Agência France-Presse
postado em 05/12/2011 18:16
Dilma Rousseff perdeu seu sexto ministro por suposta corrupção, um caso inédito na história do Brasil, que, segundo analistas, não afetará muito a imagem de uma presidente blindada contra os escândalos graças em parte a sua gestão econômica.Dilma perdeu sete ministros em onze meses de governo, seis deles por denúncias de irregularidades ou de enriquecimento súbito reveladas pela imprensa e outro, o ex-ministro da Defesa Nelson Jobim, por críticas a seus colegas de gabinete. O caso mais recente foi o do ministro do Trabalho, Carlos Lupi, que pediu demissão no domingo da pasta que comandava desde 2007, pressionado por suspeitas de corrupção.
Desde junho, Dilma Rousseff perdeu um colaborador por mês, um "anti-recorde" que não afeta a sua governabilidade nem sua imagem, devido ao fato de a economia estar bem e de cada demissão ser vista como um esforço da presidente para limpar seu círculo, disseram analistas consultados pela AFP. "Aqui não existe um quadro de crise, porque os ministros perdem seus postos, mas seus partidos mantêm os ministérios. Rousseff soube tratar estes escândalos sem desmantelar sua coalizão", disse Carlos Lopes, diretor da consultoria política Análise.
[SAIBAMAIS]A percepção generalizada é a de que a "presidente age mais rápido contra os políticos corruptos do que seus antecessores, que ela é menos tolerante com as irregularidades", disse Rafael Cortês, pesquisador político do centro de análises Tendências, de São Paulo.
Dilma governa com uma coalizão integrada por mais de 10 partidos, já que o PT possui insuficientes 85 de 581 deputados.
Seguindo uma tradição política, a presidente assegura o apoio no Congresso em troca de participação no poder. Apesar dos escândalos, sua popularidade superava 70% no final de setembro e, segundo as consultorias Análise e CAC, não se espera um deterioração significativa de sua imagem.
Cada ministro que perdeu o posto foi substituído por outro membro de seu partido, o que permitiu a Dilma "manter o controle do governo" e reduzir o impacto de escândalos, protagonizados em grande parte por pessoas provenientes do governo Lula, disse o cientista político e sociólogo André Pereira, da consultoria CAC.
Rousseff "já ganhou confiança no cargo. Quando surge um escândalo deixa os ministros cair, e os substitui, seguindo um acordo com os partidos. Para ela, a prova de fogo não é a política, e sim a economia", afirmou Alberto Almeida, cientista político da Análise. "A maior blindagem política da presidente é a economia. Enquanto os brasileiros não sentirem o efeito da crise, tudo estará sob controle. Além disso, Rousseff governa com uma oposição muito fraca, que não oferece uma alternativa por enquanto", disse André Pereira.
O governo adotou uma série de medidas para evitar que a crise da dívida na Europa e que as dificuldades dos Estados Unidos comprometam seu crescimento, sustentado no vigoroso mercado interno e na venda de matérias primas, sobretudo para a China.
A queda de sete dos 38 ministros adiantou parte da reforma de gabinete que Dilma planeja realizar em janeiro de 2012, em ocasião de seu primeiro ano de governo. Novas mudanças ministeriais estão previstas para janeiro ou fevereiro. "As demissões não parecem que podem desestabilizar a coalizão, nem gerar uma paralisia no Congresso. Dilma seguirá mantendo a estabilidade política e poderá se concentrar na economia", disse Cortês.
Segundo os especialistas, parte da explicação de que a mudança de ministros não afeta o governo está no fato de a corrupção ainda estar começando a ser vista como um problema na cultura política do Brasil.
Neste ano surgiu no Brasil um movimento social contra a corrupção que mobilizou dezenas de milhares de pessoas em várias cidades, exigindo que leis para combater este problema, como a "Ficha Limpa", sejam respeitadas e fortalecidas.