postado em 01/04/2011 13:21
A ministra-chefe da Secretaria de Políticas de Promoção da Igualdade Racial (Seppir), Luiza Bairros, considera que as declarações do deputado federal Jair Bolsonaro (PP-RJ) sobre cotas raciais e a possibilidade de um filho se apaixonar por uma mulher negra são ;caso explícitos de racismo;. ;Não podemos confundir liberdade de expressão com a possibilidade de cometer um crime. O racismo é crime previsto na Constituição;, disse Luiza.Para a ministra, ;qualquer caso de discriminação deve ser repudiado;. Ela disse ainda que espera ;firmeza; no posicionamento da Câmara dos Deputados. ;O protagonismo é do Legislativo;, afirmou em entrevista ao programa Bom dia, Ministro, produzido pela Secretaria de Comunicação da Presidência da República (Secom) em parceria com a EBC Serviços.
;Cada setor do Estado e da sociedade deve assumir o seu papel no combate ao racismo. Nós devemos deixar para que a Câmara Federal encaminhe esse caso e tome decisões contra o deputado dentro das instâncias do Legislativo;, falou após participar do programa. ;O crime tem que ser punido e tem que ser combatido em qualquer lugar, principalmente, se ele é cometido em um espaço como o Parlamento brasileiro.;
No início da semana, em entrevista ao programa CQC, da TV Bandeirantes, Jair Bolsonaro disse que ;não viajaria em avião pilotado por cotistas nem aceitaria ser operado por médico [ex-cotista];. Em resposta à cantora Preta Gil sobre a eventualidade de um filho ter envolvimento amoroso com uma mulher negra, o deputado respondeu: ;não vou discutir promiscuidade. Eu não corro esse risco e meus filhos foram muito bem-educados e não viveram em ambiente como lamentavelmente é o teu;.
Luiza Bairros espera que ;o Legislativo tenha capacidade de tomar a decisão mais coerente com o que tem sido discutido pelos movimentos negro e LGBT [lésbicas, gays, bissexuais, travestis, transexuais e transgêneros];, destacou referindo-se a declarações homofóbicas também feitas pelo parlamentar ao programa de TV.
Para a ministra, as declarações do deputado não são surpreendentes no seu conteúdo. ;Nós não devemos ficar assustados com esse tipo de declaração, é isso que o movimento negro tem denunciado nas últimas décadas. O que deixa a sociedade indignada é ela [declaração] ter partido de um deputado federal;, afirmou. Jair Bolsonaro é oficial da reserva do Exército e conhecido por sua defesa à ditadura militar (1964-1985).
Socióloga e ligada ao movimento negro, Luiza Bairros acredita que as manifestações racistas ocorrem na medida em que as pessoas negras vão se deslocando na sociedade e passam a ser vistas em lugares que eram historicamente ocupados por pessoas brancas. ;Isso provoca reação. Para muitas pessoas, parece perda de espaço. Isso demonstra como ser branco na sociedade brasileira implica em determinados privilégios em detrimento dos direitos dos negros em geral;, avaliou.
Durante o programa Bom Dia, Ministro, Luiza Bairros disse que a Ouvidoria da Seppir monitora episódios e denúncias de discriminação e encaminha casos de manifestações racistas veiculadas na internet à Polícia Federal. O telefone da Ouvidoria da Seppir é (61) 3411-3685