Enviado Especial
postado em 09/10/2011 08:35
Sófia ; As medidas do Banco Central Europeu e do Banco da Inglaterra para enfrentar a crise econômica dominam o noticiário internacional nos últimos dois dias. No The Wall Street Journal Europe, versão europeia de um dos diários financeiros de maior prestígio do mundo, não foi diferente. Na página 2, havia na sexta-feira uma fotografia da presidente Dilma Rousseff ao discursar na V Cúpula Brasil-União Europeia. Em destaque, a frase: ;O Brasil está pronto para tomar responsabilidades de modo cooperativo... Vocês podem confiar em nós;.Detalhe importante: a frase foi pronunciada na terça-feira. Mas o discurso da presidente brasileira ainda repercute com força. É um sinal inequívoco da importância da viagem de Dilma para quem tinha dúvidas disso. A presidente se reposiciona no concerto da política global graças a intervenções mais assertivas. No primeiro semestre, recém-empossada, Dilma parecia estar ainda pouco à vontade ao lado de líderes de outros países. Também pesou o fato de que o encontro com o presidente Obama ocorreu em Brasília ; e a polidez recomenda generosidade especial com quem é convidado. Nas viagens para a Argentina e a China, o que estava em jogo eram relações bilaterais com pauta comercial delicada.
O novo jogo começou na abertura da Assembleia Geral da ONU, no mês passado, na qual Dilma culpou ;a falta de governança nos países desenvolvidos; pela crise que atinge todo o mundo, mas sobretudo os europeus. Também lamentou que a Palestina ainda não seja reconhecida como Estado.
Em Bruxelas, Dilma encontrou-se com o presidente da Comissão Europeia, José Manuel Durão Barroso, e com o presidente do Conselho Europeu, Herman Van Rompuy. A eles, a presidente afirmou: ;Não se conseguiu retomar o crescimento sustentado, e novamente enfrentamos um cenário recessivo, com elevando nível de desemprego e erosão de conquistas sociais;.
Soluções para a crise
Na Turquia, país onde encerrou a viagem de uma semana à Europa, a presidente reforçou a mensagem de recuperação dos países em crise. Segundo ela, o continente precisa encontrar uma saída rápida para os problemas financeiros, além de privilegiar a ;retomada do crescimento e a proteção do emprego;. Ela também defendeu que países emergentes formem parcerias para combater a guerra cambial e que o Brasil é um dos principais atingidos pelas ;políticas cambiais expansionistas; das nações desenvolvidas.
A assertividade de Dilma nesta viagem não se limitou a Bruxelas, Até mesmo na Bulgária, país onde nasceu o pai e que ela visitou sobretudo por questões afetivas, Dilma preocupou-se em deixar registrada uma mensagem de conteúdo político e universal: a importância de integrar os trabalhadores que vêm de outros países, assim como ocorreu com seu pai no Brasil. Em um continente onde é forte a xenofobia, a mensagem é significativa.
Se o teste da diplomacia presidencial de Dilma não começou agora, também não é neste momento que termina. A presidente participará ainda neste mês de uma reunião na África do Sul dos países que integram os Brics (além do Brasil, a Rússia, a Índia e a China). No início do próximo mês, a reunião será do G-20, grupo que inclui emergentes e os mais desenvolvidos, que integram o G-7.
Independentemente do resultado dos próximos encontros, Dilma já se livrou da sombra dos dois antecessores, presidentes que atuavam com gosto em política externa, e que até hoje são vistos como símbolos do Brasil no exterior.