cima dos prédios da Esplanada, atiradores de elites se posicionaram estrategicamente para eliminar qualquer ameaça.

Sempre em inglês, as equipes brasileiras de solo fizeram contatos diretos e permanentes com a segurança de Obama. Um oficial americano foi destacado para orientar e, em caso de imprevistos ou dúvidas, atender imediatamente as solicitações dos brasileiros.

Mais de 3 mil homens participaram do esquema de segurança. Um dos responsáveis conta que 500 homens das Forças Armadas apoiaram os cerimoniais do Palácio do Planalto e do Itamaraty, 250 em cada lugar. Uma das maiores dificuldades foi atender às solicitações de planejamento estratégico do governo americano.

Deu no

THE NEM YORK TIMES
Dilma quer mais

O principal jornal norte-americano destacou a viagem de Barack Obama em sua primeira página, entre as chamadas relacionadas ao conflito na Líbia. A reportagem dos enviados a Brasília, sob o título ;Em meio a crises, Obama aterrissa na América do Sul;, ressaltou as diferenças de tom nos pronunciamentos do visitante e da presidente Dilma Rousseff. ;O extraordinário crescimento do Brasil capturou a atenção do mundo. Os EUA não apenas reconhecem a ascensão do Brasil, nós a apoiamos com entusiasmo;, disse o presidente americano. ;Mas Dilma Rousseff disse que seu país espera mais dos EUA;, relata o Times, que menciona as críticas da presidente ;ao o que chamou de protecionismo americano; e sua advertência de que ;uma ;relação mais profunda; com o Brasil, agora a sétima maior economia do mundo, teria de ser uma ;construção entre iguais;;.


THE WASHINGTON POST
Comando remoto

O outro grande diário dos EUA privilegiou, na cobertura da visita do presidente americano, o acompanhamento permanente da crise na Líbia ; e da situação no Japão ; por parte do presidente. ;Funcionários da Casa Branca enfatizaram que Obama poderia monitorar ambas as situações enquanto viaja. Muitos dos funcionários chaves na área de segurança nacional, como o conselheiro Thomas Donilon, o acompanham no Brasil;, diz a reportagem. O Post cita também a secretária de Estado Hillary Clinton, que reiterou a importância de o presidente ter vindo a Brasília: ;O questionamento de muitos sobre essa viagem ; ;como o presidente pode ir à América Latina com tudo isso acontecendo, do Japão ao Oriente Médio e ao Norte da África?; ; está sendo devidamente respondido;.


CLARÍN.COM
Valores comuns

O periódico argentino destacou, na capa do site, a visita do presidente norte-americano. Deu ênfase à fala em que Obama respalda, ainda que não muito claramente, a intenção brasileira de se tornar integrante do Conselho de Segurança da ONU e exalta o avanço econômico do país nos últimos anos. ;Uma das razões pelas quais vemos com bons olhos a ascensão do Brasil é que temos valores comuns, como a democracia e a inclusão social;, afirmou Obama.


EL MERCURIO
Citação genérica

No site do jornal chileno, o destaque maior era para a invasão das tropas europeias à Líbia, mas, na editoria de mundo, havia uma citação à chegada de Obama a Brasília e ao encontro entre o líder e a presidente Dilma Rousseff. O Chile é o segundo ponto da visita de Obama no giro pela América Latina. O diário ressaltou uma das frases do presidente no Palácio do Planalto. ;Os EUA mantém uma relação próxima e dinâmica com o Brasil. Nosso trabalho conjunto, sempre pautado em valores comuns, tem sido crucial para a construção de um futuro melhor, seja na promoção de direitos humanos, no fortalecimento do desenvolvimento econômico e no combate aos efeitos das mudanças climáticas;.


THEGUARDIAN
Cidade de Deus

O tradicional jornal inglês ocupou a cobertura com dezenas de reportagens sobre a ação aliada na Líbia. Até o fim da tarde de ontem, a única referência à presença de Obama em território nacional era uma matéria publicada no jornal que citava a perspectiva de que o presidente dos EUA visitasse a Cidade de Deus, no Rio de Janeiro, favela que foi cenário do filme realizado por Fernando Meirelles.

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