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Público não consegue ver Obama e reclama do forte esquema de segurança

Era melhor ver na TV O pequeno público perto do Palácio do Planalto foi refém do forte esquema de segurança e não conseguiu nem sequer perceber a chegada do presidente norte-americano ao edifício

postado em 20/03/2011 08:21

Vinicius Sassine
Ana Elisa Santana
Larissa Leite
Sílvia Pacheco

O aceno com a mão de dentro do carro no percurso entre o Palácio do Planalto e o Itamaraty foi praticamente um gesto solitário de Barack Obama. O presidente dos Estados Unidos encontrou do outro lado do vidro do carro e atrás das grades instaladas pela polícia não mais do que 30 brasileiros: os únicos para quem a saudação de Obama se dirigiu. A visita do norte-americano não mobilizou os brasilienses. A subida da rampa do Palácio do Planalto foi acompanhada por apenas 250 pessoas próximas à Praça dos Três Poderes ; que estava fechada ; a uma distância de pelo menos 500m. Depois, no trajeto ao Itamaraty, restaram poucos interessados em ver Obama.

Às 9h de ontem, surpreendendo os visitantes, policiais pediram que todos se retirassem das proximidades da rampa e acompanhassem tudo atrás do cercado instalado ao lado do Supremo Tribunal Federal (STF). ;Ele já chegou ou não?;, perguntavam os presentes. O presidente dos Estados Unidos já havia subido a rampa, e ouvido os hinos nacionais norte-americano e brasileiro ao lado da presidente Dilma Rousseff.

Amanhecer o dia em frente ao Palácio do Planalto para acompanhar a chegada de Obama foi praticamente em vão para todos os presentes. A equipe de segurança ; que incluía policiais militares, integrantes do Gabinete de Segurança Institucional da Presidência e policiais do Exército ; foi a responsável por isolar parte da área. Para boa parte dos populares presentes, a distância havia sido uma ;imposição do Exército americano;.

A exigência de tamanha distância foi um exagero, segundo a assessora Betsey Neal, 43 anos. ;Não foi tão legal ter esse excesso de seguranças. Todos têm o direito de protestar, e aqui não é o caso de protestos violentos.; Com pais norte-americanos e dupla nacionalidade, Betsey votou em Obama. ;Só o fato de ele ser o primeiro presidente negro já é uma vitória.;

O primeiro sinal da chegada de Obama, pouco percebida pelos presentes, foi o soar dos instrumentos dos Dragões da Independência, iniciado às 9h45. A subida da rampa foi imperceptível aos visitantes, mesmo com os tiros de canhões. ;Não vimos nada, nem sabemos se ele veio. Mas quisemos tentar, já que é uma oportunidade única. Ele é especial, por sua cor e pela dificuldade que teve para chegar onde está;, defende a técnica de enfermagem Maria Cláudia de Oliveira, 40 anos.

O público tentou se deslocar depois para a entrada do Itamaraty, mas foi impedido pelo esquema de segurança. Às 13h25, Obama passou em carro fechado e acenou aos poucos presentes. O segurança Altamir da Costa, 49 anos, esperou seis horas para ver Obama na Esplanada. Ele ostentava um boton com as bandeiras dos Estados Unidos e do Brasil unidas na camisa e estava orgulhoso com a presença do primeiro presidente americano negro no Brasil. ;É emocionante ver de perto um homem que representa tantos ganhos importantes para os negros;, disse. ;Se fosse qualquer outro presidente, não estava aqui. Mas é o Obama!”

Ambulantes
Vendedores ambulantes que foram à Esplanada na esperança de complementar a renda voltaram para casa frustrados. O autônomo Mauro Nascimento, morador de Planaltina, não conseguiu vender o quanto esperava. ;Acho que muitas pessoas não queriam a visita dele e por isso nem fizeram questão de vir aqui;, opina. O artesão Gilberto Moreira também vendeu poucas miniaturas dos monumentos de Brasília. ;Deveria ter um espaço para que os brasileiros pudessem ver a cerimônia. Essa segurança toda fez as pessoas desistirem. O movimento não compensou.;


Sósia canta e samba

A alegria dos presentes em frente ao Palácio do Planalto só ocorreu com a chegada de José Maria da Silva, ou, simplesmente, Obama. Com terno e faixa presidencial norte-americana, José chegou no auge da decepção dos visitantes ; depois que o verdadeiro presidente havia entrado no Palácio do Planalto ; e fez o discurso que todos queriam ouvir: ;Vim trazer paz e esperança aos brasileiros. O Brasil precisa de paz. O povo de Brasília é muito bom, estou sendo muito bem recepcionado;. Depois do discurso, ;Obama; deu entrevistas, autógrafos, cantou e até sambou. Após algum tempo de muito assédio, José assumiu a identidade e brincou: ;Fiquei triste por não ver Obama, mas ele vai me ver. O importante é isso;. Aos 56 anos, o garçom do corpo diplomático brasileiro trabalha em embaixadas no país e já serviu os ex-presidentes Luiz Inácio Lula da Silva, Fernando Collor de Mello e Fernando Henrique Cardoso. Questionado se gostaria de servir Obama, a resposta foi positiva: ;Agora só falta ele e a Dilma;. José da Silva tem uma padaria em São Sebastião, chamada Padaria do Obama.

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