Paulo de Tarso Lyra
postado em 17/07/2011 08:00
Seis meses após assumir a Presidência da República, Dilma Rousseff imprimiu um estilo diferente na relação do Palácio do Planalto com a base aliada. Um estilo que está deixando os integrantes da aliança governista preocupados, porque eles não estão conseguindo antecipar os movimentos da presidente. ;Todos nós estamos ficando com as barbas de molho. Quando a Dilma toma uma decisão, ela age, sem avisar nada para nós;, reclamou o líder do PTB na Câmara, Jovair Arantes (GO). ;É comum reclamarmos das coisas, o saco é sempre fundo;, acrescentou, embora os próprios parlamentares da base reconheçam que, pelo menos no trato pessoal, Dilma tem sido mais cordial do que de costume.A presidente tem adotado esse perfil sob a alegação de que pretende imprimir um estilo de governo mais gerencial, menos preso a barganhas e jogos políticos. Uma novidade em Brasília, capital acostumada ao loteamento de espaços na máquina federal e à troca de apoio parlamentar por liberação de emendas para deputados e senadores. Essa disposição paralisou o governo por diversas vezes ao longo deste primeiro semestre.
Senadores experientes, como Pedro Simon (PMDB-RS) ; que integra o chamado G8, grupo de oito senadores peemedebistas que se consideram independentes ;, torcem para que Dilma mantenha essa pegada. ;Eu sei que é difícil, a presidenta Dilma Rousseff está só. Eu espero que, com o cajado de sua caneta, ela consiga romper com essa cultura fisiológica;, disse Simon, em discurso na tribuna do Senado.
Seu companheiro de partido, o líder do PMDB na Câmara, Henrique Eduardo Alves (RN), pensa diferente. Ele espera que o coquetel oferecido por Dilma aos aliados na última quarta-feira possa significar um distensionamento nesse relacionamento. ;Dilma estava mais afável, mais à vontade. Acho que ela está começando a se acostumar com essa relação.; Mas ele admite que esses primeiros momentos não foram fáceis. ;Ela é técnica, não política, estamos tentando aprender como lidar com ela. Mas é sempre melhor esse estilo franco do que a dissimulação ou o empurrar com a barriga;, completou.
;Embocadura;
Um líder aliado acredita que falta à presidente ;embocadura;. Segundo uma enciclopédia virtual, ;a embocadura apropriada permite ao instrumentista tocar o instrumento na sua completa extensão, a manter o som limpo e a evitar possíveis danos aos seus próprios músculos;. Esse parlamentar, que tem uma relação próxima com a presidente, afirma que Dilma ainda precisa encontrar o tom exato na relação com os congressistas. Ele reconhece que alguns gestos são aprovados pela opinião pública, mas a presidente precisa se lembrar da ;importância de construir a governabilidade no dia a dia;.
Um integrante do PT acrescenta que o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva também enfrentou dificuldades ao longo de seus dois mandatos, citando, por exemplo, o êxodo de petistas insatisfeitos com o governo rumo ao PSol. Mas acredita que Dilma herdou uma base muito ampla e uma oposição anêmica. ;Se a Dilma tivesse contra si um Senado como Lula enfrentou em 2006, com adversários como Tasso Jereissatti (PSDB-CE), Arthur Virgílio (PSDB-AM) e Efraim Morais (DEM-PB), talvez não fosse tão valente assim;, comparou.