postado em 24/04/2011 09:22
O governo Dilma Rousseff começou com ventos favoráveis e segue sem arranhões causados por discursos, análises ou estratégias da oposição. Ainda atordoados pela redução sofrida nas urnas em 2010 e pela demonstração de que a massa de brasileiros aposta nas políticas dos petistas, os partidos oposicionistas têm gasto energia tentando evitar feridas internas e aberto cada vez mais brechas que só aumentam as forças do governo federal. Abalados pelas divisões causadas pelos interesses pessoais de integrantes das legendas e pelas estratégias de sobreviver politicamente, os oposicionistas têm tido cada vez mais dificuldade de perceber quais são os contrapontos ideiais aos planos governistas.Para os opositores, uma das maiores falhas neste início de mandato de Dilma é a falta de fiscalização efetiva nos programas do governo. Como a maioria deles tem grande apelo social, alguns parlamentares optaram por não atacá-los, evitando o risco de sofrer desgastes nos redutos eleitorais. ;A ideia não é atacar os bons programas. Mas precisamos fiscalizar melhor e denunciar as falhas desses programas, que são muitas. Só assim vamos poder atuar verdadeiramente como contraponto ao que tentam vender como sendo um mar de rosas;, avalia o presidente do DEM, José Agripino Maia (RN).
Mas as falhas apontadas pelos oposicionistas não se restringem à fiscalização de programas. Grande parte deles afirma haver erros no aprofundamento de discursos críticos e estudos técnicos que comprovem dados e desvantagens das propostas do Executivo. ;Não entendo a oposição. Ela não consegue mostrar qual a desvantagem das propostas que discutimos a pedido do governo. Faz um discurso vazio, incapaz de reverter a posição de algum dos nossos aliados. Deve ser por isso que andam perdendo gente;, espezinha o deputado Silvio Costa (PTB-PE). Para piorar, o número de parlamentares eleitos e de governadores do PSDB, DEM e PPS caiu nas três últimas eleições (leia quadro nesta página).
Culpado
Entre os tucanos, a avaliação é de que a maneira como a campanha presidencial de José Serra foi tocada acabou como gatilho que precipitou a desordem dentro do partido, enfraquecendo a oposição ;sobretudo o DEM ; e acelerando a criação do PSD, capitaneado pelo prefeito de São Paulo, Gilberto Kassab. Serra centralizou as decisões, não dividiu poderes com os partidos aliados e inflamou os correligionários mais próximos de que a vitória era possível e, bem no começo da corrida eleitoral, provável.
Agora, segundo tucanos, ele impõe obstáculos para sair de cena e cria atritos no comando do partido, que hoje está com o deputado Sérgio Guerra (PSDB-PE). O governador de São Paulo, Geraldo Alckmin, tenta empurrar o correligionário para a disputa pela prefeitura de São Paulo no ano que vem, mas Serra já avisou que não pretende entrar na briga.
Na avaliação do deputado Jutahy Junior (PSDB-BA), colocar a culpa na atuação do Serra é ignorar a importância que foi provocar o segundo turno e reduzir o foco do PT nas campanhas dos estados. ;Quem fala esse tipo de coisa esquece que se não fosse ele (Serra) a ocupar os espaços na disputa contra a candidata do Lula, os esforços petistas iriam para os estados e não teríamos conquistado os governos que conquistamos. A dificuldade do nosso partido e da oposição como um todo, não tem a ver com o Serra. Tem a ver com a cultura e os interesses de quem só sabe ficar perto do poder;, opina.
Avaliação
O artigo do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso divulgado na semana passada, de acordo com a avaliação dos tucanos, declarou o óbvio ao falar que o partido deve mirar na classe média ; assim como o PT está fazendo com Luiz Inácio Lula da Silva e a presidente Dilma Rousseff;, mas extrapolou ao dizer que o se o ;PSDB e seus aliados persistirem em disputar com o PT influência sobre os ;movimentos sociais; ou o ;povão;, isto é, sobre as massas carentes e pouco informadas, falarão sozinhos;. Para alguns tucanos, mesmo sem querer, Fernando Henrique reforçou a tese de um PSDB elitista.
Serra continua na arena política tentando se manter como referência da oposição, ao lado de Aécio Neves, senador por Minas Gerais, e Alckmin. O problema hoje, para qualquer um dos três, é a redução sentida e temida pelos políticos que integram a oposição e pelos que já atenderam aos apelos das vantagens oferecidas pelo poder, migrando para o recém-criado PSD.
Para a senadora Kátia Abreu (PSD-GO), que abandonou o DEM, há uma preocupação generalizada com o encolhimento das legendas oposicionistas. Tanto que, segundo ela, até o líder do Democratas Antonio Carlos Magalhães Neto (BA) chegou a confidenciar que, se notar que a legenda pode encolher ainda mais, uma saída seria o PSDB. Um sinal de que os ventos sopram contra a oposição e até as lideranças mais empenhadas em criar estratégias para sobreviver temem pelo futuro das legendas.
Dificuldades
Confira o desempenho de partidos de oposição nas três últimas eleições
Senadores
Partido 2002 2006 (*) 2010
PSDB 8 5 5
DEM 14 6 2
PPS 1 1 1
Deputados federais
Partido 2002 2006 (*) 2010
PSDB 70 66 53
DEM 43 65 84
PPS 15 22 12
(*) Eleição de um terço dos senadores (uma vaga por estado).
Governadores
Partido 2002 2006 (*) 2010
PSDB 8 6 7
DEM 4 1 2
PPS 2 2 1
Obs.: Nas eleições de 2002 e de 2006, o DEM concorreu com o nome da antiga sigla, PFL.