Igor Silveira
postado em 12/08/2011 07:15
A quadrilha que fraudou convênios do Ministério do Turismo e desviou recursos públicos conseguiu montar uma ampla rede de influência envolvendo órgãos públicos, incluindo a Caixa Econômica Federal (CEF). Dois servidores do banco estatal atuaram diretamente com a cúpula da ONG Instituto Brasileiro de Desenvolvimento Infraestrutura Sustentável (Ibrasi) para favorecer acesso a dados, cientes de que estavam cometendo crime de quebra de sigilo funcional, segundo as investigações da Polícia Federal.Gravações telefônicas realizadas pela PF com autorização judicial mostram dois funcionários de uma agência da CEF, em São Paulo, colaborando com representantes do Ibrasi. Os servidores oferecem dados privilegiados e passam por cima de exigências formais determinadas pelo Banco Central para atender a pedido de Katiana Necchi, filha de Maria Helena Necchi, sócia de Luiz Gustavo Machado no Ibrasi ; ele é apontado como o chefe da quadrilha.
[SAIBAMAIS]Preocupados com as investigações do Tribunal de Contas da União (TCU), os funcionários do Ibrasi montam uma rede de influência para adulterar dados, modificar documentos e forçar pagamentos na Caixa. Em uma das gravações da PF, Katiana conversa por telefone com um funcionário identificado apenas como Edmilson e pede que ele mande documentos relacionados aos convênios. No telefonema, o servidor do banco faz um alerta: ;Vou te mandar um documento que você tem a obrigação de me tirar aquela parte confidencial. (;) Isso é extremamente confidencial;, frisa, no grampo feito em 2 de maio deste ano. A Polícia Federal considera que pode ter havido quebra de sigilo funcional.
Falsificação
No dia seguinte ; 3 de maio ;, em outra ligação, Katiana trata sobre pagamentos que ela não conseguiria fazer e pede que o servidor, chamado Rodolfo, efetive a transferência, mesmo sem a assinatura de Luiz Gustavo Machado. Como o dono do Ibrasi não estava em São Paulo, mas em Macapá, a filha de Maria Helena pede que Rodolfo faça vista grossa caso a assinatura do chefe não seja igual à arquivada na agência. O funcionário responde positivamente. ;Nem que eu peça para ele fazer a assinatura 20 vezes para ter uma parecida com a que tem aí;, disse Katiana, de acordo com o grampo. As investigações da PF mostraram que, como Luiz Gustavo estava em Macapá naquele dia, a assinatura era falsificada.
A preocupação dos funcionários do Ibrasi em realizar os pagamentos era de que a conta na qual entravam os repasses do governo federal passava meses sem nenhuma movimentação financeira, segundo extratos bancários obtidos pelo Correio. O convênio do Ministério do Turismo, no entanto, estava em plena execução e os pagamentos aos prestadores de serviço deveriam estar ocorrendo. Em 6 de janeiro, o Ibrasi recebeu R$ 1 milhão, que se somou a outros R$ 2 milhões, depositados em outubro do ano passado. Nos quatro meses seguintes, a Caixa não registrou nenhum lançamento na conta-poupança. Em maio, o saldo da conta-poupança do Ibrasi era de pouco mais de R$ 3 milhões, quando o dinheiro deveria ter sido empregado no destino do convênio ; capacitação de profissionais ligados ao turismo no Amapá.
O Correio mostrou ontem que a rede de influência dos empresários do Ibrasi passa também pelo Tribunal de Contas da União (leia mais na página 4). No Ministério do Turismo, uma das principais colaboradas era a servidora Kérima Silva Carvalho. Em uma das conversa gravadas, Katiana pede que Kérima altere dados incluídos no Sistema de Convênios do governo federal para provar que não há irregularidade nos contratos firmados para capacitação profissional e fortalecimento do turismo no Amapá. A Caixa Econômica Federal informou ter todo interesse em apurar a denúncia, assim que for informada oficialmente pelos órgãos competentes.