Politica

Lupi ganha primeira batalha jurídica, mas fala demais em coletiva

Paulo de Tarso Lyra
postado em 09/11/2011 08:15
Lupi, durante entrevista:
O ministro do Trabalho, Carlos Lupi, desafiou na terça-feira (8/11), após reunião com as bancadas do PDT da Câmara e do Senado, a hierarquia do sistema presidencialista e afirmou não crer que a presidente Dilma Rousseff vá afastá-lo depois das denúncias de irregularidades nos convênios firmados pela pasta com ONGs. ;Duvido que ela o faça. Ela me conhece, sabe que o meu caso é diferente dos anteriores;, disse Lupi, ao ser questionado se o ritual de defesa pública e apoio do partido não repetia o mesmo calvário dos ministros anteriores que, mesmo assim, acabaram sendo exonerados. ;Isso é denuncismo para me tirar. Só saio abatido à bala. E tem que ser bala forte, porque sou pesadão;, afirmou ele, irônico.

Os próprios pedetistas reconheceram que Lupi falou demais na entrevista coletiva. ;Ele se empolgou com o apoio dos parlamentares;, disse o deputado Paulo Pereira da Silva, o Paulinho (SP). Presidente da Força Sindical, Paulinho nega que o sindicato tenha rompido o apoio dado ao ministério e prometeu que as centrais sindicais vão viajar o país em defesa de Lupi. ;Acho que só a CUT não vai;, palpitou Paulinho.

No Planalto, a avaliação é semelhante. ;Ele conseguiu reunificar o partido e ganhou a primeira batalha jurídica com a declaração do procurador Roberto Gurgel de que não existem indícios do envolvimento pessoal dele nas denúncias. Mas conseguiu, com suas frases, manter as manchetes dos jornais;, reconheceu um auxiliar da presidente.

Lupi disse que, até o fim da sua vida ; não apenas da sua gestão no ministério ; vai lutar para provar que é uma pessoa honrada e que nem ele nem o PDT estão envolvidos em atos de corrupção. ;Eu aprendi com o Brizola que as frases dão um sinal muito grande da personalidade humana. E eu não sou um homem apenas de frases;, alertou.

Clima tenso
A confiança apresentada pelo ministro na coletiva contrastou com o clima tenso na reunião com as bancadas realizada na sede do PDT, em Brasília. O deputado Reguffe (DF) e o senador Pedro Taques (MT) cobraram que o ministro se licencie do cargo para que as denúncias pudessem ser mais bem investigadas. ;As denúncias têm de ser investigadas até o fim e os culpados precisam ser punidos;, disse o parlamentar do Distrito Federal. Taques reconhece que não existem acusações diretas contra o ministro. ;Mas precisamos apurar;, alertou.

Os dois, ao lado do deputado Miro Teixeira (RJ) ; que faltou à reunião alegando dores no joelho ;, contudo, foram enquadrados pela maioria. ;Isso é uma democracia. Eles entenderam que a petição seria o melhor caminho para apurar as irregularidades. Mas eu já tinha pedido a mesma coisa para a PGR. Como fiz o pedido primeiro, o deles foi anexado ao meu;, provocou Lupi.

Outro momento de tensão ocorreu quando o deputado Brizola Neto (RJ) resolveu tirar satisfações e cobrou do líder da bancada na Câmara, Giovanni Queiroz (PA), explicações sobre uma entrevista dada por ele afirmando que ;tirando o Brizola Neto, que quer tirar o Lupi para virar ministro da presidente Dilma, todos os deputados confiam no ministro;. ;Essas declarações não ajudam nada no momento. Eu discordo da forma como o Lupi conduz o partido. Mas exponho minhas opiniões nos fóruns internos do partido;, criticou o neto do fundador do PDT.

Brizola Neto reconheceu que a declaração do procurador-geral da República de que as denúncias feitas até o momento não contêm indícios de envolvimento do ministro nas irregularidades ;reforçaram o discurso de Lupi perante a bancada;. Mas ele discordou das palavras de Queiroz, que chegou a afirmar que, caso a presidente Dilma resolva afastar o ministro, o PDT deixará o governo. Para Brizola, Queiroz foi irresponsável ao fazer essa declaração. ;Se o Lupi for afastado, uma possibilidade que eu acho cada vez mais remota, teremos de nos reunir para saber o que fazer. Não estamos no governo por conta de um ministério. Estamos porque temos afinidade com o programa da presidente Dilma;, disse Brizola.

Gurgel não vê indícios
O procurador-geral da República, Roberto Gurgel, afirmou que não há indícios de que o ministro do Trabalho, Carlos Lupi (PDT), tenha envolvimento com o suposto esquema de desvio de verbas em convênios da pasta com entidades sem fins lucrativos. ;Por enquanto, os elementos dizem respeito a irregularidades em programas do Ministério do Trabalho, mas não apontam, pelo menos neste primeiro momento, o envolvimento direto do ministro;, afirmou Gurgel. Três parlamentares do PDT apresentaram representações na Procuradoria-Geral da República (PGR) pedindo a investigação do suposto esquema de propina no ministério. ;Estamos ainda em uma fase de reunir os documentos. Eu não poderia precisar um prazo para esse exame. Estamos em um momento bem inicial das investigações;, destacou o procurador.

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