Paulo de Tarso Lyra
postado em 12/09/2011 08:00
Fechados os primeiros oito meses de governo, o Palácio do Planalto considera praticamente encerrada a troca de cargos de segundo escalão pretendida pelos aliados, embora a maioria dos 300 postos em disputa ainda permaneça ocupada pelos mesmos nomes. A maior pendência, do ponto de vista do Planalto, ainda é a Companhia Hidroelétrica do São Francisco (Chesf), em litígio entre PMDB, PSB e PT. Assim que a presidente Dilma escolher o indicado, a ministra de Relações Institucionais, Ideli Salvatti, chamará os partidos que perderem essa disputa para que sejam compensados com diretorias da Companhia Vale do São Francisco (Codevasf), Banco do Nordeste (BNB) e Departamento Nacional de Obras contra as Secas (Dnocs), de forma a acomodar as bancadas do Nordeste.A disputa pela Chesf começou no fim do ano passado e esquentou em janeiro, quando a presidente Dilma Rousseff, numa conversa com o governador de Pernambuco, Eduardo Campos, pediu a ele que indicasse um nome para comandar a empresa. O atual presidente, Dilton da Conti Oliveira, é da cota do governador pernambucano, mas nem ele próprio demonstrava muita disposição de manter seu apadrinhado. A situação do executivo agravou-se após o apagão que escureceu sete estados por quase seis horas, no início de fevereiro.
A primeira justificativa dada pela Chesf foi um problema em uma subestação de Pernambuco. A presidente não gostou e convocou uma grande reunião com todos os presidentes de estatais do setor elétrico. A Chesf viu-se então obrigada a rever sua posição e admitir que era a responsável direta pelo blecaute.
PT x PSB
Para substituir Dilton, o governador de Pernambuco, Eduardo Campos, sugeriu o nome do secretário de Recursos Hídricos, João Bosco de Almeida, funcionário de carreira da empresa. Com a senha oficial para a substituição dada, os demais partidos se ouriçaram e cresceram o olho sobre o cargo, em especial, o PMDB ; que já tem o Ministério de Minas e Energia ; e o PT, que disputa com o PSB uma hegemonia no Nordeste.
Agora, diante de um litígio entre os partidos, cabe à presidente Dilma arbitrar essa partida e, assim, destravar as indicações que faltam. A Companhia de Desenvolvimento do Vale do São Francisco (Codesvasf), por exemplo, aguarda um novo presidente desde o início do ano. Hoje, a empresa é dirigida por Clementino Coelho, irmão do ministro da Integração Nacional, Fernando Bezerra Coelho. Clementino comanda a diretoria de Desenvolvimento Integrado e Infraestrutura da Codevasf desde o início do governo de Luiz Inácio Lula da Silva. Com a saída dos indicados pelo PMDB da Bahia, no final do governo Lula, passou a responder interinamente pela presidência por ser o diretor mais antigo da estatal. O PSB aguarda uma definição do Planalto para que possa ficar livre da situação constrangedora de ter o irmão do ministro da Integração respondendo por uma empresa ligada à pasta.
Quem apita
Além da presidência da Codevasf, faltam ainda várias indicações para a empresa nos estados. No Piauí, por exemplo, os senadores Ciro Nogueira (PP-PI) e Wellington Dias, do PT, não chegaram a um acordo sobre quem ocupará a regional da companhia. Enquanto não houver um entendimento, a nomeação não sairá. O mesmo vale para as diretorias do Departamento Nacional de Obras Contra as Secas (Dnocs).
Esses cargos do Nordeste são os que mais incomodam o Planalto hoje. Na avaliação do Poder Executivo, alguns postos que os aliados ainda sonham em substituir são considerados ;caso encerrado; pela ministra de Relações Institucionais, Ideli Salvatti. Na semana passada, por exemplo, o PMDB de Minas Gerais ameaçou uma rebelião por causa do Departamento Nacional de Produção Mineral (DNPM). O partido emplacou o presidente, mas divide as diretorias com outros aliados, sendo uma do PTB e duas do PT, inclusive a Diretoria de Finanças. Irritado com essa divisão, o PMDB mineiro cogitou até mesmo entregar a presidência. E ouviu do governo que não haverá troca na área financeira. Até o momento, o Planalto não recebeu a carta de demissão do presidente. O ministro de Minas e Energia, Edison Lobão, já fez até mesmo a solenidade de posse da diretoria e a ordem de Dilma é que não se mexa mais no DNPM. ;A única possibilidade de troca seria nas vagas já ocupadas pelo PMDB. Eles não terão um cargo a mais;, garantiu um auxiliar da presidente Dilma.
Os papéis de cada setor do governo em relação a quem apita na hora de distribuir determinados cargos estão bem definidos. No caso das agência reguladoras, Dilma já fez chegar aos partidos que as indicações devem ser feitas diretamente ao seu gabinete. Em novembro, por exemplo, termina o mandato do diretor-geral da Agência Nacional de Petróleo e Gás (ANP), Haroldo Lima. O PCdoB tentará manter o cargo sob a sua jurisdição, mas ainda não se definiu por um único nome. Uma coisa é certa: nessa seara, a única pessoa a ser convencida sobre o currículo do indicado é a presidente Dilma.