Politica

Assessores ligados a Lupi são suspeitos de cobrar por registro sindical

postado em 27/11/2011 08:00

Há quase um mês sob a suspeita de irregularidades em convênios firmados pela pasta, o ministro do Trabalho, Carlos Lupi, dificilmente escapará de prestar novos esclarecimentos nesta semana. Depois de falar na Câmara dos Deputados e no Senado Federal, o ministro permaneceu na pasta, com aval da presidente Dilma Rousseff, mas com substituição praticamente sacramentada para fevereiro. O período de aviso, no entanto, corre o risco de ser diminuído, depois de mais denúncias publicadas neste fim de semana.

Edições das revistas Veja e Istoé trouxeram entrevista com um sindicalista que revela ter sofrido tentativa de extorsão. Segundo a matéria, assessores de Lupi teriam cobrado R$ 1 milhão pelo registro de um sindicato. Antes, a Veja já tinha denunciado a existência de um esquema de propina pago a assessores do Ministério do Trabalho ; semelhante à acusação que derrubou o então ministro do Esporte, Orlando Silva, no fim de outubro. Na segunda acusação do fim de semana, o jornal Folha de S.Paulo aponta que Lupi teria sido funcionário fantasma da Câmara dos Deputados por quase seis anos.

Segundo a reportagem, Lupi era lotado na liderança do PDT, de dezembro de 2000 a junho de 2006. Assessores, deputados e ex-deputados do PDT confirmaram que Lupi não aparecia no gabinete da Câmara e se dedicava exclusivamente a tarefas partidárias.

Em banho-maria
Diante das novas denúncias, a oposição renovou o coro pela sétima demissão ministerial em um ano. ;Não há mais o que esclarecer, ele está atolado até o pescoço. É hora de exigir providências;, pressiona o líder tucano no Senado, Álvaro Dias (PR). A avaliação do Palácio do Planalto, no entanto, é de que a presidente Dilma não deve rever a decisão de estancar a demissão de ministros por ;pressão da mídia;. Na semana passada, durante reunião da executiva do PDT, alguns integrantes do partido reiteraram apoio ao ministro e negaram, mais uma vez, cogitarem a substituição do ministro. ;Tirá-lo seria uma confissão de uma dívida que não devemos;, justificou o líder do partido na Câmara, deputado Giovanni Queiroz (PA).

O clima de união, porém, não é unanimidade no partido. Alguns defendem publicamente a saída de Lupi da pasta. ;Desde o início, eu fui o primeiro do partido a defender o afastamento do ministro. Continuo defendendo e acredito que todas as denúncias precisam ser investigadas a fundo, doa em quem doer;, avalia o deputado Reguffe (PDT-DF). Ele integra a ala dissidente do partido, ao lado dos senadores Pedro Taques (MT) e Cristovam Buarque (DF). ;Eu já me manifestei sobre esse assunto, agora cabe à presidente da República decidir o que vai fazer;, tergiversa Taques.

O mal-estar no PDT levou o deputado Paulo Pereira da Silva (SP), o Paulinho da Força, a sugerir na quinta-feira passada que os parlamentares insatisfeitos deixassem a legenda. ;Eles é que devem pedir para sair do partido. O partido é de companheiros e eles não estão sendo companheiros. Quando você está se sentindo mal no partido, pede para sair, vai para outro;, criticou Paulinho.


Continuo defendendo (o afastamento de Lupi) e acredito que todas as denúncias precisam ser investigadas a fundo, doa em quem doer"
Reguffe, deputado federal (PDT-DF)

Inquéritos em curso
> PAULO DE TARSO LYRA

A faxina promovida pela presidente Dilma Rousseff, com a queda de cinco ministros acusados de envolvimento em denúncias de corrupção, tem tirado o sonho dos titulares das pastas na Esplanada. O julgamento político feito pelo Palácio do Planalto afastou Antonio Palocci (Casa Civil), Orlando Silva (Esporte), Wagner Rossi (Agricultura), Alfredo Nascimento (Transporte) e Pedro Novais (Turismo). Desses, apenas Novais está livre de investigações posteriores. Todos os outros quatro estão sob análise da Polícia Federal, do Ministério Público ou do Superior Tribunal de Justiça (STJ).

Toda vez que um ministro deixa o cargo, o Código de Ética Pública exige um período de quarentena de quatro meses para que eles possam voltar a exercer alguma outra função. No caso dos afastados por Dilma, a discrição é ainda maior. O ex-todo-poderoso Antonio Palocci, por exemplo, depois de deixar a Casa Civil por não conseguir explicar como aumentou em 20 vezes o próprio patrimônio em apenas quatro anos, disse a interlocutores que não pretende mais candidatar-se a cargos eletivos, mas deverá ser procurado por petistas em 2012, em busca de contatos com empresários e financiadores de campanha. Palocci, que foi inocentado pelo Supremo Tribunal de Federal, em 2010, da acusação de ter sido o mandante da quebra do sigilo do caseiro Francenildo Santos Costa, está sendo investigado agora por improbidade administrativa.

Ex-ministro dos Transportes, Alfredo Nascimento deixou a pasta sob suspeitas de irregularidades. Reassumiu o cargo de senador pelo Amazonas. Também voltou a ser presidente do PR, cargo que era exercido interinamente pelo deputado Valdemar Costa Neto (SP). Quando saiu do ministério, fez um discurso duro no Senado, dizendo não aceitar que o partido fosse ;varrido para debaixo do tapete;. Agora, aguarda a Superintendência da Polícia Federal em Brasília concluir investigação sobre superfaturamento e aditivos irregulares na pasta.

O peemedebista Wagner Rossi resistia às denúncias de irregularidades na Companhia Nacional de Abastecimento (Conab) até o Correio mostrar que ele utilizara jatinho da empresa Ourofino, dona de contratos com o Ministério da Agricultura. Alegou estar sofrendo com os ataques e deixou o cargo.

Retornou a Ribeirão Preto (SP) e dedica-se ao agronegócio. A tranquilidade, contudo, está longe de ter virado realidade: agora, terá de se explicar perante a Polícia Federal, que o apontou ;como líder de uma organização criminosa;, e a sindicância interna aberta pelo próprio ministério que comandou no fim do governo Lula e início da gestão Dilma.

Orlando Silva esteve à frente do Esporte por sete anos. Sonhou comandar Olimpíadas e Copa do Mundo. Mas irregularidades nos convênios firmados com ONGs ligadas ao Programa Segundo Tempo e a possibilidade de abertura de investigação no STF abortaram os planos. Teve a quebra dos sigilos bancário e telefônico solicitada pelo STJ. Pretende ser candidato a vereador em São Paulo.

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