postado em 05/11/2011 08:00
A proximidade do plebiscito que indicará se o Pará continuará sendo o segundo maior estado brasileiro esquentou o clima político e acelerou a velocidade com que os parlamentares queimam recursos da verba indenizatória da Câmara. Deputados que representam frentes contra e a favor da divisão do Pará em três, criando os estados de Tapajós e Carajás, têm utilizado recursos do mandato para alugar jatinhos e carros e espalhar malas diretas aos eleitores, que decidirão em 11 de dezembro o futuro da região. Nos últimos três meses, que marcaram o início da campanha oficial das frentes no plebiscito, o deputado Giovanni Queiroz (PDT-PA) gastou R$ 41 mil com uma empresa de táxi aéreo do sul do Pará, região correspondente à proposta do novo estado de Carajás. Queiroz é o autor do projeto que convocou o plebiscito e visitou 12 dos 39 municípios que poderão compor o estado de Carajás em voos fretados reembolsados pela Câmara. O deputado, apontado como principal nome para ganhar o governo do novo estado, por ter batalhado pela convocação do plebiscito no Congresso, afirma que as despesas com o táxi aéreo não têm relação com o plebiscito. ;Sempre usei, uso muito avião. Ir para Marabá de carro demora oito horas;, alegou, referindo-se ao município que pode vir a ser a capital de Carajás. ;Vou continuar pegando (táxi aéreo), porque me é permitido fazer. No sul do Pará não é preciso fazer campanha, porque já está pronta, os prefeitos estão fazendo.;
Assim como Giovanni Queiroz, o deputado Lira Maia (DEM-PA) desponta como principal candidato ao governo antes mesmo de o estado de Tapajós nascer. As despesas de transportes do parlamentar para percorrer os 27 municípios que podem formar o novo estado saíram dos recursos da verba indenizatória. Lira gastou R$ 29,5 mil com aluguel de carros e táxi aéreo. Em aviões de pequeno porte, passou por Santarém ; apontado como futura capital de Tapajós ;, Alenquer e Itaituba. Por terra, contratou a Tropical Rent a Car, empresa do município de Santarém, que já recebeu R$ 17,5 mil pelo aluguel de veículos. O Correio procurou o deputado, mas não obteve resposta até o fechamento desta edição.
A campanha contra a divisão do Pará também é dispendiosa. Nos últimos dois meses, a deputada Elcione Barbalho (PMDB-PA) pediu R$ 91 mil em ressarcimentos à Câmara. Desse total, R$ 23,3 mil serviram para pagar despesas com malas diretas e os outros R$ 67,2 mil para impressos, que foram espalhados na região metropolitana de Belém. De acordo com a assessoria da deputada, os recursos não foram utilizados para nenhum tipo de material relacionado ao plebiscito do Pará e os impressos pagos com a verba indenizatória financiaram o ;jornalzinho semestral; do mandato. Com relação ao plebiscito, acrescenta a assessoria, ;a deputada Elcione Barbalho é favorável à consulta popular, mas é contra a divisão; e ;participa de encontros e reuniões nos dias em que está no Estado, principalmente nos finais de semana.;
Doações
A primeira parcial da prestação de contas do plebiscito do Pará ainda não tem o montante movimentado pelas frentes que defendem a separação ou manutenção territorial do estado. Enquanto os coordenadores de campanha da frente Pró-Tapajós já falam em caixa de R$ 1,2 milhão e os da frente Pró-Carajás, em R$ 300 mil, os dados do Tribunal Superior Eleitoral (TSE) registram R$ 87,2 mil em doações de empresários para os defensores da divisão do Pará. As frentes contrárias à separação somam R$ 22,9 mil em doações, a maior parte de pessoas físicas.
O TSE ainda não divulgou o nome dos doadores de campanha que abastecem as frentes no plebiscito. De acordo com o deputado estadual Carlos Bordalo (PT), um dos coordenadores da frente contra a criação de Tapajós, mineradores e pecuaristas são os principais interessados na divisão do Pará e abrem o cofre para o grupo que defende os novos estados. ;A prestação parcial de contas retrata a realidade efetiva da campanha. As frentes contrárias têm tido mais dificuldade na arrecadação financeira. As frentes a favor têm a simpatia de grandes pecuaristas, de estados vizinhos ao Pará. A divisão é uma estratégia econômica de grupos responsáveis por controlar a cadeia produtiva da mineração e pecuária bovina;, critica.
O deputado Giovanni Queiroz afirma que a frente pela criação de Carajás tem conseguido dinheiro realizando leilões de gado, doados por fazendeiros que apoiam a divisão do estado. ;A gente está fazendo leilão para conseguir dinheiro. Todo comerciante do interior tem um pedaço de terra e doa uma cabeça de gado. Mineradora não dá dinheiro para ninguém. A riqueza que gera pobreza é a mineração.;
Enquanto a campanha não ganha força no rádio e na TV, equipes de fiscalização apertam o cerco contra a distribuição de material. A Polícia Federal apreendeu camisetas com os dizeres ;Sim para Carajás; na quinta-feira, em Belém. Em Santarém, representantes das frentes já realizam distribuição de adesivos a favor da criação de Tapajós.