postado em 11/06/2011 09:07
No dia seguinte à saída de Cesare Battisti da prisão, o inconformismo da Itália com a não extradição do ex-ativista ficou evidenciado por protestos realizados em frente à embaixada brasileira de Roma, onde funcionários tiveram de receber escolta policial para ingressar no prédio, localizado na Piazza Navona. Também ontem, o governo italiano convocou o embaixador do país no Brasil, Gherardo La Francesca, para dar explicações sobre o entendimento do Supremo Tribunal Federal (STF), que manteve a decisão do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva de não extraditar Battisti.
A manifestação em frente à representação brasileira, liderada pelo movimento de centro-direita Jovem Itália, contou com a participação da ministra da Juventude, Giorgia Meloni. Nas ruas de Roma, o sentimento é de que o Brasil humilhou a Itália, conforme relatou ao Correio uma brasileira que vive naquele país. Durante todo o dia, manifestantes gritaram em frente ao Palácio Pamphilj, sede da embaixada, e tentaram intimidar brasileiros que chegavam para trabalhar. ;A sensação geral é de traição, decepção, e não só na Itália, mas em toda a Europa;, contou a moça, que pediu para não ser identificada.
Mensagens de italianos e brasileiros chegavam a todo momento na página da Embaixada do Brasil no Facebook, com dizeres como ;vergonha;. Os telefones e o fax passaram o dia congestionados. Um dos textos recebidos via fax, conforme informação apurada pela reportagem, trazia insultos: ;Vão embora do nosso país, brasileiros de m;;. Ontem, o assunto Battisti já não ganhava as manchetes dos jornais italianos na internet, mas era um dos temas mais lidos.
Haia
Em meio aos protestos, um comunicado do Ministério dos Negócios Estrangeiros da Itália destacava que o órgão ainda não havia decidido a data para levar o caso ao Tribunal Internacional de Haia, onde são decididos os conflitos entre países e crimes contra a humanidade. A pasta quer analisar os aspectos técnicos e jurídicos antes de levar o Brasil à Corte de Haia, conhecida pelos julgamentos de crimes de genocídio, mas pouco acionada em outras situações. Os italianos esperam que o governo brasileiro aplique os acordos internacionais de extradição, principalmente o existente entre as duas nações, que estabelece a reciprocidade.
Convocado para explicar ao chanceler italiano, Franco Frattini, em que circunstância foi realizado o julgamento do caso Battisti, o embaixador Gherardo La Francesca estará em Roma na segunda-feira. Com as informações do embaixador, Frattini pretende embasar o recurso que será apresentado à Corte de Haia.
O Itamaraty informou que o procedimento adotado pelo governo italiano é normal quando se trata de manifestações como a de Battisti. ;Consideramos que a Itália tem todo o direito de chamar seu embaixador no Brasil para consultas;, afirmou o porta-voz do Ministério das Relações Exteriores, Tovar Nunes, em entrevista à Agência Brasil. ;Não há incômodo algum;, acrescentou.