Politica

100 dias de Dilma: popularidade em alta, turbulências à vista

Ivan Iunes
postado em 10/04/2011 08:00
<b>A POSSE E O CORTE </b><Br>A presidente assumiu o Planalto e submergiu em reuniões palacianas. O primeiro grande anúncio foi o corte de R$ 50 bilhões no Orçamento: herança de Lula
Com 1.361 dias à frente, o governo da presidente Dilma Rousseff enxerga no horizonte um cenário de turbulência econômica, impulsionado pela verve gastadora de seu mentor político Luiz Inácio Lula da Silva. A herança é responsável por dar um quase nó na política social voltada para a erradicação da miséria. Ao completar 100 dias, marca simbólica que assessores e ministros rejeitam, o governo ainda se debate para encontrar a afinação ideal entre a popularidade nas alturas e a necessidade de se tocar nas feridas até aqui colocadas: inflação em disparada, queda vertiginosa do dólar e reformas que fazem arrepiar quase todos os 594 parlamentares do Congresso Nacional.

No campo político, a eterna disputa travada por PMDB e PT dá sinais de que seguirá latente, embora o Legislativo confirme a aparente submissão ao Planalto. Nesse período, o governo tirou o pé de propostas ambiciosas e urgentes, como as mudanças nos sistemas tributário e político. O excesso de zelo, elogiado pela oposição, deixou os adversários em igual estado de espera, para não serem acusados de precipitar uma disputa política que Dilma ainda não se mostrou disposta a comprar.

Os palacianos adotaram a aprovação pessoal da presidente como marca para comemorar. ;Nestes 100 dias, o governo demonstrou estar obtendo sucesso com a população que pode ser verificado nas pesquisas, que apontam aprovação recorde. Isso significa que o governo está no rumo e que a presidente conduz corretamente a gestão;, analisa o vice-presidente Michel Temer.

A alta popularidade foi conquistada graças a um rescaldo da herança de Lula e na esteira de vitórias importantes no Congresso, como a política de correção do salário mínimo para os próximos quatro anos. Até o fim de 2014, ela tem 12 áreas como desafios: melhorar o desenvolvimento econômico; erradicar a pobreza; criar um sistema confiável de Defesa Civil; aprovar o Código Florestal; realizar, sem incertezas, a Copa do Mundo; incrementar Educação, Saúde e Segurança; energia; Previdência; reforma tributária e lidar com uma nova agenda internacional.

Para alcançar esses pontos, o governo quer se livrar o quanto antes do legado de gastança pública. No Planalto, esse primeiro período ainda é considerado de transição. Para completar, existem nós atados durante a eleição de 2010 ; a acomodação de aliados em cargos de segundo escalão é a principal pendência (leia mais na página 4). E há ainda um estoque de medidas provisórias e leis do governo anterior não aprovadas. Enquanto não liquidar esse passivo, Dilma avalia não haver saído da transição.

A presidente orientou o governo a não tratar os 100 dias como marca. Ela pretende fazer o primeiro balanço apenas em agosto, quando conclui a primeira avaliação do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC). Ela já recomendou a vários ministérios que concluam levantamentos de execução do PAC no fim de junho e remetam tudo ao Planalto. Feito isso, ela fará a análise dos resultados de cada um em julho, para anunciar os resultados em agosto.

;A presidente vai bem, mas o governo, não. O Brasil de Dilma de 2011 é outro. Não é o de Lula de 2010. Precisamos de ações que o governo não sinaliza, não há reformas à vista;, afirma o cientista político Carlos Mello, do Instituto de Ensino e Pesquisa (Insper). Para Leonardo Barreto, cientista político da Universidade de Brasília, Dilma precisa definir qual é sua macroagenda antes do fim do primeiro semestre. ;Ano que vem é eleição. Se deixar para frente, ela vai ser criticada. O momento é agora, que conciliaria uma popularidade alta, uma oposição enfraquecida e disponibilidade para o novo. O bonde passa até julho;, afirmou.

Termômetro
O principal feito do governo foi o anúncio de cortar o Orçamento em R$ 50 bilhões, o maior da história, para conter a escalada dos preços que tem origem na alta internacional de alimentos. No acumulado de 12 meses, a inflação está perto de 6,5%, o teto da meta. ;É preocupante o governo usar remédios que não estão dando certo contra a volta da inflação. Ele está tratando da febre quebrando o termômetro;, afirmou o presidente do DEM, senador José Agripino (RN).

O líder do governo na Câmara, Cândido Vaccarezza (PT-SP), minimizou as turbulências e disse que Dilma tem como orientação transformar o Brasil em uma das cinco maiores economias do mundo. ;O investimento voltou a crescer com força no início de 2011 e os números indicam que a expansão da capacidade produtiva segue firme. A presidente deu início ao seu governo apresentando disposição no front fiscal, um dos pilares da política de combate à inflação. O superavit primário acumulado no primeiro bimestre foi de R$ 25,6 bilhões;, afirmou o petista.

A presidente da República pautou suas decisões na área econômica. Com isso, ganharam força o ministro da Fazenda, Guido Mantega, e o aconselhamento de Antonio Palocci, o todo-poderoso chefe da Casa Civil.

<b>TIO SAM NO QUINTAL </b><Br>Na visita do presidente Barack Obama, reforçou o pedido por uma vaga fixa no Conselho de Segurança da ONU. Em troca, apenas um sinal de

Pés no chão
A todos os ministros com quem tem conversado diretamente, Dilma é incisiva, repetindo uma frase que já havia dito ao longo da campanha: ;Não prometam o que não puderem cumprir. Só se comprometam com o que puderem liberar;.

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