postado em 02/04/2011 07:00
A avaliação dos primeiros passos do governo de Dilma Rousseff é mais positiva que a de seus dois antecessores. A percepção popular indica, também, que a presidente já mostra um estilo diferenciado de gestão em relação a Luiz Inácio Lula da Silva. Os freios às altas taxas de aprovação da petista são as áreas de segurança pública, saúde e a economia, este último o setor ao qual ela mais dedicou atenção nos primeiros três meses, marcados por crescimento da inflação e de medidas para conter gastos públicos. A avaliação de governo atingiu 56% de ótimo e bom, contra 5% de ruim e péssimo, segundo pesquisa divulgada ontem pela Confederação Nacional da Indústria (CNI) e realizada pelo Ibope. Esses percentuais são melhores do que os registrados no início dos dois mandatos de Lula e de Fernando Henrique Cardoso. A avaliação negativa é a menor desde a redemocratização.
A popularidade de Dilma chegou a 73%, superior à cifra registrada por Lula em abril de 2007, mas inferior aos 75% que o petista cultivou em março de 2003. Ela é desaprovada por 12% dos 2002 entrevistados em 141 municípios entre 20 e 23 de março. A margem de erro é de 2 pontos percentuais.
A confiança na presidente atingiu 74%, menor apenas do que a alcançada no início do primeiro mandato de Lula. Os dados vêm acompanhados da percepção de que Dilma conseguiu dar uma nova cara à rotina do Planalto, apesar de fazer um governo de continuidade. Do total, 64% responderam que o jeito de governar dela é muito ou um pouco diferente em relação a Lula, contra 39% que disseram não ver distinção. Esses mesmos 64% acreditam que o governo está no mesmo patamar de qualidade do anterior. Outros 12% dizem ser melhor e 13%, pior.
Apreço
Os dados mostram que, apesar do crescimento da inflação e do ceticismo do mercado quanto à eficácia das medidas econômicas para conter os gastos públicos, a população vive uma lua de mel com a nova presidente e, sobretudo, está gostando do jeito dela de governar. Entre as peculiaridades, a decisão da própria presidente de conceder um reajuste maior para beneficiários do Bolsa Família, superando o sugerido pelos técnicos.
A ponderação de Renato da Fonseca, gerente executivo da Unidade de Pesquisa, Avaliação e Desenvolvimento da CNI, é a de que a popularidade de um presidente está ligada à economia. Isso significa que se a inflação alta persistir, a lua de mel pode ser encurtada. ;A avaliação do eleitor tem muito a ver com o momento da economia;, afirmou. Ele ressalta, no entanto, que a boa avaliação do fim do governo Lula contribuiu com os números favoráveis. ;A popularidade, ela herdou de Lula. Manteve parte de sua equipe e adotou a mesma política de governo;, acrescenta Fonseca.
A demonstração de que o governo ainda não conseguiu conter a deterioração da expectativa inflacionária é o mais recente relatório do Banco Central, que indica crescimento menor e alta dos preços neste ano. Desde que tomou posse, o governo Dilma focou os esforços na área econômica: aprovou um salário mínimo conservador, de R$ 545, anunciou corte de R$ 50 bilhões no Orçamento, reduziu a expansão do crédito e podou os estímulos tributários de setores empresariais. Entre os entrevistados pelo Ibope, há um empate entre quem aprova e quem desaprova a política de juros e menos da metade da população dá aval à maneira como a alta dos preços está sendo combatida.
Marcas de independência
Dilma Rousseff elegeu-se com o apoio do mentor político Luiz Inácio Lula da Silva, mas, nestes primeiros meses, imprimiu um ritmo que indica claras diferenças em relação ao mentor.
Irã
A diplomacia internacional foi a primeira demonstração de diferença. Dilma afastou-se do Irã e condenou o abuso de direitos humanos.
Lula pautou-se por uma aproximação com o presidente daquele país, Mahmoud Ahmadinejad.
Comunicação
A presidente manteve a coluna e o programa de rádio semanais instituídos por Lula, mas mostrou-se mais discreta nas entrevistas. No início do governo, mergulhou no trabalho. Não saía sequer para almoçar fora do Planalto.
Sindicalistas
A crise no canteiro de obra do PAC foi mediada, com aval de Dilma, pelo ministro da Secretaria-Geral, Gilberto Carvalho. Antes, o próprio Lula tomava as rédeas desse tipo de conversa.
Mínimo
Na negociação do salário mínimo, Dilma não cedeu um milímetro aos sindicalistas e conseguiu aprovar uma política para os próximos quatro anos. Assim, evitou fazer todo ano uma nova discussão.
Oposição
PSDB e DEM, com a exceção do ex-governador de São Paulo José Serra, têm elogiado Dilma, dizendo que ela não dá sinais de que pretende tratar a oposição como inimiga, como afirmavam que Lula fazia.