Politica

Cerimônia de despedida de Haddad tem pinta de lançamento de candidatura

Juliana Braga
postado em 24/01/2012 07:31
A última passagem de Fernando Haddad pelo Palácio do Planalto como ministro da Educação, na tarde de ontem, mais parecia um evento da campanha que se avizinha, pela prefeitura de São Paulo, do que uma solenidade de governo. Na comemoração da milionésima bolsa concedida pelo Prouni, que distribui o benefício em universidades particulares para jovens carentes, a presidente Dilma Rousseff deu ao pré-candidato um palanque para que ele elogiasse sua própria gestão e preparasse o terreno para a despedida oficial. A transmissão de cargo hoje para Aloizio Mercadante terá a presença até do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Em tratamento contra um câncer na laringe, será a primeira visita dele ao Planalto desde que passou a faixa para Dilma.

Embora o Salão Nobre do Planalto não estivesse lotado ; o cerimonial do palácio chegou a remanejar alguns convidados para evitar que ficassem grandes espaços vazios na plateia ;, era grande o número de políticos do PT de São Paulo e de ministros do partido no evento de ontem. Dilma defendeu a gestão de Haddad, inclusive em relação ao Exame Nacional do Ensino Médio (Enem), alvo de críticas nas três últimas edições. ;Acredito que o Enem é um exemplo da determinação do ministro Haddad de assegurar uma transformação e uma deselitização da educação do país;, afirmou Dilma. A presidente também reservou o anúncio de três edições do exame, em 2013, para o evento, numa tentativa de trazer uma agenda positiva para o agora ex-ministro.

Evento do Prouni serviu de palanque para Haddad, com direito ao anúncio de três edições do Enem em 2013

Haddad também tocou no assunto, afirmando que o Enem não será o calcanhar de aquiles de sua campanha. ;Pelo contrário. Faça uma pesquisa sobre o Enem que vocês vão constatar que a juventude aprova o Enem;, garantiu, defendendo que não houve erro do MEC em divulgar duas edições do exame em 2012 e, depois, voltar atrás. ;Toda semana, tivemos uma ação judicial do Ministério Público defendendo uma tese diferente da anunciada na semana anterior. Se a cada semana formos enfrentar um debate judicial, não damos tranquilidade para a equipe aperfeiçoar os processos;, alegou o ministro. Pouco antes, na tentativa de potencializar ainda mais o futuro candidato, Dilma havia anunciado que o Enem terá duas edições em 2013.

Apoio estudantil
O evento também teve a presença de integrantes da União Nacional dos Estudantes (UNE). Foi a segunda manifestação de apoio da entidade, que recebeu Lula e Haddad em seu congresso no ano passado, em Goiânia. Na ocasião, o ex-presidente já havia exaltado o ;candidato;. O presidente da UNE, Daniel Iliescu, defendeu que o evento de ontem não se tratava de um ato pró-Haddad. ;Essa é uma comemoração de uma conquista do povo brasileiro. Reduzir a um ato político é reduzir os méritos que o Prouni traz para o país;, avaliou.

Na oposição, porém, a cerimônia foi encarada como um ato essencialmente eleitoral. ;No apagar das luzes, fica clara a intenção eleitoreira do evento, até para que a gestão dele não passe despercebida;, criticou o líder do PSDB, deputado Duarte Nogueira. Para Ivan Valente, líder do PSol, houve superexposição de Haddad. ;Todos os movimentos do Haddad e Dilma nesses últimos meses têm sido eleitoreiros. Há de fato uma superexposição nesse período pré-eleitoral;, acusou o deputado.

Governador visita ex-presidente em SP
Antes de participar da despedida de Fernando Haddad da Educação, o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva recebeu a visita do governador de Pernambuco, Eduardo Campos, ontem em São Paulo. Os dois almoçaram na sede do Instituto Lula, e conversaram por duas horas. A reunião teve a presença dos ex-ministros Luiz Dulci, Franklin Martins e Paulo Vannuchi. Segundo o assessor da entidade, a visita teve caráter de ;cortesia; e não tratou de alianças para as eleições municipais. ;Foi um encontro de amigos, fiquei feliz que Lula vem atravessando bem o tratamento, está animado e não vê a hora de levar uma vida normal;, afirmou, em nota, Campos.

ANÁLISE DA NOTíCIA
; Se a multa é pequena...


A cerimônia de ontem e a inauguração de uma creche pela presidente Dilma Rousseff, na semana passada, no Rio de Janeiro, foram apenas tira-gostos do banquete que ela e Lula parecem querer servir a Fernando Haddad. A receita será a mesma preparada pelo ex-presidente em 2010 para fazer a sucessora: aproveitar toda e qualquer brecha que surgir para lembrar, homenagear e, como quem não quer nada, puxar votos para Haddad. Quando possível, com a presença do próprio.

No esforço para voltar a ocupar a maior prefeitura do país, cujo orçamento supera o de quase todos os outros estados da Federação, o PT vai tirando vantagem da branda legislação que pune campanha antecipada. ;Tudo vale a pena se a multa é pequena;, já disse um integrante da oposição em 2010. Em maio daquele ano, Lula foi multado pelo TSE em R$ 5 mil por dizer, em uma inauguração em Minas Gerais, que tinha certeza da vitória de um aliado nas eleições que se aproximavam.

Com Haddad, que patina nas pesquisas nos mesmos patamares que Dilma na época, ela e Lula pretendem repetir a medida. Muito além do limite da legalidade. Mas a multa compensa. (Guilherme Amado)


Licitação com cheiro eleitoral

No apagar da gestão à frente do Ministério da Educação (MEC), o ministro, Fernando Haddad, lançou edital para contratar uma empresa para monitorar as principais redes sociais da internet. O ambiente virtual é uma das vedetes em ferramentas de propaganda que serão utilizadas nas últimas eleições de 2010. A contratação é recebida com receio por integrantes da oposição e pré-candidatos nas próximas eleições, que não descartam o uso dos dados para abastecer com informações a campanha de Haddad na disputa pela prefeitura de São Paulo.

De acordo com o edital será feito um monitoramento diário dos perfis do MEC e das informações relacionadas ao órgão nas redes sociais como Twitter e Facebook. O trabalho dos consultores consistirá em avaliar a evolução da imagem da pasta dentro das redes; a indicação dos assuntos mais relevantes abordados pelos usuários e a identificação das principais fontes influenciadoras e sugestões, entre outras. O contrato de um ano é estimado em R$ 619 mil.

;Isso é uma imoralidade. Se o monitoramento fosse essencial para a Educação, já deveria ter sido feito. Fazer isso na véspera de sair em campanha? As suspeitas são bem objetivas. Não tem nenhuma serventia para a Educação, apenas para a campanha de Haddad;, disparou o presidente do PPS, deputado Roberto Freire (SP). ;Certamente, como a marca dele (Haddad) é a Educação, não tem passagem por outros setores da política, esses dados analíticos podem até servir para ele se defender dos questionamentos dos adversários;, avaliou o deputado Ivan Valente(PSol-SP).

O MEC diz que as redes sociais fazem parte de uma política ;eficiente; de comunicação. ;Nosso objetivo não é avaliar a gestão dele (Haddad) junto às redes sociais, mas o impacto das políticas públicas do ministério junto a seu público alvo;, diz trecho da nota. Os dados não serão disponibilizados para o público. (ED)

Tags

Os comentários não representam a opinião do jornal e são de responsabilidade do autor. As mensagens estão sujeitas a moderação prévia antes da publicação