Juliana Braga
postado em 25/01/2012 08:03
Festa e discursos lapidados à feição da campanha eleitoral pela prefeitura de São Paulo deram a tônica da despedida de Fernando Haddad do cargo de ministro da Educação. O esforço para capitalizar a cerimônia em favor do projeto político teve até a exigência, pela presidente Dilma Rousseff, da presença de todos os ministros da Esplanada ; os que não puderam comparecer mandaram representantes. Governadores e prefeitos também foram convocados. Até o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva interrompeu o tratamento contra o câncer na laringe para participar da festa armada para Haddad.O ex-ministro, que afirmou não estar lendo um discurso escrito e sim falando de coração, treinou a verve política e tentou, a cada frase, mostrar sua relação próxima e emotiva com Lula, lembrando dos seis anos em que foi subordinado a ele na Esplanada. ;Foi uma honra iniciar os trabalhos na Educação pelas mãos de um metalúrgico;, disse. ;Tenho lembranças muito boas de um período muito importante de resgate de propostas de educação;, destacou o ex-ministro.
A presença de Lula na cerimônia palaciana foi muito celebrada por Haddad. Segundo o ex-ministro, ele não achava que o líder petista conseguiria ir à festa, por causa do tratamento contra o tumor. ;Eu posso imaginar o incômodo dele em vir até aqui. Por isso, até eu chegar na garagem do Palácio do Planalto e ver todo mundo reunido, inclusive a presidenta Dilma, eu não acreditava que ele viesse;, contou. A presidente, que chegou a cobrar Haddad pelas reiteradas falhas no Enem, tratou de elogiar o ex-ministro relativizando as falhas no exame. ;Nenhum de nós é soberbo de achar que um projeto nasce perfeito;, sustentou. ;Há de se reconhecer que, em um processo que abrange milhões de pessoas, é inevitável que nos primeiros anos você tenha alguns desvios. E esses desvios nós temos a humildade de reconhecer e de corrigir;, disse a presidente.
Recepção calorosa
Apesar de não ter discursado, Lula cumpriu à risca o papel de ;mentor; de Haddad e deu uma pausa no tratamento contra o câncer para vir a Brasília. O ex-presidente passou a manhã de ontem no Hospital Sírio-Libanês, onde passa por radioterapia, e retornou ontem mesmo, às 17h30, para a sessão do tratamento marcada para hoje. Confirmando o ditado de que quem já foi rei nunca perde a majestade, o retorno festivo de Lula ao Planalto teve ares de feriado. Afinal, ele não pisava no Palácio desde 30 de março do ano passado, quando participou do velório do ex-vice-presidente José Alencar.
Por volta das 15h, já estava tudo preparado para recebê-lo. A guarda presidencial devidamente colocada na garagem do Planalto e as passa-fitas da segurança separando o caminho por onde ele deveria passar. Todo o planejamento foi por água abaixo quando a presidente Dilma Rousseff apareceu para pegar Lula na entrada do Planalto. ;Vamos todos recebê-lo;, disse ela, chamando os servidores para a frente do carro.
O Planalto parou para recepcioná-lo. O saguão da garagem, onde cabem cerca de 50 pessoas, ficou lotado. Ele desceu do carro e todos foram em sua direção, liderados pela presidente Dilma. Uma comitiva de sete ministros, além de servidores do Planalto, aguardavam para bater fotos e cumprimentá-lo. ;A casa é sua;, disse Dilma. Em meio a tanta gente e dezenas de abraços, não houve tempo para conversas mais alentadas. Os dois trocaram poucas palavras. Depois da solenidade, ele seguiu para o gabinete da sucessora, onde conversaram por mais tempo.
Agenda e discurso de candidato
No mesmo dia em que deixou o Ministério da Educação (MEC), Fernando Haddad fez questão de falar como candidato. A agenda de campanha seguirá hoje, com uma visita ao Diretório Regional do PT em São Paulo para se reapresentar aos filiados ; ele está afastado das articulações políticas da legenda há anos, embora seja filiado. O ex-ministro também instalará no sábado um conselho de campanha, com comissões temáticas para planejar a plataforma política e discutir as alianças partidárias para a disputa da prefeitura de São Paulo.
Haddad afirmou que, desde o início, optou por deixar o ministério no início do ano para poder se dedicar integralmente à candidatura. ;Agora é tempo de refletir sobre as necessidades da minha cidade e me apropriar de todos os projetos que estão sendo realizados. Quero ouvir especialistas e formular, junto com meus companheiros, o nosso plano de governo;, disse.
Segundo o ex-ministro, o PT está buscando estabelecer prioritariamente a discussão de alianças com os partidos da base do governo, sobretudo PR, PCdoB, PDT e PMDB. Por isso, Haddad evitou falar sobre a escolha de um vice. Além disso, o candidato petista desconversou quando o assunto foi o apoio do atual prefeito de São Paulo, Gilberto Kassab. ;Ele mesmo já disse e repetiu que sua agenda de curto prazo continua sendo a de estabelecimento de alianças em torno de José Serra;, afirmou Haddad.
Dilma no palanque
Há um pacto em discussão entre PT e PMDB para que a presidente Dilma Rousseff não suba no palanque em municípios onde os dois partidos tiverem candidatos distintos, mas a regra não deve ser respeitada em São Paulo. ;São Paulo está claro: é prioridade do Partido dos Trabalhadores e portanto o PMDB compreenderá;, avalia.
Apesar da ausência consecutiva da senadora e ex-prefeita de São Paulo Marta Suplicy nos dois últimos eventos do Palácio do Planalto, o petista disse ter certeza de que a parlamentar mergulhará de cabeça na campanha. ;Ela sabe da importância do nosso projeto político de reconquistar a prefeitura, inclusive para tratar de bandeiras da sua administração;, adiantou Haddad. (PF e JB)