Politica

Prisões no MTur trazem à luz antigas divergências entre aliados

Igor Silveira
postado em 14/08/2011 08:00
Com 36 presos, ação foi deflagrada pela PF contra integrantes do Ministério do Turismo e expôs a disputa política entre PT e PMDBUm convênio de R$ 4,4 milhões para capacitar profissionais na área de turismo trouxe as operações da Polícia Federal de volta aos holofotes e expôs crises latentes na base aliada ; represadas desde o fim do governo Luiz Inácio Lula da Silva. Enquanto o ministro Pedro Novais se preparava para participar de um evento na capital paulista, na última terça-feira, cerca de 200 policiais apressavam-se para cumprir 38 mandados de prisão contra empresários, funcionários do Ministério do Turismo e parte da cúpula da pasta, incluindo o secretário executivo, Frederico Silva da Costa, número dois na hierarquia do órgão. A primeira grande operação da Polícia Federal (PF) na Esplanada dos Ministérios durante a gestão da presidente Dilma Rousseff não só piorou a relação de petistas e peemedebistas, mas deflagrou chantagens da base aliada contra o governo Dilma.

Segundo as investigações, iniciadas em fevereiro deste ano, o Instituto Brasileiro de Desenvolvimento e Infraestrutura Sustentável (Ibrasi) teria desviado quase R$ 3 milhões de verbas públicas ; o equivalente a dois terços do total previsto para o convênio. Para burlar a lei, o dinheiro era pago a empresas de fachada e ações da empresa eram justificadas como necessárias para suprir a ;crescente demanda; do segmento no Amapá. No despacho judicial assinado pelo juiz Anselmo Gonçalves Dias, a quantidade de profissionais que passariam pela capacitação no estado, 1,9 mil pessoas, é classificada pelo magistrado como ;fabulosa;.

No Congresso, o PMDB precisou ser amansado pela ministra das Relações Institucionais, Ideli Salvatti. Ela disse, em reunião no Senado com representantes da legenda, que o ministro Pedro Novais não tinha relação com as denúncias, já que o convênio teria sido firmado na gestão anterior.

Laços
A organização criminosa tinha laços no Tribunal de Contas da União (TCU). Quando começou a ser questionado pela Justiça sobre supostas irregularidades no convênio, Luiz Gustavo Machado, dono do Ibrasi, contratou o escritório do filho do ministro do TCU Aroldo Cedraz. As investigações da Polícia Federal trazem escutas telefônicas nas quais o advogado e procurador do GDF Romildo Olgo Peixoto Júnior, sócio de Tiago Cedraz, filho do ministro do TCU, afirmava que ;sabia tudo o que se passava no tribunal;. Nos autos, a Polícia Federal comenta sobre o assunto que a quadrilha tentou ;resguardar-se de uma possível decisão prejudicial do TCU ao contratar para a sua defesa o advogado Tiago Cedraz;.

Na sexta-feira, o Correio revelou também o envolvimento de dois funcionários da Caixa Econômica Federal (CEF) teriam se fornecido dados ao Ibrasi quebrando o sigilo funcional. Com informações privilegiadas, os dois servidores da estatal ignoravam exigências formais determinadas pelo Banco Central. Tudo teria sido passado para Katiana Necchi, filha de Maria Helena Necchi, sócia de Luiz Gustavo Machado no Ibrasi. As investigações da PF apontam Machado como chefe do esquema ilícito.

Mais tarde, em nota, o banco informou que uma sindicância para apurar a denúncia foi aberta. ;A Caixa Econômica Federal informa que abriu procedimento interno de apuração para averiguar notícias veiculadas na edição desta sexta-feira do jornal Correio Braziliense, no que diz respeito à suposta conduta irregular de dois de seus empregados. A Caixa tem todo interesse na completa apuração do caso e solicitou à Polícia Federal acesso oficial ao processo;, informava a estatal em nota.

Pedido de afastamento

O PSDB sugeriu ontem, que o ministro da Agricultura, Wagner Rossi, se afaste do cargo até o fim das apurações sobre supostas irregularidades na pasta. ;O mais indicado seria seu afastamento até o final das investigações. Se nada for comprovado, ele retorna ao cargo. Isso já aconteceu anteriormente e daria credibilidade ao ministro e à presidente Dilma (Rousseff);, disse o líder do partido na Câmara, Duarte Nogueira (SP). Segundo o deputado, o setor agrícola pode sofrer com a continuidade da crise, que começou há duas semanas. ;No momento em que uma nova crise mundial se configura, o setor não pode ser prejudicado pela crise política;, explicou Duarte Nogueira.

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