De volta ao cenário político nacional, Ciro Gomes passou a ser cotado para o Ministério da Ciência e Tecnologia, na vaga de Aloizio Mercadante (PT). O Correio apurou que Mercadante e Ciro conversaram pessoalmente no ministério há aproximadamente duas semanas, encontro que provocou uma tensão no PT. O partido pretendia emplacar o deputado Newton Lima (SP), professor universitário. Não está nos planos da legenda sair menor na reforma ministerial do início do ano que vem. O partido resiste à ideia, mas, se a derrota for inevitável, os petistas começam a refazer os planos: ficariam satisfeito se pudessem indicar alguém para o Ministério das Cidades, que ficará aberto com a provável saída de Mário Negromonte.
A mera possibilidade de Ciro se tornar ministro de Dilma Rousseff não estremece apenas o PT. O PSB terá que descobrir como reacomodar alguém do tamanho do ex-governador do Ceará. É consenso na legenda que ele é um quadro excepcional e que está subaproveitado. Mas algumas coisas estão claras na cabeça dos dirigentes partidários: caso Ciro seja escolhido, ele deve ser contado como um ministro da cota pessoal da presidente Dilma, não como um indicado do PSB. ;O Ciro é filiado ao partido, mas ele é o Ciro, tem personalidade própria;, disse um integrante da cúpula do partido.
Com isso, a legenda passa o recado de que não aceitará pressões de outros partidos para que o PSB abra mão de alguma das duas pastas que tem no momento: Integração Nacional, com Fernando Bezerra Coelho, e Portos, ocupada por Leônidas Cristino. Esse último, inclusive, é ex-prefeito de Sobral, berço político de Ciro e Cid Gomes, governador do Ceará, e foi indicado pelos dois irmãos. Na lógica política, seria injusto Ciro ter um ministério para si e um afilhado político em outro.
O PMDB, por outro lado, começa a ensaiar uma pressão para recuperar a Integração Nacional, pasta que comandou com Geddel Vieira Lima no segundo mandato de Luiz Inácio Lula da Silva. Com orçamento robusto e um dos principais projetos do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC) em sua carteira de projetos ; a transposição do São Francisco ;, a retomada do ministério seria uma maneira de os peemedebistas deixarem de se considerar subdimensionados na Esplanada. ;É claro que o PMDB vai pressionar o Planalto. Mas será que a Dilma vai querer fazer essa troca? Os sinais que temos recebidos não mostram isso;, declarou um aliado de Eduardo Campos.
Recife
A única maneira que poderia solucionar essa equação é uma saída que já está descartada pelos pessebistas: Fernando Bezerra deixar o governo federal para concorrer à prefeitura do Recife. Bezerra transferiu seu título para a capital pernambucana orientado pelo governador do estado e presidente nacional do PSB, Eduardo Campos. Este ficou irritado com o PT local por ter lançado pré-candidatos em redutos eleitorais de seu partido. ;Mas Bezerra nos disse que não será mais candidato e trabalhará pelo consenso no estado;, admitiu um articulador político do partido.
Outra questão a ser administrada pelo partido são os planos de Ciro Gomes. Pré-candidato do PSB à Presidência da República em 2010, ele ficou profundamente irritado com a direção do partido que o obrigou a desistir da candidatura para apoiar Dilma Rousseff. Recentemente, deu uma entrevista dizendo que pretende se candidatar novamente em 2014. A grande questão é que o PSB tem outros planos. O presidente do partido, Eduardo Campos, é fiel à Dilma Rousseff e a Luiz Inácio Lula da Silva e não cogita romper com o governo federal lançando um candidato que ofusque a reeleição da presidente petista. ;Além de tudo, se é para ter candidato, por que Ciro e não o Eduardo, que é o governador com melhor avaliação no país?;, questionou um pessebista.
Eduardo Campos não quer entrar em bola dividida. ;Até o momento, não houve qualquer conversa entre a presidente Dilma Rousseff e o PSB envolvendo esse assunto (reforma ministerial).;
A indecisão se repete
Há exatamente um ano, o PSB convivia com a mesma indecisão diante da possibilidade de Ciro Gomes ser ministro. Na época, o partido negociava duas pastas na Esplanada e a presidente eleita Dilma Rousseff manifestou o desejo de ter Ciro em sua equipe ministerial. A vontade constrangeu a legenda e alterou o xadrez político de então.
Mas as coisas ficaram ainda mais complicadas. Amparado pelo seu prestígio e pelo fato de ter aberto mão da própria candidatura para que o PSB apoiasse Dilma, Ciro queria um ministério que estivesse à altura de seu capital político. Chegou, inclusive, a insinuar que gostaria de assumir o Ministério da Saúde, pasta que considerava um desafio à altura de suas capacidades gerenciais.
Era muito para Dilma e, especialmente, para o PT. Depois que a presidente eleita havia desistido de indicar o secretário de Saúde do Rio, Sérgio Cortês, porque o governador fluminense Sérgio Cabral antecipou o anúncio, ela foi aconselhada a indicar um petista para a pasta. Optou por nomear Alexandre Padilha, então ministro da Secretaria de Relações Institucionais, de quem se aproximara durante o governo. (PTL)