Agência France-Presse
postado em 09/06/2011 15:51
ROMA - A decisão do Brasil de libertar o ex-ativista de extrema-esquerda italiano Cesare Battisti foi classificada de "infame" pelos parentes de vítimas do terrorismo na Itália. "Foi como receber um soco no estômago", afirmou Alberto Torregiani, representante de uma associação de vítimas do terrorismo italiano falando à emissora pública Rai."Saber que Battisti está livre para mim é como ser socado no estômago", repetiu. "Eu já esperava, mas uma coisa é pensar isso e outra é ver com os próprios olhos", enfatizou Torregiani, filho de Pierluigi, um joalheiro assassinado em 1979 em Milão, em um atentado reivindicado pelos Proletários Armados pelo Comunismo (PAC), o grupo que Battisti liderava. "Desta vez é uma sentença quase absoluta", afirma Torregiani, que ficou paraplégico durante o atentado por uma bala disparada pelo próprio pai.
[SAIBAMAIS]"A decisão foi tomada com muita vontade. Uma vontade que surpreende, algo infame, um absurdo em qualquer civilização", acrescentou.
Torregiani aprova a posição da Itália de apresentar um recurso ao Tribunal Internacional de Haia e espera organizar manifestações de protesto em toda a península. "Ele está livre, pode andar por onde quiser, mas como é um bandido, vai se esconder", afirmou. "Creio que os cidadãos italianos devem manifestar sua indignação. É preciso mandar um sinal forte para o Brasil e o mundo inteiro. Porque a justiça não pode ser pisoteada pelos juízes amigos do amigo", acrescentou.
A Itália manifestou nesta quinta-feira indignação e revolta com a decisão do Brasil e anunciou que apresentará um recurso à Corte Internacional de Justiça de Haia.
O primeiro-ministro italiano, Silvio Berlusconi, expressou "grande desgosto" com a decisão do Supremo Tribunal Federal (STF) a favor da libertação de Battisti. "Não se leva em consideração a expectativa legítima de que se faça justiça, em particular para as famílias da vítimas de Battisti", lamentou Berlusconi em um comunicado oficial.
O presidente da Itália, Giorgio Napolitano, também condenou a decisão do Brasil e anunciou que apoiará qualquer recurso de Roma para tentar reverter a situação. A decisão do STF "prejudica gravemente" os acordos assinados entre Itália e Brasil, afirmou Napolitano em um comunicado.
A Itália exigia a extradição de Battisti para que cumprisse a condenação à prisão perpétua no país, por suposta participação em quatro assassinatos cometidos na década de 70, nos chamados "anos de chumbo", quando era integrante de um grupo armado de ultraesquerda.
O ;caso Battisti; se arrastava nos tribunais brasileiros desde que o italiano foi detido no Rio de Janeiro em março de 2007. Battisti passou a maior parte dos últimos quatro anos na penitenciária da Papuda, a 25 km do centro de Brasília, de onde foi libertado na madrugada desta quinta-feira.
Battisti é reclamado pela Itália depois de ter sido condenado em 1993, à revelia, à prisão perpétua por quatro assassinatos e cumplicidade de assassinato, crimes dos quais se declara inocente.
A batalha da Itália para que Battisti cumpra a condenação não acaba com a decisão do STF, já que o país espera levar o caso ao órgão judicial da ONU, por considerar que foram violados os acordos entre os dois países.