Politica

Velório ao ex-presidente leva 4,5 mil pessoas ao Palácio da Liberdade

Isabella Souto
postado em 05/07/2011 07:17
Belo Horizonte ; No Palácio da Liberdade, em Belo Horizonte, palco de algumas de suas principais batalhas políticas, o ex-presidente e senador Itamar Franco (PPS) recebeu ontem as últimas homenagens de milhares de pessoas, entre populares, amigos, familiares e até mesmo antigos adversários. Algumas das principais personalidades políticas do Brasil, como a presidente Dilma Rousseff e a cúpula do PSDB, acompanharam a solenidade. Ao som de Oh, Minas Gerais e com uma chuva de pétalas de rosas brancas, o corpo foi recebido na antiga sede do governo, que ele ocupou entre 1999 e 2002.

José Serra, Aécio Neves, Fernando Henrique Cardoso, Dilma Rousseff e Antonio Anastasia: despedida de Itamar com honras de chefe de EstadoAplausos romperam o silêncio na chegada do caminhão do Corpo de Bombeiros que levou o caixão, coberto pelas bandeiras de Minas Gerais e do Brasil. Cerca de 4,5 mil pessoas, segundo a Polícia Militar, acompanharam o adeus. Imprevistos, bem ao estilo Itamar, não faltaram. Por causa do mau tempo em Juiz de Fora (MG), o traslado feito em avião da Força Aérea Brasileira (FAB) foi adiado e o segundo velório, na capital mineira, começou com uma hora e meia de atraso.

Do lado de fora do Palácio da Liberdade, populares formavam uma fila à espera da abertura dos portões. Eles acompanharam a travessia do corpo pela alameda central até o tapete vermelho colocado na entrada do local. A todo instante, chegavam coroas de flores rendendo homenagens a Itamar. Uma delas, do presidente da Bolívia, Evo Morales, lamentava a grande perda.

Antes de abrir a visitação ao público, foi realizada uma cerimônia religiosa de cerca de 40 minutos restrita aos familiares e amigos mais próximos. Por volta de 11h30, os portões se abriram aos populares. A visita só foi interrompida durante a presença da presidente Dilma Rousseff, que ficou por cerca de meia hora e não falou com a imprensa.

Na cerimônia realizada em Juiz de Fora, compareceram os ex-presidentes da República Luiz Inácio Lula da Silva (PT); José Sarney (PMDB-AP), hoje presidente do Senado; e Fernando Collor, senador por Alagoas. Ontem, foi a vez de Fernando Henrique Cardoso (PSDB), ministro da Fazenda do governo Itamar e sucessor do mineiro no Palácio do Planalto. A troca no comando do país, aliás, gerou vários atritos entre Itamar e FHC. Em uma das desavenças, o tucano reivindicava a paternidade do Plano Real, mágoa que Itamar levou consigo. Na despedida do antecessor, entretanto, Fernando Henrique tentou mostrar que tudo faz parte de um passado distante, reverenciou o colega e reconheceu sua importância para a estabilidade da economia brasileira. Mas não atribuiu a origem do plano econômico ao mineiro.

;Devo a Itamar ter aberto espaço para um obscuro político na época, um sociólogo, não economista, mal treinado ainda no Itamaraty. Foi visão do Itamar me convocar para ministro da Fazenda em uma época muito difícil. O Plano Real foi feito por uma equipe. Eu chefiei essa equipe, mas nada disso teria sido feito sem o apoio irrestrito do presidente. Mesmo quando Itamar, lá no fundo da alma, não estava totalmente convencido, ele confiava. Me deu uma força que era difícil imaginar;, recordou FHC, que, quando chamado para chefiar a pasta econômica, era ministro das Relações Exteriores.

Outro desafeto de Itamar, o ex-governador de São Paulo José Serra (PSDB) agradeceu o apoio que recebeu do mineiro durante a campanha eleitoral do ano passado, quando foi derrotado por Dilma Rousseff. ;A memória do Itamar Franco merece e vai merecer sempre nossa homenagem. Ele abriu o caminho para o Plano Real. É um homem a quem o nosso país deve muito;. O governador de São Paulo, Geraldo Alckmin (PSDB), fez coro aos colegas de partido ao apontar que ;com ousadia e espírito público, (Itamar Franco) deu as bases para mudar o país;.

[SAIBAMAIS]Após o velório, o corpo de Itamar seguiu para Contagem, na região metropolitana de Belo Horizonte, onde foi cremado. As cinzas serão depositadas no jazigo da família, no cemitério municipal de Juiz de Fora.

Mineiros exaltam conterrâneo
Emocionado, o senador Aécio Neves (PSDB), que se elegeu pela primeira vez governador de Minas Gerais com o apoio de Itamar, fez questão de permanecer ao lado das filhas do ex-presidente, Georgiana e Fabiana, e lamentou a perda de alguém que dizia considerar como um pai. ;Nos poucos meses no Senado, foi uma figura única e deu a tônica do que deverá prevalecer. Uma oposição clara, mas firme e leal aos interesses de Minas;, disse. O governador de Minas, Antonio Anastasia, ressaltou a moralidade de Itamar. ;Aprendemos muito com Itamar, com sua sensibilidade social, com sua dedicação, seu coração, e, em especial, sua preocupação com as pessoas mais pobres.; (IS e JC)

"O Plano Real foi feito por uma equipe. Eu chefiei essa equipe, mas nada disso teria sido feito sem o apoio irrestrito do presidente;

Fernando Henrique Cardoso, ex-presidente
da República


"A memória do Itamar Franco merece e vai merecer sempre nossa homenagem. Ele abriu o caminho para o Plano Real;


José Serra, ex-governador de São Paulo

Tags

Os comentários não representam a opinião do jornal e são de responsabilidade do autor. As mensagens estão sujeitas a moderação prévia antes da publicação