postado em 04/08/2011 08:05
O Ministério Público Federal no Rio Grande do Sul não encontrou indícios da presença de agentes brasileiros no sequestro do padre argentino Jorge Oscar Adur, em junho de 1980. Ele foi tirado de um ônibus quando viajava de Buenos Aires para o Rio de Janeiro, mas seu rapto teria ocorrido dentro de seu país. O caso está sendo investigado desde o ano passado pelo MPF e a Polícia Federal. A família de Adur chegou a receber uma indenização do governo brasileiro por causa de seu desaparecimento. Agora, a PF e procuradores tentam saber se o ítalo-argentino Lorenzo Ismael Vinãs, que também fora sequestrado na mesma época, estava no Brasil ou do outro lado da fronteira. Ele também foi considerado desaparecido político pelo Brasil e seus parentes receberam reparação econômica. Em uma primeira investigação realizada no ano passado sobre a Operação Condor, a Polícia Federal não encontrou indícios da presença de agentes brasileiros no sequestro dos dois estrangeiros. Mesmo assim, o procurador da República em Uruguaiana, Ivan Cláudio Marx, decidiu prosseguir na apuração e foi à Argentina em busca de documentos e de prováveis testemunhas que teriam presenciado a retirada de Adur de um ônibus que o conduzia de seu país ao Rio de Janeiro, onde participaria de uma solenidade da visita do Papa João Paulo II ao Brasil. ;Conseguimos em San Martin a lista dos passageiros que estavam na condução e passamos a procurar as pessoas;, conta o procurador.
Com isso, Marx confirmou que o ônibus foi parado em Paso de Los Libres, ainda na Argentina, por agentes daquele país e não em território brasileiro, como se imaginava. ;A nossa meta era verificar seu o padre foi sequestrado no Brasil, e agora já temos a certeza de que isso não aconteceu;, ressalta o procurador. ;Não houve a participação de autoridades brasileiras;, acrescenta. Agora, segundo Marx, as investigações serão centralizadas em torno do ítalo-argentino Lorenzo Ismael Viñas, que também fora capturado supostamente por agentes da repressão que atuavam na Operação Condor.
Assim como Adur, Viñas teria sido sequestrado durante a travessia da ponte que divide Brasil e Argentina, em Uruguaiana. A suspeita é a de que ele teria sido capturado por agentes brasileiros e entregues aos órgãos de repressão do país vizinho. Porém, até agora o Ministério Público não conseguiu documentos que revelem fatos relacionados a Viñas. Ao contrário do que aconteceu em San Martin, onde foram encontradas várias testemunhas da captura do padre, a apuração não avançou. ;A empresa de ônibus não tinha mais documentos da época;, observa Marx e referindo a possibilidade de comprovar se o ítalo-argentino foi preso no Brasil ou em seu país.
Os dois estrangeiros passaram a integrar a relação de 136 pessoas que foram consideradas pelo governo brasileiro como desaparecidos políticos, em 1996. Com isso, seus familiares receberam uma reparação financeira cujo valor mínimo era de R$ 100 mil. O procurador da República em Uruguaiana ressaltou que a questão da indenização não é de competência do Ministério Público, que está cuidando apenas do aspecto criminal relacionado à Operação Condor. A questão administrativa em torno do pagamento deverá ser tratada em um outro momento.
A repressão organizada
A chamada Operação Condor foi uma ação conjunta entre Brasil, Argentina, Uruguai, Paraguai, Bolívia e Chile, que tinha como objetivo reprimir os movimentos contrários às ditaduras existentes à época. As atividades dos grupos começaram no fim dos anos de 1960 e prosseguiram até 1980, período em que o padre Jorge Oscar Adur e Lorenzo Ismael Viñas foram sequestrados. Por ter dupla nacionalidade, o caso de Viñas também está sendo investigado pela Justiça da Itália, que pediu a condenação no país de várias pessoas envolvidas com a repressão na América do Sul.