Paulo de Tarso Lyra
postado em 19/08/2011 07:57
A expressão ;faxina; foi incorporada de vez ao dicionário político do governo Dilma Rousseff. A própria presidente usou-a ontem, em solenidade realizada em São Paulo para o lançamento do Brasil sem Miséria da Região Sudeste. ;É o Brasil inteiro fazendo, de fato, como diz a imprensa, a verdadeira faxina que esse país precisa fazer. A faxina da miséria;, disse Dilma (leia matéria abaixo), ampliando o termo que vem sendo utilizado pelos meios de comunicação para designar as demissões de ministros e de servidores públicos envolvidos em casos de corrupção.O jargão surgiu por acaso, não foi algo pensado pelo governo. Mas as ações de combate à corrupção estão rendendo frutos perante a opinião pública e em alguns círculos influentes de poder, como no Supremo Tribunal Federal. O ministro Marco Aurélio Mello classifica a ;faxina; conduzida pela presidente Dilma Rousseff de ;uma cruzada em busca da ética;. Para o magistrado, mais importante que o rótulo ;faxina; é observar-se o conteúdo daquilo que se tem feito.
;Precisamos realmente no Brasil de uma cruzada para estabelecer-se a ética. O Brasil sangra, considerados a administração pública, os desvios de conduta, o fato de se ter administradores que não são vocacionados e que utilizam o cargo não para servir, mas para se servirem dele;, opina o ministro do STF. ;Acho que a presidente Dilma é merecedora dos nossos aplausos, do reconhecimento geral. Somente assim é que se avança;, acrescentou.
Cruzada
Um aliado da presidente admite que não houve, até o momento, tempo para se avaliar ganhos políticos das ações contra corrupção. Para esse espectador privilegiado, a gestão Dilma, nestes oito meses, está acelerada demais para permitir pausas para reflexão. ;Assumimos com uma inflação de 6% e a necessidade de cortar R$ 50 bilhões do Orçamento. Compramos a briga com os parlamentares e mergulhamos na guerra cambial. Protegemos a nossa economia e o Palocci (Antonio Palocci, ex-chefe da Casa Civil) foi obrigado a pedir demissão. Cai o principal ministro e, dois meses depois, enfrentamos essa sucessão de exonerações e demissões;, afirma o interlocutor, em um fôlego só.
Para o senador Pedro Simon (PMDB-RS), criador de uma frente anticorrupção que se reunirá na próxima terça com entidades como a OAB, a CNBB e a Associação Brasileira de Imprensa (ABI), Dilma está fazendo o que precisa, ao tomar cuidado com as nomeações no setor público e afastar quem não se comporta dentro dos princípios éticos. ;Fiz várias denúncias a Fernando Henrique Cardoso e a Lula, mas eles não ligavam. Temos que iniciar um movimento pela ética semelhante ao das Diretas Já;, convocou Simon.
Espremido entre a defesa da presidente e a necessidade de não melindrar os partidos aliados, o líder do governo na Câmara, Cândido Vaccarezza (PT-SP), evita adotar o termo faxina. ;O governo enfrentou problemas reais e deu as respostas à medida que as coisas foram acontecendo;, disse ele.