Politica

Indicação de Amorim para a Defesa foi idealizada logo após Dilma ser eleita

Paulo de Tarso Lyra
postado em 05/08/2011 08:00
[FOTO1]A presidente Dilma Rousseff queria nomear o então chanceler Celso Amorim desde os tempos do governo de transição no Centro Cultural Banco do Brasil, em Brasília, no fim do ano passado. Mas acabou cedendo à pressão do então presidente Luiz Inácio Lula da Silva e manteve Nelson Jobim no cargo. Dilma quer imprimir à pasta um perfil ;mais estratégico e menos força bruta, semelhante a um batalhão de engenharia e logística;, segundo uma fonte palaciana. Amorim tem a seu favor o fato de comungar da mesma noção de soberania nacional tão cara às Forças Armadas. Mas, para ter o respeito das tropas, terá que reduzir o viés ideológico que caracterizou sua gestão durante os oitos anos do governo Lula.

Essa mesma ideologia impediu Amorim de permanecer no Ministério das Relações Exteriores. Dilma queria imprimir uma nova política externa, mais próxima dos Estados Unidos ; eleito como grande inimigo na reta final do governo Lula ; e menos afável aos países que violavam os direitos humanos sob o argumento de ;interesse comerciais;. Amorim tentou permanecer no posto, mas a presidente optou por Antonio Patriota, ex-embaixador brasileiro nos Estados Unidos, casado com uma norte-americana. A escolha já rendeu frutos: depois de tantas derrotas, o Brasil finalmente venceu uma eleição internacional, com a escolha de José Graziano para a Organização das Nações Unidas para a Agricultura e Alimentação (FAO).

Com Jobim, a relação nunca foi de proximidade, situação agravada após o então ministro de Lula afirmar, durante reunião da cúpula do Executivo, no ano passado, que não teria como fazer campanha para a petista por ;ser amigo de José Serra;. Após eleita, Dilma manteve Jobim na pasta, mas foi, aos poucos, esvaziando suas atribuições. Primeiro, adiou a compra de caças para a Força Aérea Brasileira indefinidamente. Depois, escanteou o peemedebista das articulações com o Judiciário. Por fim, empurrou para a frente os debates sobre os submarinos militares de propulsão nuclear. Por diversas vezes, Jobim pensou em pedir demissão.

Sucessor
A escolha de Amorim é vista com ressalvas e encontra críticas na caserna. Na avaliação dos militares, o novo ministro deverá rever alguns de seus entendimentos, como a visão estratégica de aproximação à França, por exemplo. Sobretudo no Exército, muitos generais se espelham nas experiências dos Estados Unidos e da Inglaterra, e não tanto nos franceses. Mas lembram que Amorim foi um dos formuladores da política de aumento da capacidade militar do Brasil, que leva em conta a possibilidade de o Brasil ser a quinta maior economia do mundo, ter enormes reservas de petróleo com a camada pré-sal e o aumento da potência agrícola. Partiu dele, antes mesmo de Jobim assumir o Ministério da Defesa, a proposta de reaparelhar as três Forças, dando sequência à compra dos caças pela Força Aérea e à construção do submarino nuclear.

Os militares consideram que a política externa do Brasil, ao se orientar na busca por uma cadeira permanente no Conselho de Segurança da Organização das Nações Unidas (ONU), passou a dar mais destaque à política de defesa nacional. A caserna lembra a liderança do Brasil na Força de Paz enviada ao Haiti autorizada depois das negociações lideradas pelo Itamaraty, o que aprimorou o treinamento da tropa para situações de guerra. Em entrevista ao programa É notícia, da RedeTV, na semana passada, Amorim defendeu uma retirada gradual da Força na ilha da América Central: ;Prontamente, deveriam voltar para o Brasil os militares que foram adicionados à tropa depois do terremoto que devastou o pequeno país caribenho em 2010;.

Agora, entre os desafios que passam à tutela de Amorim, estão a aprovação pelo Senado da Lei de Acesso à Informação e a instalação da Comissão da Verdade para investigar crimes praticados durante a ditadura. Jobim vinha trabalhando para reduzir as resistências no Congresso sobre a divulgação de material do governo, incluindo os dados classificados de ultrassigilosos de gestões passadas.

Desafios
O novo ministro da Defesa, Celso Amorim, vai herdar de seu antecessor pelo menos quatro temas de relevância e de polêmica. São eles:

Estratégia Nacional de Defesa
Além de reforçar as fronteiras, prevê a modernização das Forças Armadas para os próximos 30 anos.

Caças
A compra dos aviões caças, um dos temas mais discutidos durante o governo Lula, deve voltar à tona.

Comissão da Verdade
Parte dos militares não aceita que sejam retomadas investigações sobre a ditadura.

Copa do Mundo
As Forças Armadas, que também participaram do Pan-Americano, atuarão principalmente na área de inteligência.

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