Paulo de Tarso Lyra
postado em 23/06/2011 08:27
A presidente Dilma Rousseff aprovou a decisão do ministro da Ciência e Tecnologia, Aloizio Mercadante, de se antecipar às pressões políticas da oposição e comparecer ao Senado na próxima semana para explicar seu suposto envolvimento no escândalo dos aloprados. A audiência já estava marcada para que Mercadante expusesse os projetos da pasta, mas ele concordou responder qualquer questionamento feito pelos oposicionistas.Embora Dilma e os ministros mais próximos considerem que a ressurreição do caso seja um ;exagero com base em informações já divulgadas;, o gesto de Mercadante foi considerado importante para evitar repetição da crise envolvendo o ex-chefe da Casa Civil Antonio Palocci, que demorou muito para explicar o aumento de vinte vezes de seu patrimônio em um período de apenas quatro anos.
Palocci foi avisado reiteradas vezes, inclusive por Dilma e pelo ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, que era melhor esclarecer os projetos desenvolvidos pela consultoria Projeto e como arrecadou R$ 20 milhões apenas em 2010, sendo R$ 10 milhões nos últimos quatro meses do ano, quando já exercia o cargo de coordenador da transição de governo. Não agiu assim e, quando resolveu dar uma entrevista sobre o tema, já era tarde. A presidente não teve como mantê-lo no cargo.
O governo não acredita que o atual episódio tenha o potencial do escândalo que derrubou o ex-ministro Palocci. Na avaliação palaciana, Palocci era alvo mais importante pela proximidade natural com a presidente e pelo status de superministro. Mercadante não goza desse privilégio, por ocupar pasta mais técnica na administração federal e por não ter tido papel de destaque na campanha presidencial. Candidato natural à reeleição para o Senado, ele cedeu aos apelos de Lula para concorrer ao governo de São Paulo contra o candidato do PSDB, Geraldo Alckmin. Perdeu, mas por pouco não levou a disputa ao segundo turno.
Fogo amigo
Líder das pesquisas de intenção de voto para a prefeitura em 2012, Mercadante está sendo vítima de fogo amigo, como alertam alguns petistas. Militantes do partido ouvidos pelo Correio acreditam que o incentivo para que o atual secretário-adjunto de Desenvolvimento Econômico do Distrito Federal, Expedito Veloso, voltasse a falar sobre o caso, partiu de ex-companheiros de Mercadante na bancada petista do Senado. Gravações mostram Expedito citando o ministro como o mentor da elaboração de um dossiê que seria usado contra o tucano José Serra na disputa pelo governo de São Paulo, em 2006
Em conversas reservadas, o ministro tem aparentado calma. ;Não tenho com que me preocupar. É assunto vencido para o qual já dei as explicações necessárias;, declarou, segundo relatos de um interlocutor. Nos últimos dois dias, Mercadante foi presença frequente ao lado de Dilma. Na terça, no Rio de Janeiro, acompanhou a presidente na cerimônia de premiação da 6; Olimpíada Brasileira de Matemática. Ontem, teve despacho privado no Planalto para tratar de 75 mil bolsas que serão oferecidas para cursos de pós-graduação no exterior.
PSDB tenta reabrir inquéritos
Enquanto Mercadante ensaia para falar no Senado, deputados do PSDB protocolaram ontem pedidos de reabertura do inquérito sobre a suposta compra por petistas de um dossiê contra o tucano José Serra em 2006. Os pedidos foram feitos à Polícia Federal e à Procuradoria-Geral da República. A oposição quer mais investigação sobre o caso. Em 2006, a PF apreendeu R$ 1,7 milhão com militantes petistas. O dinheiro seria para a compra de informações que poderiam envolver Serra com ;a máfia dos sanguessugas;, esquema pelo qual se desviavam recursos destinados a compra de ambulâncias.