Paulo de Tarso Lyra
postado em 06/01/2012 08:08
A cadeira de vice-presidente do Senado pode ser o estopim para um racha na bancada do PT, na volta das atividades parlamentares em fevereiro. Tudo por causa de um acordo, firmado entre nomes de peso da legenda, que ameaça virar água. A senadora Marta Suplicy (PT-SP), atual ocupante do cargo, não arreda o pé na intenção de permanecer até o fim do ano, quando termina o mandato dela na vice-presidência. No ano passado, contudo, ela havia se comprometido a dividir os dois anos com o líder do governo no Congresso, José Pimentel (PT-CE). Ele agora cobra a promessa. Já Marta tenta se livrar da fatura.
Caciques do partido defendem que a senadora honre o acordo de rodízio acertado no início de 2011. ;O acordo que existia era de um ano na vice-presidência. E que Marta renunciaria para elegermos o Pimentel;, afirmou o líder do PT no Senado, Humberto Costa (PE). Para que Pimentel assuma o posto, Marta terá de renunciar e admitir uma nova eleição ; abrindo a possibilidade de candidatos de outros partidos. ;A renúncia é uma ação unilateral, se ela não fizer, temos ver o que vamos fazer, mas vamos cobrar o cumprimento do acordo;, assegurou Costa.
Procurada pelo Correio, a senadora Marta Suplicy disse que tem outro ponto de vista a respeito do que ficou acertado em 2011. ;O acordo era a Marta ir para a vice-presidência e o Pimentel para líder do governo no Congresso. O acordo já foi cumprido;, ressaltou a senadora. Ela alega que não pode renunciar ao posto para que ocorra o rodízio, pois a iniciativa não está prevista no Regimento Interno do Senado. ;Integrantes da oposição podem levar o meu mandato para o Supremo. Não vou colocar em risco um mandato construído com 8 milhões votos;, justificou.
O artigo n; 47 do regimento, que trata sobre o tema, prevê a renúncia em caso de o senador assumir o cargo de ministro de Estado, governador, secretário de Estado, ou de chefe de missão diplomática temporária. ;Ninguém sabia desse impedimento, nem o Humberto, escolhido na época líder, nem o Pimentel, nem eu. Nunca mais o PT vai dividir a vaga;, acrescentou Marta.
Pessoas próximas ao senador José Pimentel dizem que ele não pretende desistir do posto e que defende o cumprimento do acordo. Além disso, segundo alguns integrantes do partido, ao contrário do que afirma Marta, a questão regimental não é uma surpresa e chegou a ser discutida quando ela foi indicada. Na ocasião, o entendimento teria sido de que em razão de o Senado ser uma ;Casa política; esse fato poderia ser ;contornado;.
Planalto de olho
A permanência de Marta, apesar de abrir espaço para novos conflitos na bancada, é bem vista por integrantes do Palácio do Planalto. Na avaliação do governo, ela foi uma boa vice-presidente e soube ser firme politicamente em uma Casa onde o Executivo tem maioria formada por aliados inconstantes. Além disso, conta a favor dela o fato de ter relatado dois projetos considerados fundamentais para o governo: o Programa Nacional de Acesso ao Ensino Técnico e Emprego (Pronatec) e o da estatal responsável por administrar o trem-bala que ligará as cidades de Campinas (SP), de São Paulo e do Rio de Janeiro.
O receio de alguns petistas ouvidos pelo Correio com o impasse é de que a quebra do acordo gere um efeito cascata, uma vez que após o recesso parlamentar também estão previstas trocas nas presidência das comissões permanentes comandadas pelo partido. ;Espero que isso não aconteça;, avaliou Humberto Costa. Segundo o que foi acertado em 2011, o senador Paulo Paim (RS) deixaria o comando da Comissão de Direitos Humanos para que assuma no lugar a senadora Ana Rita (ES). Outra mudança prevista é na presidência da Comissão de Assuntos Econômicos, em que o senador Delcídio Amaral (MS) daria vez a Eduardo Suplicy (SP).
Outro fator de divisão interna que o PT terá de administrar neste começo de ano é a sucessão na liderança da bancada. A definição deve ocorrer em reunião prevista para 31 de janeiro. Estão no páreo os senadores Walter Pinheiro (BA) e Wellington Dias (PI).