Paulo de Tarso Lyra, Juliana Braga
postado em 10/01/2012 07:30
Acuado há uma semana com denúncias de privilégios para sua base eleitoral em Petrolina, Pernambuco, e para seus familiares espalhados na máquina pública federal, o ministro da Integração Nacional, Fernando Bezerra, decidiu antecipar sua ida ao Congresso Nacional em pleno recesso para prestar esclarecimentos. A decisão faz parte de uma estratégia de defesa acordada com o Palácio do Planalto, que incluiu a edição de um pacote de medidas contra as tragédias provocadas pelas chuvas. Ontem, pelo menos 12 pessoas morreram, agravando a situação provocada pelo clima no Sudeste.
Seguindo o script do Planalto, Bezerra telefonou ontem mesmo para o presidente do Senado, José Sarney (PMDB-AP), e solicitou que fosse convocado para se apresentar na Comissão Representativa do Congresso amanhã, seguindo a estratégia de explicar-se para um Legislativo esvaziado pelo recesso de janeiro ; apenas 17 deputados e sete senadores.
Nos bastidores, tanto ele quanto o PSB apostam no esvaziamento da crise política até o início do ano legislativo, em fevereiro. Sob holofotes, no entanto, ele disse acreditar que o depoimento em pleno recesso não facilita sua defesa. ;Eu creio até que é mais difícil a blindagem nessas circunstâncias;, defendeu. Ele adiantou, após reunião com a presidente Dilma Rousseff e outros ministros para tratar das enchentes no país, que pretende ;tirar qualquer dúvida em relação à gestão dos recursos da Defesa Civil;.
Como o Correio mostrou na última semana, Bezerra usou o cargo para beneficiar familiares em Pernambuco. Ele e o irmão Clementino de Souza Coelho, presidente interino da Codevasf, intermediaram a licitação para a compra de cisternas de plástico da empresa Acqualimp, a serem distribuídas no sertão brasileiro. O custo de instalação do produto é duas vezes e meia maior do que o das cisternas de concreto.
Além disso, a Acqualimp acertou a instalação de uma fábrica em Petrolina, município no qual o filho do ministro, Fernando Coelho Filho, será candidato a prefeito em outubro. No mesmo dia em que a matéria foi publicada, a Casa Civil divulgou nota confirmando o nome de Guilherme Gonçalves Almeida como novo presidente da Codevasf, em substituição a Clementino.
Bezerra passou o fim de semana em Pernambuco e conversou diversas vezes, por telefone, com o governador do estado, Eduardo Campos. Desde o início da crise, tem cabido a Eduardo ; que também é presidente do PSB ; dar o tom das declarações do ministro. Foi o governador quem primeiro avisou que as obras das barragens na Bacia do Una foram feitas ;com o conhecimento pleno da presidente Dilma;. Na quarta-feira, em entrevista coletiva no ministério, Bezerra repetiu a estratégia de defesa. Outra ação combinada é tentar desqualificar as denúncias relacionando as acusações à disputa eleitoral pelas prefeituras.
Força-tarefa
No Planalto, a estratégia até o momento é mostrar que o titular da Integração Nacional não está ameaçado de demissão. Como parte dessa estratégia de fortalecimento, ele foi escalado para anunciar o pacote de medidas elaborado pelo governo para o enfrentamento das chuvas. Após duas horas e meia de reunião com a presidente Dilma Rousseff e com os ministros dos Transportes, Paulo Passos; da Casa Civil, Gleisi Hoffmann; da Saúde, Alexandre Padilha; da Ciência e Tecnologia, Aloizio Mercadante; e o interino da Defesa, Enzo Peri, coube a Bezerra anunciar as principais medidas decididas pelo governo federal.
Confiante, o titular da Integração Nacional garantiu que conta com o ;apoio e confiança; da presidente Dilma Rousseff para continuar no cargo. ;Se eu não contasse com a confiança e o apoio da presidenta Dilma, não estaria nessta solenidade;, completou. Ele afirmou que teve uma ;uma longa e boa conversa; com a presidente e que ela já havia recebido todas as informações sobre as denúncias. ;O Ministério do Planejamento já se manifestou em relação aos recursos da Defesa Civil, a CGU já se manifestou em relação à situação da direção da Codevasf. Portanto, todos os pontos levantados já foram devidamente respondidos;, sustentou.
Bezerra está confiante de que as denúncias não vão ter maiores consequências. ;Nós estamos tranquilos, nenhuma dessas denúncias irá prosperar, porque nunca prosperou nenhuma denúncia contra minha pessoa. E eu nunca tive nenhuma conta rejeitada em toda minha vida pública;, enfatizou.