Politica

Falta de sintonia entre base e Planalto provoca pressões em bancadas

Paulo de Tarso Lyra
postado em 22/08/2011 08:19
A falta de sintonia política entre o Palácio do Planalto e a base aliada não se restringe apenas à relação do governo com o Congresso. Tem provocado pressões dentro das próprias bancadas, colocando em risco a capacidade de articulação dos líderes políticos, e criado divisões que ameaçam a harmonia dos partidos tanto na Câmara quanto no Senado. Na bancada de senadores do PR, a decisão de deixar a base de sustentação do governo gerou uma discussão intensa entre o líder Magno Malta (ES) e seus liderados. No PP, a pouca afinidade com o governo levou à derrubada do deputado Nelson Meurer (PR). No PMDB, metade da bancada de deputados se organiza para derrubar Henrique Eduardo Alves (RN) da liderança do partido na Casa. ;As dificuldades com o Planalto estão atrapalhando os partidos;, reconhece o deputado Eduardo Cunha (PMDB-RJ), ele próprio é alvo da desconfiança do baixo clero da bancada peemedebista.

O Planalto, enquanto busca calibrar a relação com sua base de sustentação no Congresso, aposta nas secessões para retomar o controle. No caso do PR, por exemplo, a ministra Ideli Salvatti atuou em duas frentes no Senado. Na primeira tentativa, lembrou ao líder Magno Malta (ES) que ele tinha um irmão na assessoria parlamentar do DNIT e não fechou as portas para uma possível aliança do senador Clésio Andrade (MG) com o ministro do Desenvolvimento, Indústria e Comércio, Fernando Pimentel, na disputa pelo governo de Minas em 2014. ;Eu apoiei Dilma em 2010, com o Pimentel, mas a minha prioridade para 2014, no momento, é buscar a reeleição para o Senado;, desconversou Clésio.

Na sexta-feira, Ideli chamou o líder do PR na Câmara, Lincoln Portela (MG), que há mais de um mês brada pelos corredores do Congresso que o partido será independente do Planalto, para convencê-lo de que o lugar do partido é na coalizão que sustenta o governo Dilma Rousseff. Portela ouviu as ponderações da ministra e disse que vai conversar com seus correligionários. Levou o recado palaciano ao presidente nacional do PR, senador Alfredo Nascimento (AM) ; o mesmo que na terça-feira jurou que o PR desembarcaria da nau dilmista. ;Não dei a resposta para a Ideli, preciso consultar as bases da legenda. Foram 45 dias maturando a decisão de sair do governo;, esquivou-se Portela.

Instabilidade

No PP, o partido já havia se dividido durante as eleições presidenciais do ano passado. Apesar da decisão do presidente nacional da legenda, Francisco Dornelles (RJ), de apoiar a então candidata a presidente Dilma Rousseff, o então vice-líder do governo na Câmara, Ricardo Barros (PR), ficou do lado da candidatura de José Serra para presidente. No início deste ano, a bancada escolheu Nelson Meurer (PR) para liderar os deputados. Insatisfeitos com a falta de ;sintonia; do deputado com o Planalto, substituíram-no por Agnaldo Ribeiro (PB). ;O PP apoiou tantos golpes em sua história que resolveu dar um golpe em si mesmo;, protestou o deputado Vilson Covatti (RS), em uma reunião interna da bancada.

O PMDB também está em crise interna. ;Como o Planalto não consegue dar andamento às demandas, os líderes acabam sendo pressionados para conseguir coisas que eles não têm como oferecer;, disse Eduardo Cunha. Os principais articuladores do movimento contra Henrique são os deputados Danilo Forte (CE) e Rose de Freitas (ES). Um experiente deputado enxerga no movimento dos dois parlamentares uma mera busca por objetivos pessoais, sem questões ideológicas ou partidárias.

Para esse peemedebista, Danilo ainda ressente-se da perda da presidência da Funasa e deposita suas mágoas no líder Henrique Eduardo Alves, a quem acusa de não ter se empenhado na manutenção do cargo na cota do PMDB. Já o caso de Rose de Freitas seria ainda maisv grave: ela teve total apoio de Henrique Alves na disputa interna pela indicação para a vice-presidência da Câmara. Foi eleita e, diante das acusações que assolam o Ministério do Turismo, passou a enxergar a oportunidade de colocar um apaniguado na vaga de Pedro Novais.

Caciques políticos acreditam que as instabilidades não acontecem apenas pela falta de articulação entre o Planalto e a base. A falta de uma pauta consistente de votações no Congresso também deixa um vácuo político que passa a ser ocupado pelas intrigas e disputas internas. Por outro lado, há um carência de lideranças capazes de motivar os liderados, tanto na Câmara quanto no Senado.

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