Politica

Dilma distribui puxões de orelha na Assembleia Geral da ONU

postado em 22/09/2011 08:40


Nova York ; Num discurso de 24 minutos, interrompido seis vezes por aplausos, a ;primeira voz feminina; a abrir uma Assembleia Geral das Nações Unidas distribuiu puxões de orelhas por todos os lados. Dilma Rousseff, em sua estreia diante de 130 chefes de Estado e outros representantes, num total de 193 países, passou um pito em todos os comandantes do primeiro mundo ao citar a crise econômica mundial e o aumento do desemprego. ;Não é por falta de recursos financeiros que os líderes dos países desenvolvidos ainda não encontraram uma solução para a crise. É, permita-me dizer, por falta de recursos políticos e de clareza de ideias;, afirmou, alertando que ;ficam presos na armadilha que não separa interesses partidários daqueles interesses legítimos da sociedade;.

A presidente brasileira aproveitou para lançar a todos o desafio ;de substituir teorias defasadas, de um mundo velho, por novas formulações para um mundo novo;. E citou na delicada questão do emprego, enumerando 44 milhões de desempregados na Europa e 14 milhões nos Estados Unidos. ;Enquanto muitos governos se encolhem, a face mais amarga da crise, a do desemprego, se amplia;, falando da sensibilidade das mulheres, que sabem que o desemprego ;golpeia famílias, nossos filhos e maridos. Tira a esperança e deixa a violência e a dor;.

Ao elencar as saídas para a crise, Dilma mencionou a necessidade de países altamente superavitários (ela não citou, mas um exemplo é a China) estimularem os mercados internos. E entrou no tema cambial. ;Quando for o caso, flexibilizar suas políticas cambiais, de maneira a cooperar para o reequilíbrio da demanda global;, afirmou.

Dilma defendeu controles à guerra cambial, com adoção de regimes de câmbio flutuante. ;Trata-se de impedir a manipulação do câmbio tanto por políticas monetárias excessivamente expansionistas como pelo artifício do câmbio fixo;, afirmou, num recado direto aos chineses. Em seguida, pregou novamente a reforma das instituições financeiras multilaterais, como o Fundo Monetário Internacional (FMI) e criticou o protecionismo.

;Todas as formas de manipulação comercial devem ser combatidas, pois conferem maior competitividade de maneira espúria e fraudulenta;, afirmou, ao lembrar que o Brasil está fazendo a sua parte mantendo gastos sob controle e precauções adicionais para reforçar a capacidade de resistência à crise.

Mais ao final do discurso, depois de citar que a melhor política de desenvolvimento ;é o combate à pobreza; e convidar a todos para a Conferência sobre Desenvolvimento Sustentável em 2012, a Rio%2b20, a presidente terminou com a voz embargada: ;Como mulher que sofreu tortura no cárcere, sei como são importantes os valores da democracia, da Justiça, dos direitos humanos e da liberdade. É com esperança de que esses valores continuem inspirando o trabalho desta Casa das Nações que tenho a honra de iniciar o debate desta Assembleia;, completou.

Palestina
Um dos momentos mais aplaudidos do discurso foi quando Dilma falou que a legitimidade do Conselho de Segurança da ONU ;depende cada dia mais de sua reforma;. Dilma lembrou que esse debate existe há 18 anos e ;não é possível protelar mais;. Não faltou ainda uma cutucada em Israel e naqueles que, como os Estados Unidos, tentam protelar o ingresso da Palestina na ONU.

Ao comentar a entrada do Sudão do Sul como integrante das Nações Unidas, ela lamentou não poder, naquela tribuna, saudar o ingresso pleno da Palestina na ONU, provocando mais uma sucessão de efusivos aplausos. ;Apenas uma Palestina livre e soberana poderá atender aos legítimos anseios de Israel por paz com seus vizinhos, segurança em suas fronteiras e estabilidade econômica em seu entorno regional;, disse Dilma, para alegria do líder palestino, Mahmoud Abbas, sentado na plateia. O israelense, Benjamin Netanyahu, não estava. Ele encontrou Dilma quando descia do carro e ela saía da ONU. Os dois trocaram um frio cumprimento.

Assista o discurso de Dilma



Ouça o áudio do discurso:

Obama
O presidente dos Estados Unidos não estava na plateia quando Dilma discursava. Fazia parte do protocolo. Ele só foi conduzido quando chegou a sua hora de falar. Em um discurso um pouco maior do que o da presidente brasileira, ele lembrou que a ;paz é difícil;. E foi direto: ;A paz é um trabalho duro. Não virá por meio de discursos e resoluções das Nações Unidas;, completou, olhando na direção de onde estava a delegação brasileira e o destacado vestido azul de Dilma. Abbas, que estava nas laterais, balançava a cabeça em sinal de descontentamento.

Nesse momento, a presidente Dilma tirou o fone do ouvido e fez um comentário com o chanceler Patriota, sentado ao seu lado.

Dilma não disse o que conversou com Patriota, mas o governo brasileiro considerou normal o discurso de Obama em defesa de Israel e da negociação direta entre israelenses e palestinos, sem constrangimentos. Em conversas reservadas, comentaram que o discurso de Obama já estava pronto quando Dilma subiu à tribuna da ONU para abrir os trabalhos da 66; Assembleia.

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