Paulo de Tarso Lyra
postado em 04/11/2011 07:55
São Paulo e Brasília ; Durou apenas três meses a pré-candidatura da senadora Marta Suplicy (PT-SP) a prefeita de São Paulo. Ela foi forçada pelo ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva e pela presidente Dilma Rousseff a anunciar ontem que abriu mão da intenção de disputar o cargo nas eleições no ano que vem. Mas demover a ideia da cabeça de Marta não se mostrou uma tarefa fácil, muito menos convencê-la a anunciar a desistência publicamente. Coube ao ex-presidente Lula marcar encontros reservados com cada um dos principais apoiadores de Marta para deixá-la isolada. ;Na verdade, ela já havia percebido que estava isolada. Mas precisava de um discurso para justificar a desistência;, disse um petista diretamente interessado na disputa.
A cartada final seria um encontro que Lula teria com a petista na segunda-feira, quando pediria que ela apoiasse o ministro da Educação, Fernando Haddad, nas prévias e na eleição do ano que vem. Como descobriu que tem um câncer na laringe no último sábado, Lula, mesmo sob o impacto da informação, pediu para Dilma entrar em ação e convencer Marta a sair da disputa.
Dilma marcou um encontro na sala VIP do aeroporto de Congonhas, antes de embarcar para a reunião do G-20, na França. Disse que precisava dela no Congresso e que ficariam sob sua responsabilidade os temas de relevância do governo no Senado. Marta ainda tentou argumentar, mas Dilma deu a cartada final dizendo-lhe que estava isolada e, sozinha, não venceria as prévias. A senadora não teve escolha e, para evitar maiores constrangimentos, disse que desistiria.
No entanto, nem Lula nem Dilma estavam seguros de que Marta abandonaria a ideia de se candidatar, como ocorreu nas eleições em que disputou o Senado, no ano passado. Ela desobedeceu a uma recomendação de Lula de fazer uma dobradinha com Aloizio Mercadante (PT) e com o pagodeiro Netinho de Paula (PCdoB) e seguiu fazendo campanha sozinha. Para tirar a senadora de cena de vez, Dilma pediu que a ministra Helena Chagas, da Comunicação Social, anunciasse publicamente que Marta havia desistido.
Projetos
Ontem, o presidente do PT, Rui Falcão, pediu que Marta desse uma coletiva e ligasse para Lula, oficializando a desistência. De casa, onde se recupera do tratamento contra o câncer, Lula telefonou a Haddad, pedindo que ele entre em contato com a senadora e peça apoio formal a ela. Na entrevista, a senadora não disse que apoiará Haddad. ;Vou me resguardar para esperar o processo (das prévias) terminar. Depois vou para a luta, do lado de quem for escolhido. E vou para ganhar;, ressaltou.
Desde que o processo eleitoral começou a ser costurado dentro do PT, Marta defendeu as prévias e saiu em pré-campanha bem antes dos demais candidatos. Ontem, ela mudou de opinião sobre o assunto. ;A prévia é uma coisa muito difícil, principalmente com uma pessoa combativa como eu. Não importa quem ganhasse, o partido sairia absolutamente rachado, sem unidade;, sustentou. Ao Correio, a senadora demonstrou ressentimento com a decisão. ;Nunca escondi de ninguém que eu queria muito voltar a ser prefeita da minha cidade. Pretendia recomeçar e dar continuidade a projetos importantes que ficaram em aberto. Tem coisas que eu quis fazer na prefeitura, mas não deu tempo;, ressaltou.
Já convencida de que está fora do jogo, Marta resolveu ligar no início da tarde para o ex-presidente para contar a sua decisão. ;Liguei para ele hoje de manhã. Ele está muito bem, falou que não aguenta mais ficar em casa e pediu para marcarmos um almoço;, disse. Ela chegou a negar que Dilma tenha lhe oferecido cargos em troca da desistência. ;Jamais existiria uma negociação nesse sentindo. Até porque estou muito bem como vice-presidente do Senado;, garantiu.
Com a saída de Marta, ainda restam na batalha pelas prévias dentro do PT o senador Eduardo Suplicy e os deputados federais Jilmar Tatto e Carlos Zarattini. Segundo o comando da legenda, a realização de prévias não é recomendável porque que elas criam uma imagem de ruptura interna.