Politica

Após votação secreta, Renan Calheiros volta à presidência do Senado

O senador ocupa o cargo para o qual foi obrigado a renunciar em 2007, após denúncias de que um lobista pagara contas pessoais dele

Paulo de Tarso Lyra
postado em 01/02/2013 14:29
O senador Renan Calheiros (PMDB-AL) foi eleito, nesta sexta-feira (1;/2), o presidente do Senado Federal. A vitória avassaladora - com 53 votos, contra 18 para o senador Pedro Taques (PDT-MT)-, já era esperada pela maioria dos parlamentares e até mesmo pelo concorrente, que discursou hoje em plenário como ;titular da perda anunciada;, nas próprias palavras dele. Foram contabilizados dois votos em branco e dois nulos. No total, 78 senadores votaram. Faltaram à votação os senadores Humberto Costa (PT-PE), Luis Henrique (PMDB-SC) e João Ribeiro (PR/TO). Com a vitória, Renan agora retoma o cargo para o qual foi obrigado a renunciar em 2007, para fugir da cassação.

Terminada a contagem de votos, Calheiros fez o primeiro discurso como presidente da Casa, no qual defendeu a modernização constante do Legislativo. "Temos agora a oportunidade de aprofundar a mudança de costumes e práticas. O Senado precisa se modernizar e se abrir ainda mais à sociedade;, disse.

A vitória avassaladora - com 53 votos, contra 18 para o senador Pedro Taques (PDT-MT)-, já era esperada

Calheiros ressaltou que sua gestão será pautada no diálogo, equilíbrio, transparência e respeito aos parlamentares. Disse também que, a partir de agora, o Senado e o Congresso não serão mais ;subalternos;. ;Não acredito na política do fim do mundo, mas também não é o fim do mundo o Senado derrubar vetor presidenciais;, acrescentou ao afirmar que tratará de criar mecanismos para limpar a pauta de vetos. ;Teremos um Legislativo mais forte;.

PERFIL - RENAN CALHEIROS

;Em política, se morre muitas vezes;
Em 1885, foi inaugurada uma linha de trem ligando Recife a Maceió. A última estação, já em solo pernambucano, é Quipapá, usada em uma piada popular no Nordeste, que se aplica à carreira política de Renan Calheiros. Um passageiro, sem bilhete, foi expulso por seguranças do vagão, mas insistiu e entrou no seguinte. Acabou retirado novamente e entrou em outro vagão. Mais sopapos dos fiscais. De tanto vê-lo sendo agredido, uma senhora se compadeceu. ;Meu filho, até onde o senhor vai apanhando desse jeito?; E ele respondeu: ;Se meu pescoço aguentar, eu chego até Quipapá;.

[SAIBAMAIS]Renan aprendeu a fazer política em silêncio, pois sabe que precisa ter um pescoço firme para apanhar. Costuma dizer aos aliados que faz reuniões à noite, ;depois que os jornais fecham, pois sabe que reuniões públicas servem de pauta para a imprensa;. Prefere encontros em residências de aliados, regados a bons vinhos e muita, muita conversa. E só entra em reuniões com tudo acertado anteriormente.

Também foi apelidado de ;fígado de aço; porque, por pragmatismo, alia-se, sem qualquer remorso, com quem brigou no passado. Perdeu muito após o rompimento com Fernando Collor, em 1990, e com a renúncia à presidência do Senado, em 2007. Tenta, agora, voltar aos holofotes. E cita uma frase de Getúlio Vargas: ;Em política, se morre muitas vezes;. (PTL)

Linha do tempo
Confira a trajetória política de Renan Calheiros


; Fim da década de 1970. Líder estudantil na adolescência, presidiu o diretório acadêmico da área de ciências humanas e sociais da Universidade Federal de Alagoas. Filiou-se ao MDB, de oposição ao regime militar.

; Em novembro de 1978, candidatou-se e foi eleito deputado estadual pelo MDB.

; Entre 1980 e 1981, após o fim do bipartidarismo, foi líder da bancada do PMDB na Assembleia do Estado de Alagoas. Chamava o então prefeito de Maceió, Fernando Collor de Melo, de ;príncipe herdeiro da corrupção;.

; Em 1982, mudou-se para Brasília após ser eleito deputado federal e se formou em direito pela Universidade Federal de Alagoas.

; Em 1985, perdeu para Djalma Falcão a disputa interna para ser candidato à prefeitura de Maceió. Virou presidente regional do partido, com o apoio do usineiro João Lyra.

; Reeleito em 1986 para deputado federal com a maior votação do estado.

; Em junho de 1988, tornou-se um dos fundadores do PSDB.
; Deixou o PSDB em 1989 para se filiar ao PRN e ser assessor pessoal da candidatura de Fernando Collor à presidência da República (foto).

; Em 1990, tornou-se líder do governo no Congresso. Perdeu para Geraldo Bulhões a disputa pelo governo de Alagoas. Acusou Bulhões, aliado de Collor, de fraude nas eleições estaduais de 1990. Paulo César Farias foi o tesoureiro de Bulhões. Abandonou o PRN, acusando Collor de traição.

; Em 1992, acusou PC Farias de montar um governo paralelo e ajudou no pedido de impeachment de Collor.

; Entre 1993 e 1994, tornou-se vice-presidente executivo da Petrobras Química SA (Petroquisa).

; Em outubro de 1994, elegeu-se senador, com 235.332 votos.

; Em abril de 1998, com o apoio do senador Jader Barbalho, tornou-se ministro da Justiça de Fernando Henrique Cardoso. Deixou o cargo em julho de 1999.

; Em 2002, com José Sarney, apoiou a vitória de Luiz Inácio Lula da Silva.

; Em 2005, elegeu-se presidente do Senado.

; Em outubro de 2007, teve que renunciar ao cargo, após denúncias de que um lobista pagara contas pessoais. O capítulo final foi a apresentação de notas frias de vendas de cabeça de gado para justificar a renda. Fez o anúncio em rede nacional de tevê (foto).

; Em 2010, reelegeu-se para mais oito anos no Senado.

Com informações de Paulo de Tarso Lyra e Karla Correia

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