A presidente Dilma Rousseff vai enfrentar, no segundo semestre, uma batalha com a base sindical que a ajudou a chegar ao Planalto em outubro do ano passado. A CUT convocou para 6 de julho um dia nacional de mobilização e promete por de braços cruzados eletricitários, bancários, petroleiros, servidores públicos, metalúrgicos e químicos. No Congresso, Dilma terá que reconstruir a base aliada, desconfiada pela demora na liberação de cargos e emendas, para impedir a aprovação de projetos como o reajuste dos servidores do Judiciário e os novos vencimentos do procurador-geral da República e dos ministros do STF, que podem gerar um efeito cascata em todo o país.
No primeiro embate que teve com o movimento sindical, no início do ano, Dilma conseguiu sair vitoriosa e aprovou o mínimo de R$ 545, tanto na Câmara quanto no Senado. As centrais sindicais defendiam R$ 560, valor que representava a recomposição da inflação e mais um ganho real. A Força Sindical foi além e propôs R$ 600. Dilma e o secretário-geral da Presidência, ministro Gilberto Carvalho, unificaram deputados e senadores e mostraram que não havia como oferecer valor maior que os R$ 545, diante da pressão inflacionária e do acordo anterior firmado com os sindicalistas ; a correção do mínimo é definida pela inflação do ano anterior mais o PIB de dois anos antes.
Agora, o cenário é distinto. O Planalto demorou para liberar cargos do segundo escalão e emendas parlamentares e está reunindo os cacos da base aliada após a crise que culminou com a queda do chefe da Casa Civil, Antonio Palocci, e a troca do comando na articulação política, nomeando Ideli Salvatti.
O presidente nacional da CUT, Artur Henrique, afirmou que chegou o momento de os trabalhadores apresentarem a pauta real para a presidente. Nos locais onde for possível fazer paralisação em 6 de julho, será feito. ;Não gostamos de fazer greve, mas faremos se for a única alternativa para o governo nos ouvir;, afirmou o presidente da CUT. Gilberto Carvalho disse ao Correio que o governo está ;atento aos movimentos e à espera da pauta de reivindicações para definir os interlocutores com os sindicatos;.
Dor de cabeça
O movimento do dia 6 envolve setores importantes para o governo. Uma paralisação dos petroleiros ameaça investimentos da Petrobras, enquanto uma greve de eletricitários paralisa grandes empresas, como Eletronorte e Chesf. Já os bancários, uma das categorias mais politizadas, teriam condições de suspender o funcionamento de agências do Banco do Brasil e da Caixa Econômica, fundamentais para conceder crédito agrícola e financiamento imobiliário, como o Minha Casa, Minha Vida.
Mesmo nos setores que não têm participação direta do governo, a preocupação do Planalto é grande. Uma greve dos metalúrgicos, por exemplo, pode emperrar diversos segmentos da economia e brecar o crescimento do PIB esperado por Dilma para manter a taxa de desenvolvimento do país no patamar dos anos Lula.
No Congresso, a preocupação é intensa. Analistas políticos acreditam que o governo precisa agilizar a articulação com a base de apoio para evitar surpresas. Muitos dos projetos que envolvem reajustes salariais dos servidores foram represados por atuação dos aliados no Congresso. ;O governo não pode reclamar de nós. Estamos segurando algumas bombas há pelo menos dois anos;, lembrou o líder do governo na Câmara, Cândido Vaccarezza (PT-SP).
É o caso, por exemplo, do plano de carreira dos servidores do Judiciário. O projeto de lei foi encaminhado em 2009 pelo Supremo Tribunal Federal e pouco avançou. Tanto o governo Lula quanto o governo Dilma assustam-se com a possibilidade de conceder um reajuste médio de 56% e gerar despesa que pode chegar a R$ 6,3 bilhões.
Efeito cascata
A base aliada também tem conseguido, até o momento, conter o reajuste dos vencimentos dos ministros do STF e da Procuradoria-Geral da República. Nos dois casos, a proposta de aumento é de 14,75%. O perigo não reside nesses reajustes e, sim, no efeito cascata para juízes, desembargadores e integrantes dos ministérios públicos estaduais.
Diante do cenário conturbado, poucos apostam na disposição do Planalto em avançar em outros dois projetos considerados antipáticos pelo movimento sindical e pelo funcionalismo: o que institui um fundo de previdência privada para os servidores e o que limita em 2,5% do PIB o crescimento da folha salarial do setor público.
Para 2012, 14%
O acordo de reajuste do salário mínimo foi fechado pelo então presidente Luiz Inácio Lula da Silva com representantes das principais centrais sindicais em 2007. Pelo acerto, o salário mínimo seria reajustado pela inflação do ano anterior mais o PIB de dois antes. Em 2012, a manutenção da regra levará o reajuste para algo em torno de 14%, já que a inflação de 2010 foi de 5,91% e o PIB fechou em 7,5%.
Sugestões emperradas
O Fundo de Previdência Privada para o setor público foi sugerido na Reforma da Previdência de 2003, mas jamais foi implementado. Naquela reforma, a única coisa que o governo conseguiu de concreto foi a taxação de 11% dos inativos. Já a limitação do crescimento da folha salarial do funcionalismo é projeto
de reforma tributária encaminhado ao
Congresso em 2007.
"Não gostamos de fazer greve, mas faremos se for a única alternativa para o governo nos ouvir"
Arthur Henrique,
presidente nacional da CUT