postado em 23/01/2012 07:18
Sentado ao fundo do plenário, sob a meia luz e com uma cigarrilha na mão, Ricardo Berzoini (SP) acompanha o debate acalorado entre os colegas do PT, na tentativa de chegar a um acordo sobre quem deve ser o nome do partido para ocupar a cadeira de presidente da Câmara. A cena se passa em dezembro de 2010, em meio a um racha dentro da corrente do partido da qual faz parte e que terminou por eleger o deputado Marco Maia (RS) para o posto mais cobiçado da Casa. Na época, recém-eleito para o quarto mandato como deputado federal pelo PT de São Paulo, Berzoini pouco falou. Aliás, essa é uma das suas principais características, herdada dos tempos em que atuou no sindicato dos bancários em São Paulo, cidade para a qual mudou aos 6 anos de idade depois que o pai, oficial do Exército, foi transferido para a capital paulista.
Durante toda a infância e juventude, diz que não chegou a ter apelidos. Alega que o fato de ter que trabalhar e estudar desde cedo prejudicou o seu tempo livre para atividades sociais. Na época, aos 19 anos, trabalhava como office-boy no período do dia no Banco do Brasil e estudava engenharia à noite. Pelos amigos, era apenas chamado pelo primeiro nome. A falta de uma alcunha, no entanto, foi resolvida por alguns colegas de partido que o chamam ; de forma velada ; de ;Esfinge;. Para decifrá-lo ; segundo os mais próximos ; o interlocutor terá de submergir ao mundo dos bastidores da política espalhados pelos labirintos e corredores do Congresso. A especialidade de Berzoini é o papo franco ao pé de orelha.
Se a atuação no Congresso é discreta, uma análise do histórico político de Berzoini revela momentos turbulentos. Em 2003, assumiu o posto de ministro da Previdência durante o primeiro governo Lula. Entre uma das primeiras medidas tomadas à frente da pasta, está a desastrada decisão de baixar uma portaria com a determinação de que os idosos com mais de 90 anos tinham que ir aos postos do INSS para se recadastrar, comprovando que estavam vivos. A portaria foi revogada dias depois, mas Berzoini não escapou de ser alvo de críticas da oposição, que criou o ;Troféu Berzoini; para premiar as ;maldades; contra os cidadãos.
Após deixar o ministério, migrou para a pasta de Trabalho, em que ficou até 2005, ano em que teve de assumir a presidência do PT no lugar de Tarso Genro. Genro assumira interinamente o comando do partido após a renúncia de José Genoino, envolvido no esquema do mensalão. Mas ele se desentendeu com José Dirceu ao pregar uma reformulação profunda no partido. Lula, então, indicou Berzoini para conciliar um partido fraturado pela acusação de compra de votos de integrantes da base aliada por parte do governo federal.
Aloprado
No ápice da crise, Berzoini passou a viajar pelo país em defesa do partido. Na mala, levou o discurso pronto de que o ;PT pode ter tido pessoas na sua direção que cometeram erros. Petistas podem ter errado consciente ou inconscientemente, mas o PT e os seus filiados e militantes não têm nenhuma responsabilidade institucional nesse processo;. A iniciativa deu certo e serviu para levantar a moral dos militantes. Prova disso é que mais de 300 mil militantes elegeram a nova direção partidária. Eles também entraram na briga pela recondução de Lula à Presidência da República.
A glória da reeleição do presidente, no entanto, teve de ser vista de longe. Meses antes, Berzoini deixou o posto da presidência do PT após se ver envolvido no esquema de compra de dossiê contra o candidato ao governo do estado de São Paulo, José Serra (PSDB). O episódio foi batizado por Lula como o escândalo dos ;aloprados;. Passados os primeiros meses de 2007, Berzoini voltou ao comando do partido, no qual ficou até fevereiro de 2010.
Desde então desceu à planície da política. No horizonte, está a volta, no início deste ano, a um posto de destaque ; a presidência da Comissão de Constituição e Justiça da Câmara, principal colegiado da Casa. Até lá, pretende terminar de ler o livro Economia do hidrogênio, de Jeremy Rifkin.