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Sob pressão, Wagner Rossi nega ter tido contatos com o lobista Júlio Fróes

O desgaste acontece pela segunda semana consecutiva. Ontem, o ministro da Agricultura, Wagner Rossi, convocou a imprensa, na segunda entrevista em sete dias, para explicar denúncias de irregularidades na pasta. Munido de documentos e preparado com o discurso de que está pronto para dar explicações a quem pedir, Rossi afirmou que tem o apoio da presidente Dilma Rousseff e que todas as suspeitas serão investigadas até o fim. Assim, ele anunciou que a Controladoria-Geral da União (CGU) decidiu abrir sindicância com o objetivo de apurar a suposta atuação de um lobista dentro do ministério.

O titular da Agricultura negou a informação de que Júlio Fróes tinha uma sala no prédio da pasta, de onde despachava assuntos de interesse da Fundação São Paulo, mantenedora da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP). A instituição paulista presta serviços ao ministério em contrato de R$ 9,1 milhões. Rossi voltou a negar que conhecesse Fróes, mas admitiu que o cumprimentou uma vez em Brasília. ;Eu realmente não o conheço. Se ele entrar aqui no gabinete, nesse momento, eu não sei quem é;, garantiu.

Segundo Rossi, apenas o ex-secretário executivo Milton Ortolan conheceria o lobista. ;Ele (Ortolan) conhece o Fróes como alguém que tratava dos interesses da Fundação São Paulo. Depois, ficamos sabendo que nem da fundação ele era, mas que somente prestava serviços;, completou ele. Amanhã, o ministro voltará ao Congresso para dar explicações no Senado, especialmente, à oposição.

Demonstrando irritação com a imprensa em alguns momentos, Rossi falou também sobre as indicações de parentes de quadros importantes do PMDB para a Companhia Nacional de Abastecimento (Conab), incluindo um filho do senador e líder do partido no Senado, Renan Calheiros (AL), um sobrinho do ex-governador de São Paulo Orestes Quércia, e até a ex-mulher do líder da legenda na Câmara, Henrique Eduardo Alves (RN). Ele fez questão de elogiar a atuação desses funcionários e confirmou a manutenção deles nos cargos.

Quando perguntado sobre a possibilidade de ;fogo amigo; nas sucessivas denúncias contra o Ministério da Agricultura, Rossi ressaltou que não é ;homem de teorias da conspiração;, mas que as eleições municipais do ano que vem em São Paulo podem influenciar no comportamento de envolvidos nas suspeitas. A diretoria da Conab tem representantes de diferentes correntes do próprio PMDB e também do PT.

Paciência
De acordo com o ministro, ele conversou com a presidente Dilma Rousseff por telefone no fim de semana, assim que surgiram as denúncias sobre a atuação do lobista na pasta. Também pela proximidade de Rossi com o vice-presidente Michel Temer, o Planalto demonstra paciência enorme diante das denúncias. ;A presidente Dilma Rousseff me dá motivos para que eu me sinta firme e confortável no cargo;, disse o ministro.

De acordo com fontes próximas à presidente, o secretário executivo pediu demissão ;porque quis; e a preocupação atual dela é com a crise financeira externa. Os pemedebistas dizem que Rossi está se explicando, mostrando que as denúncias contra o ministro não se sustentam na prática. Ainda ontem, na saída do encontro com o primeiro-ministro do Canadá, Stephen Harper, Dilma reforçou o apoio ao ministro. ;Então, nós estamos, sem sombra de dúvida, reiterando a confiança no Wagner Rossi;, concluiu.

Colaborou Paulo de Tarso Lyra