postado em 14/04/2011 07:08
O anúncio da empresa Foxconn de investir US$ 12 bilhões no Brasil, divulgado pelo governo federal em plena visita da presidente Dilma Rousseff à China, foi recebido com ceticismo pelos mercados de tecnologia da informação e eletroeletrônico. O aporte teria dois objetivos: uma nova fábrica e uma linha de montagem específica para iPads, em parceria com a Apple.
Especialistas citam que o valor divulgado não condiz com a instalação de uma linha de montagem que agrega em um aparelho materiais importados. Eles avaliam ainda que a cifra supera de longe a estimativa que se faz para que o Brasil tenha uma indústria de alta tecnologia com componentes produzidos em território nacional. Apesar das críticas, os analistas dizem que se a Apple, em parceria com os chineses, começar a montar o iPad no Brasil, o preço tem uma queda imediata de cerca de 30%.
O presidente da Associação Brasileira da Indústria Elétrica e Eletrônica, Humberto Barbato, está cauteloso quanto aos dados apresentados, incluindo a possibilidade de geração de 100 mil empregos com o tamanho de investimento previsto. ;Esses números estão extremamente inflados. O setor hoje emprega 175 mil pessoas de maneira direta. Uma única empresa poderá vir a empregar 100 mil? Por exemplo, vamos ter grande dificuldade de encontrar 20 mil engenheiros para a Foxconn porque existe uma carência de mão de obra especializada no Brasil;, afirmou Barbato.
O professor Yann Duzert, coordenador do MBA Global Premium da Fundação Getulio Vargas sobre Brics, com foco na China, concorda com a dificuldade de se encontrar mão de obra especializada para tanta demanda. Ele disse, no entanto, que a intenção da Foxconn vai ao encontro da meta do governo federal de baratear o custo do computador e de aparelhos tecnológicos. ;O conceito de abastecer o Brasil com produtos eletrônicos mais baratos, por meio de estímulos fiscais, para se ter um computador popular parece ser factível;, afirmou Duzert.
Oportunidades
O ceticismo do setor deve-se ao valor expressivo anunciado. Segundo Barbato, seria necessário um investimento de cerca de US$ 4 bilhões para se instalar uma fábrica de semicondutores no Brasil com capacidade de produzir e não apenas uma planta para montar materiais de alta tecnologia. ;Há muitos anos tentamos trazer uma fábrica de componentes semicondutores, que custa de US$ 3 bilhões a US$ 4 bilhões. São muitos números apresentados que não fecham na lógica do mercado brasileiro;, afirmou Barbato.
[SAIBAMAIS]A Foxconn divulgou ontem um comunicado que não cita nenhum valor de investimento, nem que irá produzir o tablet da Apple. ;Guiados pela estratégia de estar onde o mercado demanda, estamos há muito tempo estudando oportunidades de investimento no Brasil. Atualmente, estamos em processo de explorar oportunidades nesse importante mercado e conduzindo uma análise profunda do ambiente de investimento do país;, consta no comunicado da empresa. Até agora os dados foram divulgados pelo governo brasileiro.
O consultor de Tecnologia da Informação, Ivair Rodrigues, da IT Data, considera os números irreais. ;Os US$ 12 bilhões são o dobro do faturamento mundial deles (da Foxconn). E não está se falando em produção, mas de montagem, com componentes importados;, afirmou Rodrigues.