Da Pastoral ao Congresso,
passando pelo movimento gay
A imagem delicada da flor feita de fitas de seda das cores do arco-íris pregada na lapela direita do paletó do deputado Jean Wyllys (PSol-RJ) contrasta com a disposição para briga do militante do movimento LGBT, criado no movimento pastoral da Igreja Católica, da qual se dissociou ao assumir a homossexualidade, aos 16 anos. Um ano e meio depois de chegar ao Congresso, ele já conseguiu se posicionar em boa parte das polêmicas da Casa. Defende a revisão da Lei da Anistia, confronta a Frente Parlamentar Evangélica na discussão do projeto que criminaliza a homofobia e batalha para emplacar uma PEC que prevê o casamento civil de pessoas do mesmo sexo. ;A política é o espaço do enfrentamento;, diz. Wyllys afirma que suas bandeiras não dão votos, que a comunidade LGBT ainda não tem consciência política suficiente para eleger representantes de suas demandas e que ainda não está decidido sobre disputar um novo mandato. Confira os principais trechos da conversa.
O senhor faz parte do grupo de parlamentares que acompanhará os trabalhos da Comissão da Verdade pelo Congresso. Como a Casa pode contribuir com a comissão?
A Comissão Especial de Acompanhamento da Comissão da Verdade foi instalada como um instrumento de pressão do Legislativo sobre o Executivo, porque o governo Dilma estava demorando demais para indicar os membros da Comissão da Verdade. Nós já fizemos audiências e oitivas, ouvindo gente dos dois lados. A última que fizemos foi no Espírito Santo. Nós ouvimos dois agentes da repressão, o Marivaldo Chaves e o Cláudio Guerra, que recentemente publicou um livro chamado Memórias de uma guerra suja, onde descreve como incinerou corpos de presos políticos mortos pela ditadura.
O depoimento do Cláudio Guerra esclarece fatos importantes?
O Cláudio é um cara que tem um passado ligado ao crime organizado. A gente quer acatar esse depoimento com um pé atrás. Hoje ele é pastor evangélico da Assembleia de Deus. É difícil saber se a decisão dele de falar é fruto de um profundo arrependimento ou se ele é um cara que quer criar uma cortina de fumaça trazendo à tona crimes que já foram prescritos.
O senhor defende a revisão da Lei da Anistia?
Ela deveria ser revista, as pessoas têm que pagar. Com a Lei da Anistia, a Justiça não se realiza. Temos que criar condições para que a tortura não aconteça mais. Ela existe ainda hoje nas prisões. A presidente disse em uma entrevista que se sente impotente para erradicar essa herança maldita que é a tortura nas prisões. Eu achei lamentável, a gente nunca pode se sentir impotente para enfrentar a tortura.