Politica

Ministro do Esporte Orlando Silva volta a se defender, desta vez no Senado

Paulo de Tarso Lyra
postado em 20/10/2011 07:58


No quinto dia da maratona de explicações que o ministro do Esporte realiza para livrar o nome das denúncias de corrupção envolvendo a pasta que comanda, Orlando Silva contou com a recepção amistosa dos parlamentares do governo e da oposição para transformar a audiência pública do Senado em um ato de desagravo.

Senadores do DEM decidiram não participar da lista dos inscritos para questionar o ministro, e, pelo PSDB, apenas Álvaro Dias (PR) e Mário Couto (PA) direcionaram perguntas a Orlando durante a audiência. ;Se há a acusação, o ministro tem que sair? O que se pretende é tirar um ministro de Estado no grito;, reclamou Orlando Silva.

De acordo com o titular do Esporte, desde sábado, quando a revista Veja publicou entrevista com o policial João Dias Ferreira, sua rotina de trabalho foi prejudicada, porque ele teve que convocar coletivas e participar de audiências no Congresso para negar ter recebido propina na garagem do ministério. ;Tenho uma agenda de trabalho intensa, já consumi algum tempo para explicar as farsas. Cinco dias se passaram e provas não foram apresentadas. Sinto hoje viver um linchamento público, sem provas.;

O ministro do Esporte também tachou de campanha difamatória informações publicadas sobre a compra de um terreno em Campinas (SP), avaliado em R$ 370 mil, que foi pago à vista por ele. Orlando afirmou que o imóvel é o seu primeiro e ;único; bem e que os recursos para pagar o cheque registrado no contrato de compra e venda vieram de uma conta poupança montada com ajuda da família. ;Trata-se do único bem que possuo. É uma casa de 110m;. Vai ser a primeira casa que vou ter na vida. O cheque que gastei veio de toda a poupança que juntei na vida e com ajuda familiar;, alegou.

Orlando Silva afirmou que pretende apresentar queixa-crime contra João Dias por calúnia e rejeitou a hipótese de o policial ter registros de imagem ou som que comprovem encontros irregulares do ministro com representantes de entidades que recebem dinheiro da pasta. ;Desafio o registro da minha voz, desafio o registro da minha imagem.; O ministro disse que não pretende processar a revista que publicou a entrevista do policial, mas defendeu a prisão de seus acusadores. ;Não vou descansar enquanto não prenderem os delinquentes que me acusam de maneira vil.;

O ministro chamou de ;manobra política; a citação da gestão do governador do Distrito Federal, Agnelo Queiroz, na denúncia envolvendo a ONG do policial e defendeu o líder petista por duas vezes durante a audiência. Orlando afirmou que, apesar de ter dito que se reuniu com João Dias por indicação de Agnelo, ;assim como; ele, o encontro não significa que os gestores e o acusador tinham vínculos. ;É manobra política a vinculação desse suspeito com o governador do Distrito Federal, que para mim é uma pessoa ilibada.;

Enquanto a oposição decidiu amenizar o tom com o ministro, a senadora Ana Amélia (PP-RS) não poupou Orlando e questionou o titular da pasta se as denúncias contra ele o tirariam do posto de interlocutor do governo nas discussões com a Federação Internacional de Futebol (Fifa) sobre a Copa do Mundo de 2014. O ministro desconversou. Disse que a atribuição foi conferida por decreto presidencial e que nos diálogos não representa a si nem somente ao ministério, mas aos interesses de seu governo.

No Planalto, a informação é de que, pelo menos por enquanto, Orlando permanece como principal gerente do projeto Copa do Mundo 2014. Avalia-se que o momento é delicado, mas que ainda não há razões para esvaziar a pasta e transferir as atribuições para a Casa Civil. A pasta comandada por Gleisi Hoffmann não teria estrutura para conduzir sozinha o projeto. Ontem mesmo, assim que as especulações surgiram na imprensa, Gleisi fez questão de ligar para Orlando e negar interesse em assumir o papel. Ontem, a Casa Civil divulgou nota informando que Orlando continua no posto de representante do governo nas discussões da Copa. ;O governo reitera que o Ministério do Esporte é o responsável pela condução das ações relativas à Copa do Mundo 2014. Qualquer avaliação diferente não encontra respaldo na realidade.;

O aparente voto de confiança não significa que a situação do ministro esteja segura. O Planalto sabe que, em momentos como esse, é natural que o envolvido fique ;sem cabeça para tocar os projetos que executa no dia a dia;, afirmou um analista privilegiado. Interlocutores do PCdoB, inclusive, receberam indicações do Planalto de que é melhor preservar o ministério do que o ministro. Já no Ministério do Esporte, a situação é de perplexidade e aturdimento, o que pode atrasar algumas decisões enquanto o cenário político não for desanuviado.

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