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Dilma assiste espetáculo no sábado em Brasília e surpreende o público

Quem assistiu no sábado à peça A Lua Vem da Ásia, no teatro do Centro Cultural Banco do Brasil, se surpreendeu com uma presença ilustre. Misturada entre o público, a presidente Dilma Rousseff era uma das 350 espectadoras do monólogo interpretado pelo ator Chico Diaz e baseado em obra do escritor mineiro Walter Campos de Carvalho. Desde que assumiu a Presidência da República, foi a primeira vez que Dilma prestigiou um evento cultural fora de seu horário de trabalho.

A chegada de Dilma pela porta lateral do teatro surpreendeu a plateia, que não sabia que a presidente assistiria ao espetáculo. ;Causou surpresa, ninguém estava sabendo. Sentei na minha poltrona e notei que estava demorando um pouco para a peça começar, quando fui surpreendida por muitas palmas e Dilma, elegantíssima e sorridente;, supreendeu-se a bióloga Eni Braga, 37 anos. Ela garante que chegou ao teatro sem notar nenhuma movimentação diferente.

A bióloga relata que as luzes já estavam baixas quando a presidente entrou no teatro, acompanhada pelo governador da Bahia, Jaques Wagner, e a primeira-dama do estado, Fátima Mendonça. ;As pessoas levantaram e a aplaudiram. No final, muita gente assediou Dilma, ela foi simpática, cumprimentou a todos, tirou fotos;, disse a bióloga, também atriz amadora nas horas vagas.

Emocionado, o ator Chico Diaz fez uma das melhores apresentações de sua vida, segundo o produtor da peça, Wagner Uchôa. Ao final da peça de uma hora e quarenta e cinco minutos, ele agradeceu ao público, aos patrocinadores e, especialmente à presidente, ao ressaltar a importância de sua presença para o teatro brasileiro. Ele credita a ida de Dilma à obra do escritor Campos de Carvalho, de quem, segundo ele, a presidente é fã. Segundo a produção, ela ocupava uma poltrona junto do público, na terceira fileira. ;É uma alegria ver um belo gesto como esse de ela prestigiar uma peça de teatro, demonstra a arte como uma possível ferramenta de transformação da sociedade;, disse Chico Diaz.

Depois da peça, Dilma foi ao camarim. Por cerca de meia hora, conversou com o ator. O assunto passou por teatro, literatura e cinema. ;Conversamos sobre a peça, o livro e as impressões dela. Senti Dilma muito favorável ao que viu;, comemorou Chico Diaz. A peça estreou em Brasília em 11 de março e foi assistida por mais de 5 mil pessoas até ontem, o último dia de apresentação na cidade. A presidente foi avisada sobre o espetáculo pelo secretário-executivo da Casa Civil, Beto Vasconcelos, que teria ficado encantado com o que viu ; ele assistiu A Lua Vem da Ásia em março.

Quando Beto comentou que a peça era baseada em obra de Campos de Carvalho, a moradora do Palácio da Alvorada teria dito que ;adora o autor;. Ela então pediu que sua assessoria convidasse Chico Diaz para um encontro no Palácio do Planalto. Na última sexta-feira, Dilma recebeu o ator e terminou a conversa convidada para assistir à peça.

No sábado, quatro seguranças da Presidência da República fizeram uma inspeção no teatro, quando Dilma avisou à produção que assistiria ao espetáculo. Segundo relatos de pessoas que estavam no CCBB, não houve tumulto e nem reforço da segurança no local. Ela recusou até o carro oficial. O diretor teatral, José Regino Oliveira, contou que Dilma foi bastante atenciosa com o público. ;Ela chegou com a máxima discrição possível, não queria ocupar um espaço que não era dela. Se ela for ao teatro uma vez a cada seis meses será muito bom para ela e para a arte brasileira;, sugeriu.

Autor de romances
Nascido em Uberaba (MG), em 1916, o escritor Walter Campos de Carvalho formou-se em direito na década de 1930 e se aposentou como procurador do Estado de São Paulo. Ele ficou marcado, porém, como autor de romances hoje considerados marcos da literatura brasileira, como A Lua Vem da Ásia, de 1956, e A Chuva Imóvel, de 1963, obras que foram inclusive traduzidas para o francês. O escritor foi colaborador do jornal O Pasquim entre os anos de 1968 e 1978. Mas foi só em 1995, três anos antes de morrer, com a adaptação de O púcaro búlgaro, que Campos de Carvalho teve uma peça transformada em um sucesso teatral.