Pessoas com síndrome de Down e seus parentes levaram nesta quarta-feira (21/3) aos parlamentares e autoridades presentes no Congresso Nacional para as comemorações do Dia Internacional da Síndrome de Down um recado simples e direto: ;Ser diferente é normal;. Já no início da cerimônia, o portador da deficiência Eduardo Gontijo Vieira Gomes, o Dudu do Cavaco, de 21 anos, emocionou o público ao utilizar o instrumento para executar o Hino Nacional Brasileiro.
Tímido e ao mesmo tempo entusiasmado por mostrar seu talento, Dudu contou que começou a tocar ainda pequeno, incentivado por seu primo Igor. ;Ficava com muita vontade de aprender quando o via tocar;, contou. O mineiro de Belo Horizonte encarou as aulas e não largou mais o cavaquinho. Ele, entretanto, fez questão de se especializar no pandeiro e repinique, espécie de tambor pequeno que tem o som mais agudo. ;Tenho uma banda em Belo Horizonte chamada Trem dos 11. Nos apresentamos todos os sábados;, disse Dudu, empolgado.
Na cerimônia, uma exposição de quadros e fotos, de autoria de pessoas com Down, encantava os visitantes. A artista plástica Melina Pedroso, de 28 anos, mostrava com orgulho suas obras. Portadora da síndrome, ela mostrou-se entusiasmada com o trabalho que faz. ;Gosto muito do que faço, a pintura é uma forma de relaxar;.
Muita cor e pessoas sem rostos definidos são as características das obras de Melina. É o caso, por exemplo, do quadro Os Menininhos, com crianças sem qualquer expressão facial. Perguntada sobre a ausência de rostos em suas obras, Melina argumentou: ;É porque, para mim, todas as crianças são felizes;. Dessa forma, ela pôde mostrar que as pessoas são iguais independentemente de serem portadoras da síndrome ou não.
Tonico da Silva Filho, de 32 anos, especializou-se na pintura de quadros de mulheres espanholas. Há um ano, ele começou a voltar sua arte para essa tendência. Tonico começou a se interessar por artes plásticas há dez anos e já participou de diversas exposições. Ele nasceu em Manaus e agora mora em Brasília.
Para muitas famílias que foram à comemoração do Dia Internacional da Síndrome de Down no Congresso, foi inevitável a surpresa diante da notícia de que seu filho era portador da trissomia do cromossomo 21. O nome é uma referência ao cromossomo extra na sequência de 23 pares de cromossomos que formam o DNA humano.
A dona de casa Francisca Alencar, de 24 anos, contou que, no início, foi difícil aceitar que o filho era portador da síndrome. ;Hoje em dia convivo bem com isso. Ele frequenta o Centro Especial de Santa Maria [região administrativa do Distrito Federal] e espero que ele possa conviver com as pessoas comuns quando for maior;, disse. O filho de Francisca, Chrystyan, tem 3 anos e 7 meses.
A vice-presidente da organização não governamental DF Down, Fabiana Gadelha, disse que o objetivo da entidade é romper com o ;luto; que existe quando se trata do nascimento de uma criança com Down. ;Nós queremos desmistificar essa ideia de que é um bicho de sete cabeças o fato de ter um filho especial. Ninguém precisa passar por um luto, porque não é uma aflição;. Fabiana contou que, em seu caso, ter uma criança com a síndrome foi uma escolha. Ela adotou Miguel, hoje com 3 anos, assim que ele nasceu. ;Para mim, não foi uma dificuldade, tive vontade de ter um filho e o adotei;, relatou.
O servidor público Eduardo Barbosa, de 36 anos, descobriu que sua filha, Maria Eduarda, era portadora da alteração genética quando ela nasceu. Segundo ele, foi uma surpresa e a mãe da menina não aceitou bem a notícia. Ele disse que, hoje, aos 6 anos, a garota está totalmente incluída na sociedade. Maria Eduarda frequenta uma escola comum e se relaciona bem com os colegas, conforme relato do pai. Ela tem ainda acompanhamento escolar com professor particular, faz fisioterapia e natação.
O portador de Down Kalill Tavares, de 21 anos, também esteve na cerimônia de comemoração do Dia Internacional da Síndrome de Down e contou de como desafiou as limitações e passou no primeiro vestibular de 2012 da Universidade Federal de Goiás (UFG), para o curso de geografia. Para conseguir esse êxito, disciplina e dedicação não faltaram. ;Estudei três horas por dia. Não tive muitas dificuldades na hora da prova;, contou. Para proporcionar uma boa convivência com o jovem calouro, os professores da UFG fizeram uma reunião com a mãe dele para avaliar o modo como lidar com Kallil, uma vez que não tinham passado, ainda, por essa experiência.