postado em 07/08/2011 08:00
Um dos ministros mais próximos da presidente da República, Dilma Rousseff, de quem é amigo pessoal, Fernando Pimentel, que comanda a pasta de Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior (Mdic), não acredita que a indicação do diplomata e ex-chanceler Celso Amorim vá gerar uma crise entre os militares. ;Temos uma força armada hoje inteiramente constitucionalista. Um regime emoldurado por um cenário de segurança institucional que só as democracias proporcionam;, diz. Embora faça um prognóstico positivo para a atuação de Amorim, Pimentel também elogia Nelson Jobim, que foi demitido por Dilma da pasta da Defesa depois de atacar colegas de ministério, em especial as mulheres que compõem o núcleo duro do Palácio do Planalto.
O ex-prefeito de Belo Horizonte diz que o fato de ser amigo de Dilma não aumenta as cobranças, mas deixa escapar que ela é ;muito firme nas suas opiniões;. Sobre o futuro na política, o único ministro mineiro foca a disputa pelo governo do estado em 2014, embora faça a ressalva de que ninguém é candidato com três anos de antecedência. Antes de voltar ao crivo das urnas, no entanto, Pimentel diz que pretende aumentar o conteúdo nacional, local, na indústria brasileira. O ponto de partida para isso é o novo plano de desenvolvimento industrial do país lançado na semana passada.
Dizem que a presidente Dilma Rousseff (PT) é mais enérgica para cobrar dos ministros que estão em seu círculo de amizade do que dos demais ; e às vezes até dá bronca. Isso se aplica ao senhor?
Não tem nada disso. Sei separar muito bem o que é uma relação pessoal de uma relação funcional de trabalho. Como ministro, sigo a liderança dela. Agora, me reservo a ter a relação pessoal fora do ambiente de trabalho. Tem um pouco de mito, de lenda nesta história das cobranças. Dilma é muito firme nas suas opiniões, em suas intervenções nos fóruns em que participa. Tem opiniões firmes, mas não vai muito além disso.
Como avalia a saída de Nelson Jobim do Ministério da Defesa, depois de tanta confusão e ataques a colegas ministras?
Lamentei a saída dele, tenho relações fraternas, acho um quadro competente. Agora, criou-se uma situação insustentável do ponto de vista político pessoal dada as declarações atribuídas a ele ou que foram dele. Lamentei. É uma pessoa que contribuiu muito para a vida pública. Ele foi substituído por um grande quadro. Celso Amorim dará uma contribuição enorme para o governo. É um homem experiente, com trajetória reconhecida como diplomata, um homem público que vai nos ajudar muito. Lamento a saída de um e saúdo a entrada de outro.
Os militares vão aceitar bem a presença de um diplomata no Ministério da Defesa?
Não tenho muito contato com essa área. Mas temos uma Força Armada, hoje, inteiramente constitucionalista. Trocar ministro faz parte da democracia. O Brasil chegou a um estágio que devemos nos orgulhar dele. É um país com recursos, população, está emoldurado por um cenário de segurança institucional que só as democracias proporcionam. Segurança institucional, jurídica, segurança para negócios. Alguém diria: os regimes fechados são mais seguros. Ao contrário. Haja vista o que está acontecendo nos países árabes. Quem diria há um ano que assistiríamos à rebelião nos países árabes? As democracias permitem acomodar as tensões, as pressões e contrapressões e no fim proporcionam esse ambiente de segurança.
Agora que assumiu funções no governo federal, o senhor está afastado da política de Minas Gerais? Pensa em se candidatar ao governo em 2014?
Eu penso. Claro que penso em 2014, não posso deixar de pensar. Eu acho que a minha trajetória de certa forma me qualifica para a disputa do cargo de governador. Agora, se isso vai se efetivar mesmo, só o tempo dirá. De fato, o meu nome está posto como um dos possíveis. E se me perguntar se rejeito isso, vou dizer que não, de jeito nenhum. Mas daí a dizer que já sou candidato desde já; Ninguém é candidato três anos antes do prazo. Isso é lá na frente. Agora, sou ministro e quero fazer um bom trabalho no ministério.
Nas eleições municipais de 2008, o senhor encabeçou uma aproximação política com o então governador Aécio Neves (PSDB), hoje senador, um quadro da oposição e potencial adversário do PT nas eleições presidenciais de 2014. Se arrepende de ter se aliado a ele para eleger Márcio Lacerda (PSB)?
Não. De maneira nenhuma. A aproximação que tive com Aécio foi pessoal, porque não representávamos entidades partidárias. Eu era prefeito e ele, governador. Foi uma relação institucional e pessoal que engendrou ao fim, que estivéssemos ocasionalmente juntos do Márcio. Acho que foi muito bom para Belo Horizonte. Agora, o governador é de um partido adversário do meu. Tenho relações fraternas com ele, o considero de minhas relações pessoais, mas não tenho nenhuma identidade partidária. Inclusive ele foi meu adversário nas eleições passadas: apoiei a presidente Dilma e ele, o Serra.
A indústria brasileira está sob forte pressão do câmbio baixo e dos produtos chineses. A sua pasta, o Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior, acaba de lançar o chamado Plano Brasil Maior. Quais são as principais diretrizes e qual será o seu impacto sobre as economias estaduais?
Esse plano de desenvolvimento industrial tem um conjunto de medidas, algumas estruturais, outras conjunturais, com um foco muito forte na questão da inovação e da agregação de valor nas cadeias produtivas, na busca por aumentar o conteúdo nacional na indústria brasileira. O objetivo é recuperar a competitividade da nossa indústria, principalmente do setor de manufaturados, que neste momento é o mais atingido pela valorização do câmbio. Essas medidas têm um caráter, algumas delas, conjuntural, para resolver problemas de médio prazo, mas há medidas estruturais que vieram para ficar e produzir transformações mais profundas no sistema produtivo, adequando a nossa indústria para um novo paradigma industrial do século 21.
O instrumento lançado neste plano que dá margem de preferência nas compras governamentais para produtos nacionais de até 25% sobre o similar importado tem sido criticado por alguns, que consideram ser um prêmio à ineficiência. Como responderia a essa crítica?
A Petrobras tem um programa assim muito bem-sucedido. A Eletrobras está esboçando o seu. A lei que institui a margem de preferência foi aprovada no fim do mandato do governo Lula e está sendo regulamentada. Esse é um instrumento importante, estrutural, que veio para ficar. É uma espécie de reedição do Buy American Act, do presidente Franklin Roosevelt, de 1933, que os Estados Unidos ainda usam. Estamos com um certo atraso.