Politica

Emissário do Planalto está habituado a atuar em negociações complicadas

Juliana Braga
postado em 29/01/2012 08:00

Um psicólogo engajado na luta dos movimentos sociais, cuja base de operação é o Palácio do Planalto. Esse é Paulo Maldos, secretário de Articulação de Movimentos Sociais da Presidência da República, que foi baleado no último domingo, durante a desocupação de Pinheirinho, em São José dos Campos (SP). Maldos foi o escolhido pelo governo para ir à comunidade, conversar com os moradores e escutar qual era a solução preferida por eles. Foi impedido de entrar e atingido por uma bala de borracha pelos policiais militares no local.

;Eu ia lá bater papo, andar na rua, tomar um cafezinho. Escutar a população para trazer esses elementos para cá. Acabei sendo baleado;, conta. Apesar de ter sido recomendado chegar em carro oficial, Maldos pegou um ônibus às 6h, de São Paulo em direção a São José dos Campos. Da rodoviária da cidade, seguiu de táxi. Ainda na estrada, entretanto, recebeu o telefonema de Ângela, uma moradora, avisando que a área já estava sendo desocupada, apesar da liminar que suspendia a operação.

A mesma moradora foi orientando o emissário do Planalto por telefone sobre o melhor caminho para entrar na comunidade. ;Ela me avisou que havia lugares em que você não chegava nem perto da região;, conta. Quando chegou ao local indicado, na Rua dos Evangélicos, que dá acesso à entrada principal de Pinheirinho, Maldos encontrou cerca de 10 policiais posicionados com escudos, impedindo a passagem. Maldos tentou se aproximar, se identificou como funcionário da Presidência, mas não adiantou.

Enquanto se aproximava, os policiais ordenaram que retornasse. ;Eu pensei: ;E agora?;. Era inacreditável aquilo;, conta. Diante da insistência, três deles apontaram as armas, e Maldos decidiu voltar. Enquanto conversava com moradores do bairro, para entender o que havia ocorrido, os PMs começaram a disparar bombas de gás lacrimogêneo. E, enquanto fugia, foi atingido, por trás, na coxa esquerda, por uma bala de borracha.

Essa não foi a primeira vez que Maldos acabou agredido em missão oficial. Em Mato Grosso do Sul, em novembro do ano passado, ele visitou um acampamento de índios guarani-caiovás que havia sido destruído por um ataque. Acabou entrando em conflito com fazendeiros. Acostumado a entrar na linha de frente de negociações em áreas de conflito, também conduziu as conversas com integrantes do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST) que ocuparam o Ministério da Fazenda em agosto passado. Maldos subiu ao carro de som e negociou com eles uma reunião no Palácio do Planalto.

Politização
A militância política de Paulo Maldos começou ainda na época do cursinho pré-vestibular, em 1971. ;Onde eu estudava, reunia professores da USP (Universidade de São Paulo) que eram perseguidos políticos. Já deu uma politizada básica;, brinca. Como estudante de psicologia na Pontifícia Universidade Católica (PUC) paulista, trabalhava com grupos nas favelas e na periferia de São Paulo. Naquela época, também começou a visitar presos políticos no presídio Barro Branco e a participar de reuniões de operários. ;Eu, como estudante de psicologia, ajudava como podia. A gente pesquisava as condições de trabalho, se tinham maus-tratos e alimentação ruim;, detalha.

Depois de formado, morou em João Pessoa, a convite de Dom José Maria Pires, trabalhando no Centro de Promoção da Mulher, que prestava assistência a prostitutas. Em 1978, retornou a São Paulo para criar um Centro de Educação Popular, no Instituto Sedes Sapientiae. A ideia era prestar consultoria a movimentos sociais que estavam voltando às ruas na época. Em 1986, iniciou os trabalhos no Conselho Indigenista Missionário (Cimi).

O caminho de Maldos ao Palácio do Planalto começou a ser pavimentado com o envolvimento do militante na demarcação das terras da reserva Raposa Serra do Sol. ;Um dia, me ligam pessoas do Cimi que estavam na Procuradoria-Geral da República dizendo que havia um risco enorme de os índios perderem no Supremo Tribunal Federal e que precisávamos ter aliados no governo federal que ajudassem no debate com a sociedade. Que o governo sinalizasse que estava com os índios, porque senão o risco era de eles perderem as terras;, conta. Paulo relata que na hora se lembrou de Gilberto Carvalho, à época chefe de gabinete do então presidente, Luiz Inácio Lula da Silva, que conheceu superficialmente nos anos 1970. Por meio de conhecidos, obteve o telefone de Carvalho e, para sua surpresa, conseguiu marcar uma audiência para o dia seguinte.

O governo comprou a causa e Paulo Maldos passou a ir com frequência ao Planalto, em reuniões para tratar do tema. Depois dessa aproximação, Gilberto Carvalho o convidou para participar da equipe presidencial, para que ele lidasse justamente com movimentos sociais. ;Era o último ano de governo Lula e os movimentos estavam incertos de como seria a relação com o Executivo no pós-Lula.; Desde então, coube a Maldos manter a ponte de diálogo entre as entidades e o Planalto.

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