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Desmotivação dos jovens com a política é tendência mundial, diz analista

postado em 02/10/2012 18:33
Rio de Janeiro - Embora o número de eleitores aptos ao voto facultativo, com 16 e 17 anos de idade, tenha aumentado em relação à última eleição, em 2010, a percepção é que há um desinteresse dos jovens nessa faixa etária em relação à eleição deste ano. A avaliação é do cientista político Eurico de Lima Figueiredo, da Universidade Federal Fluminense (UFF). Para ele, essa percepção não é só restrita ao Brasil.

;A desmotivação é mundial;, disse. ;Parece que nós vivemos uma época em que os jovens encontram soluções que já estão dadas;, completou. Figueiredo acredita, no entanto, que principalmente agora, na Europa, haverá um recrudescimento da participação juvenil na tentativa de encontrar soluções para os novos problemas colocados pela crise econômica.

;A tradição mostra que são os jovens que mais reagem a situações de crise, inclusive porque eles trazem dentro de si o futuro e reconhecem nas situações críticas do presente o que não deve ser feito e o que precisa ser mudado;. No caso do Brasil, analisou que a última participação forte da juventude na política ocorreu com a geração dos ;caras pintadas;, que foram às ruas pelo impeachment de Fernando Collor, da Presidência da República (1992).

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Por isso, reiterou que a desmotivação é uma tendência geral do mundo, que vive uma situação que, ;para o jovem, é relativamente confortável;. Segundo o professor de pós-graduação em ciência política da UFF, há uma ideologia espalhada no ar, que se denomina pós-modernismo, onde se cultiva muito o individualismo, em vez das preocupações coletivas e sociais. E isso tudo influencia o comportamento juvenil. ;Por isso, não é de se estranhar que haja essa desmotivação;, declarou.

Vinicius de Sá Machado foge a essa regra. Morador de São Gonçalo, na região metropolitana do Rio de Janeiro, o estudante de 17 anos lamentou ter perdido o prazo para tirar o título de eleitor para poder votar no próximo domingo (7). Ele se definiu motivado. ;Os candidatos todos despertam o interesse. Mas muitos prometem e não fazem nada;, disse à Agência Brasil. ;Eu queria votar para ajudar a minha cidade;, acrescentou.

O presidente da União Nacional dos Estudantes (UNE), Daniel Iliescu, chamou a atenção para o fato que apesar de o número percentual de jovens entre 16 e 18 anos incompletos com inscrição eleitoral não ser tão expressivo, ;ano a ano, nas eleições, nunca tantos jovens estiveram aptos a votar;.

De acordo com o Tribunal Superior Eleitoral (TSE), o número de brasileiros de 16 e 17 anos que têm inscrição eleitoral subiu de 2.391.092, em 2010, para 2.913.627 este ano. O mesmo ocorreu em relação ao estado do Rio de Janeiro, onde o número de eleitores nessa faixa etária evoluiu de 103.948, na eleição de 2010, para 117.988, em 2012.

Iliescu observou que ao mesmo tempo é grande o número de candidatos jovens. ;No geral, vai ser uma eleição que tem recorde de participação de jovens, tanto em eleitores, como em candidatos;. Por essa razão, definiu como relativo o dado que aponta uma desmotivação dos eleitores de 16 e 17 anos para o pleito deste ano.

Destacou que o voto para menores de 18 anos foi um direito conquistado na Constituição de 1988. ;É um direito caro para o país e uma forma importante de os jovens entrarem em contato com a cidadania e com seus deveres enquanto cidadãos para opinarem sobre a política em seu país;.

A UNE pretende trabalhar para que os jovens ;agarrem esse direito com mais expressão;. A impressão do presidente da entidade estudantil é que existe um certo desencanto, uma rejeição à política, diante do atual cenário político nacional. ;Mas, por outro lado, existe cada vez mais entre os jovens a noção que a política ajuda a mudar as coisas;.

Entre as políticas públicas que obtiveram sucesso nos últimos tempos, citou como exemplo a questão das cotas. A percepção, explicou Iliescu, é que o jovem, ao prestar mais atenção no debate eleitoral, pode mudar as coisas no Brasil, ;devido à vigilância da sociedade contra a corrupção;.

;Se por um lado existe uma certa rejeição à política, eu entendo que ela vai cedendo espaço, cada vez mais, a uma vontade do jovem de participar mais das coisas;. O presidente da UNE estimou, porém, que serão necessárias mais algumas eleições para que essa participação da juventude na política possa se tornar mais nítida;.

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