postado em 13/05/2011 08:06
As discussões sobre o novo Código Florestal deixaram à mostra feridas abertas ao longo dos anos e a desafinação de líderes partidários da base com o governo. Nas tentativas de costurar acordos, e diante da necessidade de contar nos dedos os aliados, o Planalto se deparou com atuações pouco convincentes e agora paga o preço das próprias escolhas. Um dos buracos surgidos durante as negociações envolve o líder do PT, Paulo Teixeira (PT-SP), e o comando palaciano.A atuação do petista foi criticada em conversas de governistas do primeiro escalão durante as tentativas de acordo. O ministro da Casa Civil, Antonio Palocci, comentou que o líder não se empenhou como devia nas discussões em torno do tema e abriu muitas brechas para que deputados ruralistas do partido fizessem pregações contrárias às pretensões governistas. O petista também foi enquadrado quando anunciou que iria desistir da briga na Câmara e mandar o debate para o Senado. As declarações foram interpretadas como a tentativa de lavar as mãos e evitar o próprio desgaste dentro da bancada.
O modo de operar do líder petista também não tem agradado ao líder do governo, Cândido Vaccarezza (PT-SP), que não tem encontrado nele o amparo para impor a vontade do Planalto aos seus liderados. Os próprios petistas que ensaiavam resistências às ordens governistas comentam que Teixeira ouvia a todos e estava respeitando as questões regionais.
Quem também tem demonstrado incômodo nas relações com o Planalto é o líder do PMDB, Henrique Eduardo Alves (RN). Ao receber a ordem de última hora de trabalhar pelo adiamento da votação do novo código, Alves disse imediatamente que não o faria. Minutos depois, mudou de ideia e anunciou a mudança, afirmando estar contrariado. No plenário, se queixou a peemedebistas das imposições, mas ressaltou que obedecer naquela hora era uma forma de mostrar a importância do partido.
Duas horas antes, o líder peemedebista já tinha enfrentado o governo ao anunciar que votaria contra a possibilidade de edição de decreto presidencial para regulamentar áreas de preservação permanente. Foi preciso um telefonema insistente de Antonio Palocci para convencê-lo. Na conversa, o ministro pediu um voto de confiança que, ao que parece, Alves aceitou dar. Em jogo nessa negociação estão dezenas de cargos do segundo escalão pleiteados pelo PMDB.
Barganha
Fora da disputa que envolve o poder e a barganha palaciana, divergências antigas se tornaram públicas. Uma delas, contida e somente pronunciada nas mais reservadas conversas, envolve a ex-ministra Marina Silva e o deputado Aldo Rebelo (PCdoB-SP), que também foi ministro no governo Lula.
Depois de saber que, por meio do Twitter, a ex-ministra disse que ele havia colocado ;pegadinhas; no texto da nova legislação ambiental, o parlamentar atacou a ambientalista. ;Quem fraudou contrabando de madeira foi o marido de Marina Silva. Ele foi defendido por mim nesta Casa, quando eu era líder do governo e evitei o depoimento dele.; Rebelo se referia ao ano de 2003, quando atuava na liderança e recebeu a missão de abortar o movimento de deputados da Comissão de Fiscalização e Controle da Câmara para investigar o marido da então ministra do Meio Ambiente.
As acusações eram de que o técnico agrícola Fábio Vaz de Lima estaria envolvido com uma doação irregular feita pelo Ibama. O órgão doou 6 mil toras de mogno apreendidas para a ONG Fase, que é uma das integrantes do Grupo de Trabalho Amazônico, do qual o marido de Marina era integrante. De acordo com o relatório do Tribunal de Contas da União (TCU), a doação ignorou os princípios da isonomia, da impessoalidade e da publicidade.
Depois de lembrar o caso publicamente, Aldo Rebelo se dirigiu para o canto do plenário onde um grupo de deputados o olhava atônito. ;O que foi? Não sabiam?;, reagiu.
Defesa de Marina
A bancada do PV na Câmara divulgou ontem uma nota de desagravo para defender a ex-ministra do Meio Ambiente Marina Silva. Durante a discussão do novo Código Florestal, o relator, deputado Aldo Rebelo (PCdoB-SP), citou o suposto envolvimento do marido de Marina com uma ONG que recebeu lotes de madeira ilegal. O líder do partido, deputado Sarney Filho (MA), disse que a tensão em torno do debate do código fez com que denúncias infundadas fossem retomadas. Em nota, o PV afirma que o deputado sabe que as acusações eram falsas. Presente na coletiva, Marina Silva classificou o caso de ;cortina de fumaça;, cujo objetivo seria retirar o foco do debate sobre as mudanças na lei ambiental.