Politica

Arquivos secretos revelam que Ditadura monitorava jornalistas estrangeiros

Helena Mader
postado em 15/07/2012 08:38


Cartas violadas, lixeiras reviradas e olhares observadores eram parte da rotina do jornalista francês Charles Vanhecke, correspondente do jornal Le Monde nos anos 1970. O repórter sabia das restrições impostas pela ditadura, mas tentava driblar o controle para revelar à Europa a realidade brasileira durante o regime militar. Ele agia de forma diplomática, sem entrar em confronto com os generais. Ainda assim, era um alvo constante da polícia. O que Charles Vanhecke não sabia é que o governo brasileiro cogitou até a sua expulsão. O jornalista francês era visto como um integrante do movimento comunista. ;Nunca imaginei que eles pensaram em me colocar para fora do país, nem sabia que eu era considerado um opositor ou comunista;, revelou Charles ao Correio.

Documentos guardados no Arquivo Nacional e localizados pela reportagem mostram que correspondentes estrangeiros dos principais jornais do mundo eram vistos como inimigos pela ditadura militar, que por várias vezes analisou a possibilidade de expulsá-los do território brasileiro. Os arquivos, à época secretos, foram divulgados graças à Lei de Acesso à Informação, sancionada no fim do ano passado.

Além de Charles Vanhecke, a repórter Marvine Herietta Howe, do New York Times, também motivou a produção de dezenas de dossiês. ;São obscuros os objetivos e propósitos a que se serve a senhora Howe, bem como os motivos dessa constante indisposição contra o Brasil;, diz o trecho de um relatório sigiloso elaborado pela extinta Divisão de Segurança e Informações (DSI).

Os dossiês disponíveis no Arquivo Nacional mostram que os militares viveram um dilema. Alguns defendiam a expulsão sumária dos correspondentes do Le Monde e do New York Times. Outros temiam a repercussão internacional negativa que a medida traria. ;Sugerimos, neste momento em que jornais brasileiros são levados à Justiça por publicarem notícias inverídicas, que os jornalistas Marvine Henrietta Howe e Charles Vanhecke sejam convidados a deixarem o território nacional, pelo mesmo motivo;, diz trecho de um documento da Divisão de Segurança e Informação.


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