postado em 11/09/2011 08:11
Nunca antes na história recente deste país a disputa de uma vaga para ministro do Tribunal de Contas da União (TCU) foi acompanhada tão de perto pelos analistas políticos e pelos próprios parlamentares. E todo esse alvoroço ocorre graças à candidatura da líder do PSB, a pernambucana Ana Arraes. Aos 63 anos, em seu segundo mandato na Câmara, fechou a semana com uma boa margem de votos no PT de Lula, no PSDB de Aécio Neves e no PSD de Gilberto Kassab, e chama a atenção com a possibilidade geral de ser a primeira mulher a ocupar uma vaga no TCU, desde a redemocratização do país. A última que obteve esse mérito foi Élvia Castelo Branco, ainda no período da ditadura militar (1964-1985).
Advogada e técnica judiciária do Tribunal Regional do Trabalho da 7; Região, ela junta em sua campanha o sobrenome do pai, Miguel Arraes, e conta ainda com o trabalho do filho, o governador de Pernambuco, Eduardo Campos. Mas não é só isso. O PCdoB de Aldo Rebelo fez de tudo para que ela desistisse da disputa e apoiasse o candidato comunista. Ela não topou: ;No meu dicionário, não existe a palavra desistir. A minha candidatura não é minha. Foi apresentada pelo meu partido e estou trabalhando para ganhar;, afirma.
Quem conhece dona Ana, como os colegas de Congresso a chamam, sabe que ela fala sério. Afinal, desde muito jovem ela enfrentou as dificuldades impostas pela ditadura militar. Em julho de 1964, aos 17 anos, foi incisiva com o comandante-geral do IV Exército, general Olímpio Mourão Filho, ao pedir que ele liberasse a presença de seu pai, àquela altura preso político em Fernando de Noronha, para que ele pudesse comparecer ao casamento da filha. Ela tanto fez que o general assentiu. E, em agosto, ela se casou na capela da Base Aérea, cercada por soldados.
Do casamento, Miguel Arraes voltou para a cadeia. Ana, já casada, não seguiu com ele para o exílio mais tarde. Só foi revê-lo mesmo em 1970, quando levou seus filhos para conhecer o avô em Argel, capital da Argélia, entre eles, o pequeno Eduardo. A família só se reuniu para valer em 1979, quando Arraes voltou do exílio e ela passou a acompanhar de perto a carreira do pai. E, mais tarde, a carreira política do filho. ;Eu nem pensava em ser candidata, mas fui. Agora, também não pensava em concorrer ao TCU, mas tomei gosto;, diz.
Liderança
A candidatura a uma vaga na Câmara dos Deputados aconteceu mais ou menos como esta de agora para o TCU. Com Eduardo Campos candidato a governador, em 2006, o partido considerou importante ter o sobrenome Arraes no palanque. E foi assim que ela, então com 59 anos, virou candidata e terminou surpreendendo. Hoje em seu segundo mandato, com Dilma Rousseff presidente, foi logo guindada à condição de líder da bancada. No comando do partido, agregou mais do que dividiu. Mas não deixou de dar uma resposta seca ao deputado Gabriel Chalita, quando ele saiu do partido atirando contra o PSB. Ela lhe passou uma descompostura dizendo que ele poderia ter saído do partido pela porta da frente.
Entre os colegas ela é vista como alguém de fibra. Voz baixa, porém firme. E quando toma gosto por alguma coisa, não tem obstáculo que a segure. Na política foi assim. Tomou tanto gosto que, no ano passado, percorreu 120 mil quilômetros no período de campanha, o que ajudou a multiplicar a votação de 2006. Foram 387.581 votos, o que a colocou entre as campeãs em todo o Brasil. Ela espera que para o TCU não seja diferente.
Três perguntas para - Ana Arraes (PE),
líder do PSB na Câmara dos Deputados
Por que a senhora quer ser ministra do TCU?
Acho que posso juntar a experiência do período em que fiquei no tribunal com a sensibilidade política. Eu não pensava em ser candidata, mas o partido me propôs, eu pensei e aceitei o desafio. Eu acredito na política. Nasci nela. A política cria chances de mudanças. Ela tem construído no Brasil muitas mudanças. Quando não, era porque não tinha órgão fiscalizador atuante com a força que a democracia dá. A técnica também é importante, aliada à política. Sou advogada, possuo a técnica e espero aliar as duas coisas.
Houve muita pressão para que a senhora desistisse. Como é concorrer contra colegas que têm muito mais tempo de mandato que a senhora?
Meu pai dizia que quem tem medo de perder não disputa. Não tenho medo de disputar. Posso até não ganhar, mas entro numa campanha para levar avante um objetivo. Além de todos os fatores, a presença de uma mulher. A única mulher no TCU foi Élvia Castelo Branco, ainda na ditadura.
E o governador Eduardo Campos nessa campanha?
Ele tem ajudado, mas quem disputa é a candidata. Nossa campanha segue com muito respeito, nosso partido se juntou, estamos conversando com outras legendas, com os eleitores e recebendo sinais positivos. Sou do diálogo. Se ganhar, a vitória será de muitos. Se perder, a derrota será da candidata.