O nome da enfermidade assusta. Até hoje, muitos se recusam a pronunciá-la ; trocam por ;aquela doença;, ;doença ruim; ou qualquer outro eufemismo que soe diferente de câncer. Essa falta de conhecimento é prejudicial não só aos pacientes, mas à sociedade em geral. Para especialistas, chega a ser um fator de risco, pois, quanto menos se sabe, menor a preocupação com hábitos que podem levar à proliferação anormal das células no organismo. No caso dos cânceres de cabeça e pescoço, como o que acomete o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, a informação crucial é que eles podem ser evitados. Para isso, é preciso ficar longe de dois hábitos comuns entre a população: tabagismo e etilismo.
Uma pesquisa realizada pelo Inca confirma o estigma. Ao responder a pergunta: ;Quando você pensa em câncer, qual é a palavra que vem a sua cabeça?;, 60% dos brasileiros associaram o câncer à morte ou dor, embora mais de 70% dos 2.100 entrevistados soubessem que o câncer pode ser tratado. Para a médica Sueli Batista de Almeida, que está terminando sua dissertação de mestrado sobre câncer de mama, esse estigma ainda está muito ligado à perspectiva de cura. ;É uma doença que por muito tempo não teve cura. Ainda hoje, sabemos que o tratamento não é garantia;, avalia. Para o oncologista Adalberto Abrão Siufi, a internet contribuiu bastante para reduzir o preconceito em torno do câncer.
Desinformação
Especialistas afirmam que no Brasil uma parcela alta da população ainda é desinformada quanto à doença e isso contribui para o silêncio em torno desse assunto. Para oncologistas e psicólogos, uma das formas de desmistificar a doença é conversar bastante com os pacientes e explicar cada etapa do processo de cura.
Se o tratamento do câncer, normalmente, já envolve incertezas e medos, esse temor se multiplica quando se trata de figuras públicas, como é o caso de Lula. Um dos médicos da equipe de Lula, Roberto Kalil Filho, falou com os jornalistas na tarde de domingo, a pedido de Lula, que afirmou querer total transparência. ;Ele determinou aos médicos que fossem bem transparentes, Lula sabe o que foi diagnosticado, tudo foi bem discutido.;
[SAIBAMAIS]A transparência na luta contra o câncer de personalidades da televisão, por exemplo, é uma forma de incentivar o fim do estigma em torno da doença. Em agosto deste ano, o ator Reynaldo Gianecchini confirmou que estava com câncer. Um mês depois, começou a circular com a cabeça raspada. Em 2002, a atriz e mulher do político Ciro Gomes, Patrícia Pillar tornou pública a sua luta contra o câncer de mama. Na época, ela afirmou que quis esclarecer logo a doença por acreditar que isso ajuda a desmistificar o tratamento. Outra luta marcante contra o câncer foi a da apresentadora Ana Maria Braga, que tão logo descobriu o câncer apareceu de cabelos bem curtos no seu programa na Rede Globo. ;Essa é uma ajuda boa, porque o combate à doença fica mais compreensível;, afirma o oncologista Adalberto Abrão Siufi.