A ampla sala da Casa 14 de um conjunto residencial do Lago Sul não recebe mobília definitiva há mais de um ano. A brancura das paredes é quebrada por cartazes de manifestações e bandeiras de movimentos sociais dispostos no ambiente. As bandeiras dos movimentos Sem Terra e Sem Teto dividem espaço com um cartaz de cores verde e rosa, em que o símbolo do sexo masculino é adornado pelas palavras ;homem, deixe o feminismo te libertar;. Em um tripé mais adiante, um banner ostenta o slogan dos jovens moradores da Casa 14: ;Imaginar para revolucionar;. Eles têm entre 22 e 26 anos. Quando mudaram para o imóvel de dois pavimentos, na tranquila rua da quadra QL 28, os rapazes pretendiam passar por uma vivência política intensa. Integrantes do Brasil e Desenvolvimento (BeD), grupo político que nasceu no universo estudantil da Universidade de Brasília (UnB), sonhavam interferir na realidade política e social do Brasil. ;Revolução;, dizem, ;é lutar por uma nova política, mais inclusiva e participativa, mais justa e mais humana;.
O BeD funciona num modelo de coletivo voluntário, participativo e suprapartidário que não só é espelhado na agenda política do país, como ajuda a pautar agentes políticos, a imprensa e a própria academia. Formato que vem ganhando força e espaço no país, é movido por pessoas que querem interferir nas tomadas de decisão do poder, fiscalizar a atuação dos eleitos para representar o povo e propor mudanças ao ordenamento jurídico. Muitas vezes, não têm sede própria nem fontes de recursos que não sejam as próprias carteiras. Não à toa, o salão da Casa 14 chamou tanto a atenção de seis amigos que integram o BeD. Quando decidiram mudar para lá, eles já tinham a ideia de transformar aquele espaço em um lugar de discussão e troca de conhecimento, assim como a rede mundial de computadores.