Paulo Silva Pinto - Enviado Especial
postado em 05/10/2011 07:41
Bruxelas ; Há quatro décadas, o economista Edmar Bacha criou um país, a Belíndia. Por meio dessa palavra, ele mostrou o que era o Brasil: um país que crescia tanto quanto a Bélgica, mas continuava miserável como a Índia. A analogia começou a se desgastar há mais de uma década com a aceleração do crescimento do emergente asiático. Agora chegou a vez de ir para a lata de lixo da história, diante de situações explícitas de miséria nas ruas da região central de Bruxelas. Há dezenas de moradores sem teto a 10 minutos de caminhada do hotel onde a presidente Dilma Rousseff se hospedou nos últimos dois dias.
Certamente, a miséria da Bélgica e de outros países europeus tem escala muito menor do que se vê no Brasil ou em outros países da América Latina. Mas, para os belgas nascidos depois da Segunda Guerra Mundial, é uma imagem cada vez mais comum. O país, mesmo crescendo mais do que a média da Europa, não consegue escapar dos efeitos da crise econômica que tem levado à recessão ou, no mínimo, à estagnação. Em uma cidade sofisticada, onde vive um rei, uma rainha e toda a burocracia da União Europeia, a cena é ainda mais chocante. Embute o tipo de contraste entre fausto e pobreza que colou à imagem do Brasil pelo mundo afora.
Dilma, inclusive, mencionou ontem a arrogância com que o Brasil era tratado no passado recente por países desenvolvidos. Em uma rápida entrevista a jornalistas, no fim da tarde, ela foi perguntada se pretende convencer as nações desenvolvidas a adotar determinadas medidas para debelar a crise. ;A única coisa que não se pode ter nas relações internacionais é uma certa soberba, que, aliás, nós conhecemos, porque tiveram com a gente;, afirmou a presidente. Ela se referia mais propriamente ao receituário aplicado na crise da dívida externa e da hiperinflação dos anos 1980 e 1990, que levaram o país à recessão. Mesmo sem dar receitas, Dilma afirmou que a Europa deve evitar medidas que resultem em recessão, desemprego e perda de direitos sociais. Segundo a presidente, só é possível garantir crescimento com impulso ao poder de compra dos consumidores e de programas de inclusão social.
Cooperação
Ao lado do presidente da Comissão Europeia, José Manuel Durão Barroso, e do presidente do Conselho Europeu, Herman Van Rompuy, a presidente Dilma Rousseff disse ontem que a solução para a crise econômica europeia passa pela cooperação global. ;É fundamental a coordenação política entre países para fazer face a esse momento internacional;, disse.
O Brasil candidata-se a uma atuação ativa nesse papel de coordenação. Tanto é assim que Dilma usou como exemplo a ação do G-20, grupo de países que inclui os mais desenvolvidos e os emergentes, e que foi formado na década passada em grande parte pelo esforço da diplomacia brasileira. Segundo Dilma, ;em 2008, a ação conjunta do G-20 evitou o colapso bancário e a recessão;. Em seguida, Dilma lamentou que isso não tenha evitado duras consequências para os europeus, sobretudo os mais pobres. ;Não se conseguiu retomar o crescimento sustentado, e novamente enfrentamos um cenário recessivo, com elevado nível de desemprego e erosão de conquistas sociais.;
Na terra natal do pai
A presidente Dilma Rousseff desembarcou ontem à noite em Sófia, capital da Bulgária. É a sua primeira viagem ao país, terra natal de seu pai, Petar, que, ao emigrar para o Brasil, tornou-se conhecido por Pedro. ;Esse país que é o Brasil tem uma capacidade imensa de absorver, de abraçar, de dar apoio e de transformar em nacionais todas as etnias. Nós somos europeus, nós somos africanos, nós somos índios, nós somos asiáticos. Eu achei importante, inclusive, que tivesse um rapaz japonês na apresentação (de dança na abertura da Europalia). Demonstra a diversidade do nosso país. A real diversidade;, afirmou Dilma. A presidente ficará na Bulgária até amanhã. Além da capital, Dilma terá compromissos oficiais em outras duas cidades: Veliko Turnovo e Gabrovo, onde se encontrará com familiares. (PSP)