Politica

Dilma vai se envolver mais na articulação com aliados após troca de comando

Igor Silveira
postado em 12/06/2011 08:00
Desde quando era a todo-poderosa ministra da Casa Civil do governo de Luiz Inácio Lula da Silva, a presidente Dilma Rousseff nunca escondeu a aversão ao ;varejo político; que parlamentares em geral adoram fazer. Começou o governo obstinada em transformar a Presidência da República no escritório central de gestão e administração, e deixar a conversa com o Congresso em segundo plano. Relegou a tarefa ao 4; andar do Palácio do Planalto com Antonio Palocci, na Casa Civil, e com Luiz Sérgio, na Secretaria de Relações Institucionais.

Os pouco mais de cinco meses de mandato ensinaram a dura lição do regime presidencialista: os congressistas precisam de afagos. Obrigada a fazer uma minirreforma ministerial logo no início do governo ; trocando os titulares da Casa Civil, da Secretaria de Relações Institucionais e da Pesca; , algo que não ocorria desde os tempos turbulentos de João Goulart (1961-1964), Dilma terminou a semana mergulhando na negociação política e disposta a retomar, a contragosto, o rumo tradicionalista da Presidência.

Dilma percebeu que precisaria tomar as rédeas do varejo para construir apoio político às suas decisões e não ficar sujeita ao desgaste no Congresso. Ao receber relatos de que dificilmente Ideli Salvatti, ex-senadora e ministra da Pesca, teria sustentação no Parlamento caso fosse indicada como coordenadora política do Palácio do Planalto, a presidente decidiu participar das conversas e ela mesma consultar caciques do PMDB sobre sua escolha. Constrangidos, os peemedebistas não se opuseram. Ao escolher ;dividir; a decisão com o presidente do Senado, José Sarney (PMDB-AP), e com o líder do PMDB, Renan Calheiros (AL), os obrigou a se tornarem fiadores de Ideli, limitando as ações de fritura que poderiam ocorrer devido a insatisfações sobre a escolha.

É esse o novo tom da Presidência da República. Dilma vai se envolver mais nas conversas com os aliados, realizando reuniões do conselho político com mais frequência e atender à demanda do PMDB de que a coordenação política não ficará encerrada no Palácio do Planalto, mas terá mais participação do Congresso. A ordem dada à ministra Ideli Salvatti é que ouça mais os parlamentares. A promessa também é de portas abertas no gabinete presidencial ;algo que Luiz Sérgio jamais teve.

PAC
Dilma quer se concentrar primeiro nas conversas com os senadores aliados e depois ouvir as bancadas da Câmara ; não o PT. Nesta semana, ela se reúne com os senadores do PR e do PP. O encontro com a participação de Ideli Salvatti e Gleisi Hoffmann servirá para apresentar aos congressistas o trabalho que as duas desempenharão.

A Casa Civil de cara nova não mais terá atuação política ; ficará centrada na coordenação de governo ; como era até dezembro de 2010. Ontem, a ministra Gleisi (leia Perfil ao lado) usou sua página no Twitter para avisar que está focada nas ordens de Dilma. ;Peço que entendam se aparecer menos por aqui. Minha concentração será total nas tarefas que me foram dadas pela presidenta Dilma;, escreveu.

As Relações Institucionais voltam a ter o papel de atuação política e a promessa de que Ideli não será uma mera anotadora de recados, ela terá caneta e poder de influência. A ministra também mandou um recado pelo Twitter. ;Nas Relações Institucionais, não vou usar só os dois ouvidos. Vou usar o coração, o bom senso e sempre a busca do bom resultado para o governo e para o país.;

O Programa de Aceleração do Crescimento (PAC), que foi retirado da Casa Civil e agora é tocado pelo Planejamento, também está sendo diluído. Na semana passada, o Ministério da Cultura ganhou R$ 220 milhões para se encarregar do Praças do PAC ; projeto que reúne ações em esporte, lazer e cultura em comunidades pobres.

Quanto ao PT, a presidente tomou uma decisão inversa. Decidiu peitar os correligionários e mostrar que não se curvaria às pressões do próprio partido. Os petistas da Câmara travaram uma batalha para tentar influenciar o governo que resultou na fritura de Luiz Sérgio. Mas ela não quis atender aos pleitos e mostrou que é ela quem decide os rumos do Planalto. Dilma informou o presidente da Câmara, Marco Maia (PT-RS), sobre a mudança na coordenação política. Mas o tom foi bem menos afável do que o utilizado com os peemedebistas.

E dessa briga interna entre as diversas correntes do PT na Câmara, Dilma não quer colocar o dedo. Espera que o próprio partido, por meio do presidente da legenda, Rui Falcão, encarregue-se de resolvê-la. Mas não será tão fácil. Por isso, o ex-presidente Lula foi convocado para a tarefa. ;O Lula, que é a única pessoa que eles ouvem, vai sentar-se à mesa e dizer: ;Vamos acabar com essa palhaçada, agora;. É só assim que funciona com esse grupo;, afirmou um senador petista.

Aprovação continua alta
Pesquisa Datafolha mostrou que a aprovação do governo Dilma Rousseff permanece alta. Segundo os dados divulgados ontem, 49% dos entrevistados disseram que o governo é bom ou ótimo. Em levantamento realizado em março, eram 47%. A maioria dos pesquisados também disse que gostaria de ver o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva dando mais opiniões sobre o andamento do Executivo federal. O Datafolha esteve em campo na quinta e na sexta-feira e ouviu 2.188 pessoas no país. A margem de erro é de dois pontos percentuais.

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